terça-feira, 22 de setembro de 2009

Se meu parquímetro falasse


Reclama-se muito das más notícias, publicadas nos jornais, veiculadas pelas tevês, mas, mas, mas, não se pode negar: vez ou outra acontecem coisas no mundo – essa coisa redonda chamada Aldeia Global – que são pra lá de simpáticas.

Que dizer, pois, da manchete “Jogador de rúgbi é multado por simular sexo com parquímetro na Austrália”, senão que é quase perfeita em sua meia dúzia de palavras?

A história está toda, ou quase toda, lá: o inusitado da cena e o exotismo múltiplo – o país onde aconteceu o fato, a profissão do protagonista, a vítima-objeto do ataque sexual.

Pronuncie o nome Austrália e em sua cabeça já saltarão cangurus em todas as direções. Bicho esquisito, híbrido de rato, coelho e camelo, ninguém esquece do que aprendemos no colegial: que o canguru é um marsupial e carrega seus filhotes num saco, ou bolsa, na barriga. Pois, o canguru é a cara da Austrália (da qual se sabe, também, é um país formado em sua origem por degredados, bandidos, criminosos, bandoleiros, sacripantas, estupradores, gente da pior espécie entre os súditos de Sua Majestade, tal e qual nesta Terra Brasilis, com a diferença que os de lá viraram gente de bem, enquanto os daqui se mudaram pra Brasília).

Do rúgbi, experimente explicar que danado de jogo é esse, sem recorrer ao Google, que tá justificado seu exotismo. Coisa muito estranha – a não ser que você seja um nativo estrangeiro – o rúgbi é o canguru dos esportes.

Por fim, o parquímetro. Os primeiros que eu vi foram aqueles das revistas em quadrinhos. Um troço também esquisito, quase sempre vermelho, de metal, onde se enfiava uns tostões e marcava-se o tempo em que se poderia deixar estacionado o automóvel sem risco de ser levado pelo guincho. Vez ou outra, o bicho aparecia também em filmes de Hollywood, com atores de paletó, gravata e chapéu, e atrizes de saia-balão. Desconfio que nem nas histórias em quadrinhos, nem nos filmes hollywoodianos, o parquímetro compareça mais.

Tem ainda, nesse cenário construído pela manchete, claro, um sujeito copulando no meio da rua – e se isso não chamar sua atenção, das duas uma: ou você é cego, digo, deficiente visual, ou você é o próprio tarado, digo, deficiente sexual.

Aí, junta-se a esses três ingredientes mágicos – Rúgbi-Parquímetro-Austrália –a cerejinha encorpada nas quatro letrinhas exuberantes da palavra S-E-X-O, motivo pelo qual caminha a humanidade derna o tempo de Adão, Eva e da coluna de Paulo Macedo, as coisas mais antigas do planeta das quais tenho notícia.

O resto, a matéria fornece mais detalhes, mas todos inúteis diante da fabulosa manchete: o nome do cidadão (Adam Michael Kelly), idade (25 anos), o valor da multa (150 dólares australianos, ou R$ 236), o local do incidente (esquina das ruas Shields e Abbott, na cidade de Cairns), o dia (31 de agosto).

Mas aí vem o advogado de defesa, que explica que seu cliente tava de fogo e solta a pérola: “Ele não consegue se lembrar muito do incidente.”

Ah, não! Enquanto isso o coitado do parquímetro está desconsolado. Achava que era amor e o bruto nem tchuns, nem um email, nem um torpedo, nem uma ligação no dia seguinte.

Se ficar grávido, bem que podiam trazer os filhotes para a Afonso Pena-Via Livre: o que teria de filhinho-de-papai copulando nas madrugadas não tá no gibi.

*

Libertas qua sera tamen

Aliás, ou o Via Livre se instala definitivamente na Oscar Fr... digo, Afonso Pena, ou não vai passar de mais um fogo de artifício. Quanto ao secretário, Kelps Lima, em não conseguindo emplacar seu projeto (que, sim, é bom, mas só tem sentido se houver expansão), melhor fazer como o pessoal da Tropa de Elite: pedir pra sair.

Como era verde meu parque

Mal mesmo pegou o discurso do presidente do Idema, domingo passado: o projeto de sonorizar o Parque das Dunas com alto-falantes e de construir um teatro com ar condicionado provocou a revolta imediata de grande parte dos presentes, que na mesma noite de domingo circularam pela internet email de protesto.

“O que é melhor para o natalense: respirar o ar que é exalado naturalmente pelas árvores ou o que é produzido artificialmente por uma máquina movida a energia elétrica?” – pergunta a carta (coletiva) de repúdio.

Ainda bem que o sobrescrito não está só na sua luta contra eventos em locais paradisíacos que abusam do ar condicionado (em tendas climatizadas etc.).

Prosa

“e que gozo intenso açular-lhe a espinha, riscar suas vértebras, espicaçar-lhe a nuca com a mornidão da minha língua”

Raduan Nassar

Lavoura arcaica

Verso

“A Natureza não sabe quando peca, / nem quando destrói.”

Fernando Monteiro

“Vi uma foto de...”

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