terça-feira, 13 de outubro de 2009

Adivinhe quem vem para o café-da-manhã: Henrique José

Cultura 101009

Henrique José se apresenta como repórter fotográfico, artista multimídia, educador e professor universitário. São as muitas facetas de alguém que inegavelmente será reconhecido no futuro como o principal criador de uma ONG – a ZooN – que tem motivos de sobra para comemorar 15 anos promovendo a fotografia neste Ryo Grande. Eis um pouco de sua história em menos de mil palavras:

15 anos promovendo a fotografia

A fotografia difundida no século XIX representou uma mudança cultural radical na humanidade, estando ao longo do século XX associada diretamente a todas as expressões de vanguarda e inicia, neste século XXI, como símbolo da nova cultura digital. Posiciono-me na geração que é simultaneamente o desdobramento de nossa tradição estética visual, que vem de Palatnik ao Poema processo e a Poesia Visual, seguindo as escolas de vanguarda na arte contemporânea, até a afirmação do novo paradigma digital, que inaugura um momento diferente na forma, no conteúdo e na difusão das artes visuais, especialmente a fotografia. Portanto, viver esta transição é algo especial, pois ao mesmo tempo em que experimento o novo e suas possibilidades, sou herdeiro dos químicos fotográficos, e por isso sei que o mundo existia antes do celular e da internet (com outra velocidade) e a manipulação de imagens não começou no photoshop.

Quando cheguei, com uma imagem manipulada digitalmente e não impressa em papel fotográfico, para uma exposição coletiva de fotógrafos na cidade em 1996, tive que justificar que aquilo poderia ser chamado de fotografia e caberia ser incluída na mostra. Com caras torcidas, fui aceito, e, hoje, mais de 10 anos depois, vejo estes colegas empenhados em trabalhar com suas máquinas digitais de megapixels... Durante alguns anos, mantive um laboratório preto e branco, prestando serviços de cópias fotográficas com uma qualidade artística para os profissionais participarem de concursos e exposições. Certo dia, cansado de trabalhar na luz vermelha, resolvi vender o laboratório P&B e comprar um computador, talvez esta ação radical em 1997, tenha reflexos até hoje no meu trabalho, principalmente porque, atualmente, como professor universitário, ensino no laboratório e no computador as bases conceituais e estéticas da fotografia jornalística e publicitária.

Ao realizar um olhar retrospectivo dos 15 anos da ZooN (www.zoon.org.br), comemorados em 19 de agosto de 2009, vejo como fundamental a existência e principalmente o amadurecimento e a sobrevivência de entidades e grupos culturais, mostrando o desenvolvimento do setor e o profissionalismo cada vez mais necessário. Nascer informal e crescer é um bom caminho. Quando resolvemos legalizar a ZooN como uma entidade cultural em 19 de agosto de 1997, não tínhamos muita idéia do que vinha pela frente, de burocracias jurídicas e contábeis à necessidade de conhecer e elaborar projetos culturais, captar recursos e produzir profissionalmente cursos, eventos e exposições. Com certeza não foi nem é tão fácil, mas não é impossível, e temos que estimular que coletivos se constituam e se fortaleçam como entidades e empresas. Este é o caminho para o fomento da arte e da cultura local.

Hoje a ZooN se consolida como uma das entidades atuantes na área das artes visuais e audiovisuais do estado: conquistamos recentemente mais um prêmio nacional do Ministério da cultura, o prêmio ASAS, para os Melhores Pontos de Cultura do Brasil, que irá dar a condição material necessária para vôos mais altos.

Surgimos no início dos anos 90, como um coletivo de fotógrafos preocupados em movimentar a arte da fotografia na cidade e dialogar com outros grupos e com o espaço urbano. Éramos então um grupo de fotojornalistas e artistas da imagem que pensaram em fundar uma agência, ao mesmo tempo em que buscavam na afirmação da fotografia como expressão artística seu espaço no cenário cultural (Marcelo Andrade, Rosa Maciel, Ana Potiguar, Henrique José, Max Pereira, Keila Sena, Renato Medeiros e outros). Como jovens inexperientes, começamos informalmente no fundo de quintal (na casa de meu pai no Tirol), organizamos mostras de slides, bate papos, intervenções urbanas, festas, exposições, intercâmbios e naturalmente fomos percebendo a necessidade de legalizar, não mais uma empresa de fotografia, mas uma entidade cultural que pudesse reunir a captação de recursos, a formação e a difusão da fotografia na cidade.

Até hoje a cidade carece de uma galeria específica para a fotografia e ainda não dispomos de um museu da imagem e do som capaz de reunir o acervo de nossa memória visual. Vejo que esta necessidade da cidade não é uma luta só da ZooN e dos profissionais locais, mas deve ser de toda a cidade.

Fundamos nossa galeria virtual na internet em 1997. Ao longo destes anos reunimos um acervo considerável de fotografias, obras, máquinas, revistas, livros, filmes, CDs etc. sobre artes visuais. Nossa meta para 2010 (com a verba do prêmio ASAS) é organizar, digitalizar e disponibilizar este acervo na forma de uma Biblioteca Multimídia (MEDIATECA), em nossa sede, no Edifício 21 de março, e na internet. Outra ação será investir em uma estrutura própria de expositores e painéis multimídia da nossa Galeria Móvel, dando visibilidade a nossa produção local.

Natal e o estado têm profissionais e produção fotográfica respeitadas nacionalmente, entidades, cursos, jornais e blogs. Somos uma cidade com uma luz fantástica para a fotografia e sinto que esta luz reflete em seus artistas. [Henrique José]

Prosa

“O que restou dos agonizantes do Camboja? Uma grande foto da atriz americana segurando nos braços uma criança amarela.”

Milan Kundera

A insustentável leveza...

Verso

“Que teus olhos provenham de seus antros / & então iluminem / como a folha de azevinho / qui laborar, orat”

Ezra Pound

“Canto XCI”

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