sábado, 12 de setembro de 2009

Revolution 9

Cultura 090909


Nove do nove de dois mil e nove: desconheço se a data foi escolhida propositadamente, mas é hoje o relançamento da obra completa dos Beatles.

O assunto já foi tema por aqui, final do mês passado: os 13 LPs da discografia oficial, mais uma vez, remasterizados e lançados no formato compact disc.

Citei, inclusive, um crítico italiano que comparou o trabalho dos técnicos de som à restauração da Capela Sistina.

Entre os discos, claro, o magnífico “Álbum branco” – que nome de verdade nunca teve, mas como a capa, dupla, era toda branca, com o The Beatles em alto-relevo, enfim, vocês todos conhecem a história.

Não foi acaso a lembrança do álbum branco – por sinal um dos preferidos dos beatlemaníacos ou não: uma das últimas músicas (pra ser exato, a penúltima do lado D, ou 4, já que o álbum original é duplo e tinha, portanto, lados A, B, C e D – ou 1, 2, 3 e 4) tem um motezinho onde se ouve repetidamente alguém dizer “number nine”... “number nine”... “number nine”...

Aquilo deve ter ficado tão intrinsecamente na cabeça de um maluco americano chamado Charles Manson, que o doido achou que o troço era uma mensagem cifrada e tinha relação com alguma passagem do Apocalipse.

Nem sei se era exatamente essa a associação que Manson construiu, mas no capítulo 9 do Livro do Apocalipse de São João tem um trecho que diz: “E naqueles dias os homens buscarão a morte e não a acharão; e desejarão morrer, e a morte fugirá deles.”

Como se diz por aí: nu-o-ssa!

Impressionante, não? Mais impressionado e impressionável era o freak do Manson, que achou por bem fundar uma comunidade meio hippie, meio racista e muitcho loca, e matar um bocado de gente, ali, pelos estertores dos anos 60.

O assassinato mais famoso, claro, foi o de Sharon Tate, loirinha, atriz e mulher de Roman Polanski. Com quem tinha filmado um dos melhores filmes de ou sobre vampiros até hoje: a comédia “Dança com vampiros”, 1967.

Parece que também não foi à toa a data escolhida por Manson – ou talvez não, mas de todos os modos, estranha coincidência: 9 de agosto de 1969. Ou nove do oito de meia-nove.

Nove demais, né não? E eu ainda desconfio que o lance era pro mês seguinte (o que renderia um 9 do 9 de 69), mas como Manson & family eram muito doidões, se anteciparam em um mês.

Não dá pra esquecer, também, que o tal “número da besta” é “six-six-six” – ou 666. Que, invertido, se transforma em 999.

A esse ponto, leitor, leitora, eu nem sei se é melhor você olhar ou não olhar seu reloginho de pulso: pode ser que sejam exatamente 9h09.

*

Dakota

Polanski tinha filmado um ano antes o insuperável “O bebê de Rosemary”, com a dupla Mia Farrow-John Cassavetes.

Um dos melhores filmes de terror de todos os tempos (desculpem a repetição do lugar-comum e óbvio), foi todo filmado no edifício Dakota (na verdade, em estúdio, mas a maior parte do enredo acontece, teoricamente, em dois apartamentos e na lavanderia do prédio).

Double fantasy

E é claro que vocês sabem que o casal John Lennon-Yoko Ono morava ali, desde 1973.

E que na noite do 8 de dezembro de 1980, ao voltarem pra casa, outro maluco, Mark Chapman, disparou cinco tiros em Lennon.

Ao contrário de Manson, não tinha ouvido nenhuma mensagem num disco dos Beatles, mas algumas horas antes tinha levado uma cópia de “Double fantasy”, lançado um mês antes, para Lennon autografar.

o mal

Chapman tinha também em mãos um exemplar de “O apanhador no campo de centeio”, de J. D. Salinger. No depoimento à polícia afirmou que grande parte dele era Holden Caulfield, o protagonista do livro, mas que uma pequena parte do seu ser, com certeza, era o Demônio. O Mal. Etc.

A caixa

É claro que nada disso importa: consumismo ou não, assim que possa compro a caixa com os 13 discos. Investimento alto: dizem que a versão mono vai custar mais caro que a estéreo (R$ 950 contra R$ 800). Ops! Olha um nove aí outra vez.

PROSA

“Só a ambição, só o desejo de vencer – eis tudo que há em sua alma, mas as motivações elevadas, o amor ao conhecimento, a religião, tudo isso são instrumentos para alcançar êxito.”

Tolstói

Anna Kariênina

VERSO

“a memória – / perfumaria da alma”

Theo G. Alves

“a memória”

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