segunda-feira, 16 de novembro de 2009

2009, o ano que marcou o jornalismo potyguar


Foi por pouco, muito pouco. Mais exatamente questão de sete dias, uma semana: se tivessem ocorrido segunda-feira passada (9 de novembro, 120 anos do famigerado Baile da Ilha Fiscal), as duas festas de hoje à noite serviriam como metáfora perfeita pros rumos e prumos e desaprumos do – hoje também famigerado – “Jornalismo Potyguar”. Vamos manter as aspas pra realçar o aspecto abstrato, ou quase fantasmagórico do termo, expressão, definição. Uma incógnita, esse tal Jornalismo Potyguar.

As festas de hoje à noite – e o sabem dez entre dez leitores de jornais, revistas, blogs e twitters – são a deste Jornal de Hoje, sob o comando de Marcos Aurélio de Sá, e a do Novo Jornal, sob o comando de Cassiano Arruda Câmara.

Não acontecem nem no mesmo dia, nem na mesma noite, nem no mesmo horário, à toa. Quem acreditar em coincidência corre o risco de pecar não por ingenuidade, mas por ignorância, ou burrice, mesmo.

É o começo de uma guerra que, se o sobrescrito fosse um sujeito bonzinho e diplomático, disposto a agradar gregos e troianos, se apressaria em apontar entre as hordas cada vez mais minguadas do dito público-leitor seus maiores e verdadeiros vencedores.

Bobagem.

O jornalismo praticado neste Ryo Grande continua acontecendo, como quase o tudo mais, à revelia do público-leitor. E muito mais sintonizado com o fazer diário de uma política cotidiana que prefere ignorar solenemente o público-Eleitor, salvo exceção aqueles períodos eleitorais, ou eleitoreiros, pois.

A comparação com o Baile da Ilha Fiscal, claro, não deve ser tomada ao pé da letra ou da história. O original marcou o fim da monarquia e o início da República. Entrou para a história como uma espécie de precursor do Titanic, enquanto supra-sumo do absurdo: se o transatlântico vai a pique, em 1912, com a orquestra teimosamente tocando suas fanfarras, o Império Brazileyro naufraga de vez entre farta comida e bebidas, excesso de luxo e glamour, tudo embalado alegremente por valsas e polcas, em 1889.

Os anfitriões da noite de hoje sabem que o momento é delicado e dificilmente as festas serão pautadas pelo espalhafato desmedido. Cassiano Arruda foi pego de surpresa no primeiro semestre do ano com a demissão do Diário de Natal, depois de décadas de Roda Viva. Não mereceu nem mesmo uma notinha de despedida no dia seguinte. Marcos Aurélio de Sá viu-se obrigado a sepultar seu projeto de um matutino a preço mais em conta após anos de déficit comercial. Se o primeiro foi mais um entre dezenas de demitidos, o segundo viu-se obrigado, ele mesmo, enquanto gestor, a demitir outros tantos. Aliás, nunca tantos jornalistas foram demitidos neste Ryo Grande quanto neste ano de 2009, ano que viu um Novo Jornal nascer, um Jornal de Hoje renascer e um Diário de Natal definhar vergonhosamente, como um indigente sendo oferecido e disputando espaço com flanelinhas e camelôs nos sinais vermelhos.

(Há quem diga, e é verdade, que a TV Cabugi demitiu bem mais gente, alguns anos atrás – mas estamos falando aqui do velho jornalismo impresso.)

Três dias antes das festividades de hoje, em evento bem menos pomposo, ressalte-se, nasceu também outro projeto editorial que persiste e insiste no formato papel: a revista Palumbo. Não à toa, nem acaso, fruto da colaboração de outros demitidos do Diário de Natal: Albimar Furtado, Osair Vasconcelos e Afonso Laurentino (mais Dácio Galvão e Tarcísio Gurgel). O primeiro número da mensal respira inteligência e bom labor em cada uma de suas 42 páginas. Mas fica ainda a dúvida se terá fôlego pra enfrentar a incredulidade e a aparente falta de interesse dos leitores potiguares. Curiosamente, é preciso dizer, a Palumbo se propõe ao que os três antigos funcionários do DN tinham se esquecido de fazer, há muito, nas páginas do velho diário.

Voltando a falar em demissões, 2009 também foi o ano das demissões de Thaisa Galvão (do Jornal de Hoje), de Laurita Arruda (do Portal da Tribuna do Norte), e de – pasmem – Paulo Macedo. Todas as três sintomáticas. A primeira foi demitida, segundo ela mesma contou, porque a direção do Jornal de Hoje achou que assim ela poderia se dedicar mais ao seu blog. A verdade é que a jornalista, há tempos, era mais blogueira que editora do JH. Já Laurita Arruda foi demitida do Portal da TN a pedido do deputado Henrique Alves, diretor presidente da empresa jornalística, num episódio que curiosamente não teve a repercussão devida, senão no velho disse-me-disse dos cafés e self services.

Já Paulo Macedo – bem, depois de quarenta anos ele bem que poderia fazer como seu ex-colega de DN: investir o dinheiro do FGTS e apostar num novo jornal. Festa, afinal, ele sabe promover.

E, antes que me acusem de estar jogando praga contra um e outro jornal, não estou, absolutamente. Muito antes de ser jornalista, sou leitor de jornal – no formato papel-jornal, aliás. Estou apenas afirmando o óbvio: 2009 será visto, no futuro, como um divisor de águas, no bem ou no mal, para o jornalismo impresso potyguar.

p.s.

Última edição deste JH, última coluna, aos leitores, aquele abraço – me procurem em www.marioivo.com.br

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Millôr definitivo

Verso

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