quarta-feira, 4 de novembro de 2009

A cura através da leitura


A idéia original, não é difícil deduzir, deve ter vindo do mítico número 100 – ou 1.000. Talvez o mais famoso aquele “1.000 lugares para conhecer antes de morrer”, de Patrícia Schultz, que, lançado em 2006, vendeu feito água em mais lugares que aqueles que a autora aponta no título.

Pois, ano passado, a jornalista e romancista francesa Stéphanie Janicot resolveu escrever e apontar “100 romans de première urgence pour (presque) tout soigner” (ou seja, 100 romances a serem lidos como primeiros-socorros para curar tudo, ou quase tudo).

E como tudo nesses tempos moderníssimos e velozes tem nome, o tratamento também tem – chama-se “biblioterapia”.

Janicot tem solução pra tudo – a leitora não sabe o que significa orgasmo? Pois, invés de remédios antidepressivos, o autor recomendado é Yukio Mishima, e o livro (ou novela), “Música” (que eu sinceramente desconheço), mas que a autora diz tratar-se da história de uma paciente psiquiátrica incapaz de ouvir música até que o médico diagnostica uma frigidez e blá-blá.

O leitor enfrenta problemas com a impotência? “Au-delà de cette limite votre ticket n’est plus valable”, do francês Roman Gary, associado a “O sol também se levanta” de Ernest Hemingway, pode ser mais eficaz que um comprimido de Viagra.

Stefan Zweig é recomendado para quem tem problemas com abuso de álcool ou drogas – não “Brasil, um país do futuro”, mas “Vinte e quatro horas na vida de uma mulher”, o romance. Não funcionou? Tente “A consciência de Zeno”, do italiano Italo Svevo, ou “À sombra do vulcão”, de Malcom Lowry (ou ainda o russo Mihail Ageev e seu “The cocain romance”).

O negócio (embora me pareça uma grande idiotice) está se espalhando pela Europa – na Itália tem até um sítio na internet, o www.biblioterapia.it, aos cuidados da psicóloga Rosa Minimmo que nos informa – obrigado – que ler “ajuda a pessoa que sofre a refletir sobre si mesma, potenciar suas capacidades cognitivas e emotivas, adquirir consciência e elaborar estratégias para gerenciar o próprio sofrimento”.

Enquanto isso, por estas ribeyras, tem colunista que delira, delira, delira e parece ter surtado há tempos. A pesquisar na lista dos 100 romances catalogados pela colega Stéphanie Janicot se há algum indicado para mal-amadas, despeitadas e que tais. Como ela gosta de falar do que não sabe, e sua leitura recorrente é a Wikipédia, desconfio que o remédio que resta seja uma camisa-de-força.

*

indagação

“Meu caro Mário Ivo, Foi com tristeza que tomei conhecimento da sua saída deste jornal. Agradeço mais uma vez as publicações de duas crônicas minhas no seu conceituado ‘Café da manhã’, um dos fatos que me incentivou a publicar, no próximo ano, meu primeiro livro, que terá como temas principais o rei Roberto Carlos, o Alecrim FC, o ano de 1968 e a cidade de Pau dos Ferros. Gostaria de saber se você está indo mesmo para o jornal de Cassiano Arruda. Caso seja desejo boa sorte e certamente continuarei como seu leitor.” – do leitor José Normando Bezerra.

explicação

Meu caro Normando, quem tem muita coisa a agradecer – a você e a outros leitores – é tão somente o sobrescrito. Aliás, agradeço inclusive a oportunidade da sua pergunta para esclarecer alguns pontos, que talvez atenda a outros também: estou saindo deste jornal simplesmente porque mudanças realizadas pela direção não me contemplaram mais em sua nova estrutura. Tenho, com a família proprietária, nas pessoas de Marcos Aurélio de Sá, Sylvia Sá e Marcelo Sá, as melhores relações, profissionais e cordiais. Durante esses quase dois anos foi assim, e assim será, mesmo não mais participando, pelo momento, do seu projeto editorial.

Quanto ao novo jornal de Cassiano Arruda Câmara, a verdade é que nunca recebi nenhum convite formal nem espero receber.

Um abraço.

Além do horizonte

Mas, aproveitando a deixa e o fato que você é fã de Roberto Carlos, meu caro Normando, além dos citados horizontes, existem outros horizontes, também: quem quiser me seguir (não perseguir), estrearei um novo sítio na net, além dos já conhecidos embrulhandoopeixe e cidadedosreis. Um dia me definiram como um “general sem exército” – talvez chegou a hora de assumir isso.

delírio

Sob o caudaloso e indagador título “O delírio de onipotência da Camorra napolitana no livro Gomorra, de Roberto Saviano – um espelho para a sociedade brasileira?” tem início o primeiro debate de um ciclo de encontros promovido pelo Centro di Cultura Italiana MadrelinguA sobre a identidade italiana.

Na livraria do Midway.

Ghq.com.br

Já na rede o novo sítio da Garagem Hermética Quadrinhos – entre os destaques uma entrevista com Gabriel Bá e Fábio Moon. Lá pras tantas, comentam a solução para melhorar o quadrinho nacional: mais produção – “Claro que com mais produção, virão mais erros, mas esses erros vão resultar em mais acertos, que é a evolução natural do artista que começa trabalhando, aí vai amadurecendo e melhorando e evoluindo.”

Prosa

“Quem deverá conhecer esta noite a alegria, alcançar o sétimo céu, para grande humilhação de quantos me acusam de escrever coisas funéreas?”

Dino Buzzati

As montanhas são proibidas

Verso

“Para boca sedenta: / Saliva. / Para seres soltos: / Laços.”

Civone Medeiros

“Para tanto...”

3 comentários:

  1. tentei ir lá no "cidade dos reis", mas o blog está fechado, só entram os convidados. era só pra dizer que concordo com o normando: uma pena a saída da sua coluna.
    Lissa

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  2. em verdade, em verdade, lissa, só entra eu na cidadedosreis - por q? nada, deu a doida, fiquemos com essa explicação. mas em breve volta o acesso livre. qto aa minha saída, tb sinto pena. (não suma.)

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  3. (quis dizer: não suma vc - acho q deu p entender, mas não custa reforçar) - abs

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