sexta-feira, 30 de outubro de 2009

De burrices e canalhices


“Posso ser burro e meio canalha, mas uma coisa eu aprendi: gato ou gata não entendem ironia ou sarcasmo.”

A frase foi pinçada de um texto de Ivan Lessa, publicado no sítio da BBC Brasil, direto de Londres, ant’ontem.

Fora do contexto (vão lá e leiam), que sentido tem?

Nenhum, ou todos, que o leitor é voz ativa nesse processo de comunicação.

Há dias em que a gente escreve alhos e alguns leitores entendem bugalhos. Noutros a gente escreve bugalhos e uns, mais burros, entendem aquela palavrinha feia no plural.

Tem leitor burro? Tem, sim senhor. Tem ainda os que, além de burros, são mal-intencionados – o hífen de mal-intencionados pode até ter sumido mas as más intenções continuam. E quando são boas, claro, são más também.

É claro que o distinto senhor, a aprazível senhora, que me lêem agora, não vestiram a carapuça. Nem motivos têm. Ou não. A burrice do vizinho é como a grama: verdejante e sincera.

Enfim, ando meio confuso enquanto traço essas bem-traçadas linhas, sem régua ou compasso. Desenho à mão livre, mesmo, sacam?

É que ando, mais que confuso, cansado da canalhice alheia. Da burrice, não, porque a burrice é intrínseca. Já a canalhice é adquirida. Trabalhada. Lapidada. Estudada. Tem gente que tem até PhD em Canalhice. Este Ryo Grande tem uma ruma deles. E delas, também, que eu sou um defensor incondicional da igualdade dos sexos.

Por exemplo, quando Lessa se declara “burro e meio canalha”, ele na verdade está ironizando e sacaneando com outro tipo de burro e outro tipo de canalha que não conseguem entender como alguém se declara burro e canalha. Mesmo que pela metade, no caso do segundo adjetivo.

Porque os verdadeiros burros e canalhas nunca estufarão e peito e se assumirão como tal e por inteiro. Até que encontram alguém diante deles com a ousadia inesperada de chamá-los tal qual são:

– Burros.

– Canalhas.

*

Pop art

As obras do artista plástico (e publicitário) Chico Quevedo chegam a esta City diretamente de Pelotas (onde nasceu) e Criciúma (onde trabalha) no formato de pôsteres – comercializados com exclusividade pela Fast Frame (Dão Silveira Mall).

Pop art II

Enquanto isso, muito além da corrente, a www.artnet.com dá início a um leilão on line de arte moderna e contemporânea. Os ricos desta Capital bem que podiam fazer seus lances – tem obras de Andy Warhol (lance inicial de 40 mil dólares), Keith Haring (95 mil), Nam June Paik (160 mil), e uma belezura de Man Ray por apenas US$ 11,5 mil. Mais barato só um Duchamp (2,8 mil) e um objeto estranho de Yoko Ono (1,8 mil) intitulado “Mend piece for John”.

Carrapetas

DJ Macacco volta às ativas amanhã, sábado, no Bule Café (Av. Airton Sena do Brazil), acompanhado de Os Bonnies – e avisa: “destruindo toda forma de dançar”.

SOM

A Camarones Orquestra Guitarrística é a atração do Som da Mata no próximo domingo, primeiros de novembro, no Parque das Dunas, 16h30, ingressos – sempre é bom lembrar – pela merreca de R$ 1.

Men sana

Marcada para o próximo 9 de novembro uma audiência pública para debater os serviços de saúde mental deste distinto Município. Na luta e na cobrança pelos ajustes de conduta da Prefeitura, os vereadores Franklin Capistrano e Hermano Morais, mais a promotora Elaine Cardoso. Ao menos dois CAPS (Centros de Atenção Psicossocial) deveriam ter sido instalados este ano – que, como se sabe, se encerra dentro de dois meses.

mente insana

“Sou um crítico contundente dos Autos [de Natal] anteriores. Fizeram coisas que fugiram à essência: um Auto contado por [Newton] Navarro... Como jornalista quis apoiar, tentei levar para o SBT nacional, mas ninguém queria porque era um espetáculo circense, sem compromisso com a história de Natal.” – a melhor coisa que o Diário de Natal publicou nos últimos meses: a fala do neo-presidente da Funcarte e sua idéia de compromisso com a “história de Natal”.

Quer dizer que agora a cultura potyguar vai ser pautada pelo padrão Silvio Santos de qualidade?

Segurem esse rapaz, senão é capaz de ele cuspir no túmulo de Navarro e outros mortos. Ou fazer coisa pior.

Aquele abraço

Diógenes da Cunha Lima liga, todo animado e feliz, contagiante. Me lê uns versos de Hilda Hilst. Ri. Sorri. Ri novamente. Fica de mandar os versos por email, para publicação. Não manda. Que importa? Ser poeta da alegria é muito mais importante.

Prosa

“O teatro do mundo tem palco e bastidores. As palmas da platéia festejam somente os dramas encenados.”

Miguel Torga

Bichos

Verso

“Senhor, mercantilizaram a vida, / com escassez geral da alegria.”

José Bezerra Gomes

“Com a melancolia...”

Nenhum comentário:

Postar um comentário