quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Lavanderias familiares [e II]

Pra quem perdeu a coluna de ontem, hoje continuo contando como uma nova geração de quadrinistas decidiu lavar a roupa suja da própria família, renovando o secular gênero das histórias em quadrinhos.

Ontem, falei de “Maus”, de Art Spiegelman (publicado por aqui pela Companhia das Letras); dos livros-reportagens de Joe Sacco (“Palestina, uma nação ocupada”, “Palestina, na faixa de Gaza” e “Gorazde, a guerra na Bósnia Oriental” – todos da Conrad); e da saga familiar iraniana de Marjane Satrapi, “Persépolis” (também da Cia das Letras).

Mas, todas estas HQ aproveitam, em maior ou menor medida, o contexto histórico (o Holocausto, os conflitos no Oriente Médio, a Revolução Islâmica) como pano de fundo para seus relatos íntimos, uns mais, outros menos biográficos.

Ao contrário dos três livros que desde ontem estou tentando comentar – e recomendar pra vocês, enquanto realmente imperdíveis – mas que este enorme nariz-de-cera insiste em protelar. Pois: “Fun home: uma tragicomédia em família”, de Alison Bechdel (Conrad, 2007), “Retalhos: um romance ilustrado”, de Craig Thompson, e “Umbigo sem fundo”, de Dash Shaw (os dois últimos da Cia das Letras, 2009).

Cada um melhor do que o outro, acreditem.

“Fun home” é a história da autora e seus conflitos com a família, especialmente com a figura paterna, desde a mais tenra idade. Não é uma história comum, certo, ainda mais se levarmos em conta que a protagonista se descobre, mais tarde, lésbica, quase ao mesmo tempo em que reconhece a homossexualidade do pai.

“Retalhos” (já comentado meses atrás, aqui) é a história de um garoto tímido americano, de uma pequena cidade do interior. Os conflitos familiares continuam clássicos, intensificados pela opressão religiosa, e mais intensos emocionalmente através da figura do irmão menor – o protagonista sempre em culpa por tê-lo, em diversas ocasiões, abandonado.

Já “Umbigo sem fundo” acerta no alvo desde o início ao explorar ao máximo a primeira frase de “Anna Kariênina”, de Liev Tolstói – “Todas as famílias felizes se parecem, cada família infeliz é infeliz à sua maneira” (na tradução de Rubens Figueiredo).

O mais fantástico dos três, foi escrito por um garoto de 23 anos, o que explica, talvez, a proximidade e intensidade com as quais são narrados (e desenhados) os fatos que envolvem a família Loony, que entra em crise quando descobre que os pais, já idosos e avós, decidem se separar (segundo Shaw, o livro nada tem de autobiográfico).

Ao exorcizar o próprio passado, ao fazer um ajuste de contas consigo mesmo e com os seus, cada um desses autores termina contrariando a frase do russo – no final das contas, todas as famílias se parecem, na felicidade e na infelicidade, também.

*

engraçadinha

Engraçada essa terra ribeyrinha, entre dunas e o sal do mar: enquanto se aprende nos – hoje antigos – bancos da universidade que o cão morder o homem não é notícia, mas o contrário, sim, os jornalistas são mais notícia do que a própria.

Perdigotos

E enquanto se promete não cuspir no prato uma vez repasto, se escarra daqui e dacolá.

Jurassic park

Na outra ponta da linha, o leitor, esse ser a cada dia mais em extinção, assiste a tudo – ou não assiste – indiferente.

Quem sabe aguardando a reinvenção da roda.

tsé-tsé

Como a maré não está pra jornalista, quem sabe hibernando no novo Instituto do Sono, a ser inaugurado em breve – talvez daqui a alguns anos as coisas melhorem.

Sexagésimo

Iaperí Araújo aproveita o título de cidadão natalense, que recebe logo mais, 18h, na Câmara Municipal, para lançar seu 60o livro, “No rastro dos cangaceiros”, edições Sebo Encarnado.

Médicos sem fronteiras

Coincidentemente, não será o único médico a receber o título: Aldo Medeiros, da UFRN, Geraldo Ferreira, presidente do SINMED e Milton Marques, reitor da UERN, também vão dormir cidadãos desta Capital.

Peixinhos

O Poticanto de logo mais à noite reapresenta Sílvia Sol interpretando canções de Júlio Lima. Sol é filha de Reinaldo Azevedo, da Banda Anos 60, e Lima é filho do finado Carlão.

No Teatro de Cultura Popular Chico Daniel (TCP), 20h, de grátis.

Prosa

“Você se equivoca por completo se acredita que, por amor e fidelidade, eu faço tudo pelos outros, e por frieza e traição, não faço nada por você e pela família.”

Franz Kafka

Carta ao pai

Verso

“Nesta Vida tão breve / De que nos dão só um gole / Quanto – quão pouco – está / Sob o nosso controle.”

Emily Dickinson

“Nesta Vida...”

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