quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Se um marciano numa noite de verão


Pois: se um marciano numa noite, tarde, manhã de verão aportasse por estas ribeyras muito se maravilharia com encantos que desconfio noutras terras não existem. A começar pela decoração de Natal deste ano – ano este, diga-se de passagem, que finda em seus estertores e suspiros finais com a sofreguidão dos assuntos mal-resolvidos, o que inclui quem apóia quem em 2010.

Mas, nunca é demais falar da decoração natalina 2009, que mistura o chocolate quente de Gramado com as quenturas dos Currais Novos, numa liga que não condiz nem a um nem a outro. Nosso amigo marciano, aliás, estacionaria seu disco voador tranquilamente em qualquer um dos lados da Avenida Afonso Pena, nossa Oscar Freire local, já que o propagandeado Via Livre prefere dar polpudos prêmios jornalísticos [sic] invés de realmente ser implantado onde mais se faz necessário.

O secretário municipal de serviços urbanos já declarou que “basta que a população aguarde a decoração ficar pronta”, numa lógica sem lógica que o produto final vai ficar melhor que o (péssimo) impacto inicial.

Pois, flanando pela Afonso Pena, entre um ligeirinho e outro, cada um dirigindo pior, nosso marciano já pode observar que todo o troço vai ficar ainda mais horroroso. Anjinhos encarnados, dependurados nas árvores, dividem os galhos com sóis, que alguém mais atento já acenou para a possibilidade de estarem sob o efeito de qualquer substância ilícita e entorpecente.

– Emaconhados – como se dizia uma época, sem meias-tintas, enfim.

O pior é que o pessoal da Semsur alertou que a equipe de designers [sic] está aqui desde maio, preparando essa marmota (não há termo melhor, nem mais nordestino).

O marciano também vai se inteirar que o tema do Auto de Natal deste inesquecível Zero-Nove será “Maria, José e o Menino Deus”, o que é de uma originalidade imensurável. Os direitos de transmissão para o SBT devem estar assegurados, seguindo o raciocínio do autual, digo, atual presidente da Funcarte.

O marciano também vai se maravilhar com o fato de que a poda das árvores da Afonso Pena também está sendo feita concomitante ou após a implantação dos penduricalhos, o que prova que a amizade desta Cidade com Portugal vai de vento em popa.

Na contramão da burrice, o marciano há de passar na Banca de Tota – que ele, a propósito, pensará ser a única existente na City, enquanto citada por dez entre dez colunistas e blogueiros (não é engraçado ler notinhas tipo “a última Vogue está uma maravilha e já chegou na banca de Tota”? – como se não chegassem, esta e outras publicações, nas demais bancas). Pois, lá na banca Cidade do Sol, o marciano vai saber que vem novo jornal por aí, nova revista por aí, e novas eleições ano que vem. Também.

Só não vai saber que tampouco há novidade alguma nisso tudo ou em nada disso, pois não é do hábito dos nativos se empapuçarem nem de Iessiênin, quanto menos de Giuseppe Tomasi di Lampedusa – “Se queremos que tudo fique como está, é preciso que tudo mude” (e, no original, pra eu me mostrar: “Se vogliamo che tutto rimanga come è, bisogna che tutto cambi” ). Pois.

*

saudades

O sobrescrito, com o coração compungido, agradece os muitos votos de solidariedade, elogios etc. por ocasião da minha saída deste matutino (faltam apenas três dias). Vamos, pois, de versinhos: “Até logo, até logo, companheiro, / Guardo-te no meu peito e te asseguro: / O nosso afastamento passageiro / É sinal de um encontro no futuro.” – Sierguéi Iessiênin, traduzido por Augusto de Campos.

Crer ou não crer

Dentro da programação do Centro Cultural Banco do Brasil Itinerante (aliás, assessorias, não existe “intinerante”), Cleyde Yáconis comanda o elenco da peça “O caminho para Meca”, texto do sul-africano Athol Fugard, sobre uma mulher – segundo o sítio do espetáculo – “de costumes conservadores e culto obrigatório da fé protestante”, que, um dia, “ao descobrir nunca ter amado o bom homem com quem foi casada, abandona a igreja dos domingos porque deixou de crer”.

De 13 a 15, no TAM, sempre às 20h. Ingressos a R$ 15,00 (inteira) e R$ 7,50 (meia – para estudantes, idosos, clientes e funcionários do Banco do Brasil).

Cascavel

A foto que ilustra a coluna hoje não tem nada a ver com marcianos nem sóis emaconhados: é Gisele Bündchen retratada por Mark Selinger, em foto que desde ontem está sendo leiloada na internet (www.artnet.com) e deve alcançar a bagatela de nove mil dólares. São 375 retratos de celebridades e nem tanto, incluindo as dez últimas fotos de Marilyn Monroe e um clássico retrato de James Joyce (estimativa de venda 3,5 mil dólares – o que não deixa de ser uma vergonha e uma lição para escritores empedernidos: uma Gisele vale três vezes mais que o autor de “Ulysses”).

Prosa

“Tomou então a fotografia, e particularmente o retrato fotográfico, no segredo da pose, nos claros-escuros do sonho, na personalização procurada pela anedota caseira, um ar de sociologia ilustrada”

Oswald de Andrade

Ponta de lança

Verso

“A estação das coisas estranhas / acentua-se.”

Marize Castro

“Grinaldas virão...”

Um comentário:

  1. marmota é mesmo a expressão perfeita pra definir os sóis emaconhados e cia.
    lissa

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