segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Além de bastardos, inglórios


A maior sacada do senhor Tarantino começa pelo título do seu mais recente filme, pois.

A segunda, não se levar mais tão a sério, coisa que andava fazendo derna que passou a ser o queridinho não apenas dos nerds do planeta, mas da indústria cinematográfica mundial – o que inclui a porção mais cult das Oropa (vide Cannes, Venezia etc.). No festival de cinema francês, cinco anos atrás, chegou a ser presidente do júri.

A verdade é que Tarantino tava acertando tanto, que o que antes fazia naturalmente começou a virar fórmula pronta. Tipo farinha láctea. Mexeu, virou, tá pronto.

O segredo de “Bastardos”, além de não se levar nem um pouco a sério, é usar os mesmos ingredientes que caracterizam a sua filmografia, mas distorcer a receita original. Os diálogos caudalosos permanecem, agora mais maduros, com menos sacadas fáceis. A violência continua imperando, mas busca muito mais a ironia através do absurdo do que o choque pelo choque. A trilha sonora – que antes chegava a parecer o verdadeiro motivo de alguns dos seus filmes – está muito mais discreta e parcimoniosa e voltou ao segundo plano ao qual deve realmente pertencer. Os atores e atrizes estão efetivamente melhores, com interpretações mais maduras e menos histriônicas. Ao ser servido às massas, se não é necessariamente um biscoito fino, rende uma porção de ótimas risadas, muitas das quais incontroláveis.

“Bastardos inglórios”, aliás, é a antítese perfeita de “O anticristo” (vide coluna de quinta passada): altamente recomendável assisti-los nessa seqüência – primeiro a barra pesada de Von Trier, depois os delírios engraçados de Tarantino. Ri melhor quem ri por último, não custa lembrar.

*

happening

“Eu sinto que fracassei, pois desde que me aposentei minha missão era cuidar da obra dele. Eu me sinto péssimo.” – do irmão de Hélio Oiticica, após o incêndio que consumiu a casa da família, sexta passada, destruindo 90% das obras ali conservadas e avaliadas em 200 milhões de dólares.

To be

Oiticica (1937-1980) é um dos personagens libertários da última edição da revista Mag, que trata da Liberdade. Em 1971, Torquato Neto publicava na sua coluna Geléia Geral, da Última Hora, carta do artista enviada de Nova York: “... estou vivo, falando. Quem não souber o que digo, que se cale e não encha o saco; me esqueça, eu não existo.”

rive gauche

Faço minhas as tuitadas de Alex Medeiros semana passada:

“Pois eu já acho que Natal jamais teve engenheiro de trânsito. E tb acho que tá faltando multar vagarosos na faixa esquerda”.

“Assim como se multa o excesso de velocidade, merecem multas tb as antas que se arrastam pela esquerda atravancando o trânsito de Natal.”

“Em todo o mundo, a faixa da esquerda é ágil, até enterro respeita isso e segue pela direita. Natal imita Londres, só que mal”.

conselho

“Que é bom desconfiar dos bons elementos” – da cantora Céu, em “Sonâmbulo”. Do último disco “Vagarosa”.

das kapital

Alguém já reparou que o Midway Mall tirou as tomadas da sua Praça de Alimentação? Imagino que o motivo foi evitar que os barnabés que usam esse tipo de ambiente como escritório ou estação de trabalho não possam mais recarregar seus laptops, diminuindo assim o tempo gasto por ali sem, efetivamente, gastar nada– além da energia do mall.

for all

Já ouviram a banda Forro in the dark? O “forro” aí é na verdade com acento agudo no “o”.

Ao descrever forró como “the hip-swiveling, dancefloor-filling, rural party music of Brazil’s northeastern states”, os integrantes da banda (os brazucas Mauro Refosco, Davi Vieira, Guilherme Monteiro e Jorge Continentino) ao menos não se saíram com a clássica e monótona explicação que a palavra vem de “for all” etc.

Nos próximos dias, até novembro, os meninos, radicados atualmente em New York, tocam nos EUA, claro, mais Turquia, Suécia, Finlândia, Bélgica, Alemanha e Inglaterra.

Prosa

“Na mão eu não tenho nada, todos os pássaros estão voando e no entanto eu preciso – assim o determinam as condições da luta e a miséria da vida – escolher o nada.”

Franz Kafka

Carta ao pai

Verso

“E se ambos somos Rei / Que outro Fim / Salvo abdicar- / Me de Mim?”

Emily Dickinson

“Banir a mim”

Nenhum comentário:

Postar um comentário