segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Na praia, sem Danuza


Sei não. Mas não sei mesmo. A 1a Flipa (ok, o 1o Flipa) vai entrar para a micro-história cultural deste Ryo Grande como o dia em que a locomotiva Danuza Leão botou os pés na Pipa mas não na areia da praia nem na água do mar: foi-se embora num vapt-vupt que me soou como uma espécie de “me incluam fora dessa”. Mas alegou as escusas de um gato doente em casa. Disse ter horror a político. Mas posou para as fotos com a governadora, o presidente da Assembleia e o prefeito de Tibau do Sul. E falou. Falou muito. Mas não disse nada.

E continuou falando. Quase sempre ao redor do seu umbigo que, depois de tantas plásticas, deve estar bem próximo ao seu cérebro. (Uma indelicadeza da parte deste sobrescrito, sei, mas me incluam fora do altar da notre dame de Itaguaçu.)

Pois. Como fala a Danuza. Fala mais que o homem da cobra. Sim, senhoras, senhoritas, senhores, a mulher sabe vender seu peixe. E a platéia adora comprar o peixe da Danuza.

Danuza escrevendo é salmão. Falando é um peixe qualquer, seco, insosso, sem gosto.

Levem um livro de Danuza pra cama, mas não levem a própria. A não ser que vocês queiram realmente dormir.

Fisicamente, Danuza Leão é uma Marília Gabriela que deu errado. Oralmente, também.

Danuza é como a Pipa: antigamente era bem melhor.

A plebe finge surpreender-se que Danuza não lê livros. Uma besteira, já que não escreve como Proust, nem como Virgilio, nem mesmo como um Chico Buarque de saias, embora os mesmos olhos verdes. O segredo de Danuza Leão é Estilo, com “e” maiúsculo. Isso a moça tem. Ao escrever, simples, direta, irônica, e o seu próprio estilo, digamos, de ser e estar no mundo. Claro que um mundo todinho fashion, glamoroso etc.

Ninguém precisa realmente ler nada para escrever como Danuza. Nem mesmo o Almanaque Capivari. Nem mesmo a Caras. Me desdigo: ler a Caras pode ser prejudicial a qualquer candidato a escritor. Danuza Leão não precisa ler a Caras. Danuza Leão é a Caras. Em carne, osso e botox.

E, pra que não reste dúvida, Danuza escreve, sim, muito bem.

Ah! mas finge preferir jeans e tênis – e esqueceu o jeans e o tênis em casa num evento à beira-mar. Talvez ela prefira usar o casual chic na Côte d’Azur. Lembrei logo de Jane Birkin num Programa do Jô recente: estava mesmo de jeans e camiseta e tênis, os cabelos despenteados, nenhuma plástica, ao menos aparente, quase sem maquiagem.

Quando eu vi Danuza no Flipa me deu uma saudade danada de Jane Birkin.

Ah! mas a leoa finge não se lembrar quantos livros escreveu.

Quando eu ouvi Danuza no Flipa me deu uma saudade danada dos livros que li. Inclusive um ou dois dela.

Ti-ti-ti

Mas, deixemos a Danuza pra lá, cuidando do seu gato dodói. Alguém tem notícia do gato da Danuza? Vou buscar nos blogs locais e no twitter. Alguém há de me dar notícia do bichano. (Produção do Flipa: convidem o gato da Danuza para ano vindouro – quem sabe ela demora mais.)

Então, o evento só deu Danuza?

Só, babies.

Não. Teve outras coisinhas. Woden Madruga, por exemplo, foi visto na Broadway – a rua principal da Pipa – cercado de mulheres. Isso sim é notícia. Nunca vi tanta mulher ao redor de um homem só. E isso depois de encarar uma que virou a cabeça de três jornalistas. Um herói, esse Woden.

Bueno. Que mais? Ah, mal desembarquei na praia-mais-badalada-e-literária-do-litoral-potyguar, soube que a turma da Fundação Zé Augusto estacionou o carro na ladeira e foi buscar informações. Quando voltaram, acharam, não o canto, mas o carro mais limpo: a bandidagem em Pipa não descansa. A Fundação, claro, também não. Aliás, estava rolando um abaixo-assinado cobrando mais segurança. O italiano Jack, um dos antigos da praia, disse que foi só mudar as datas do mesmo texto de 2005 e rolar a lista – ou seja, quatro anos e a insegurança continua. Fazer o quê? Fazer o que Jack faz: bota notebook, câmera digital, celular, na mochila e sempre que sai de casa leva tudo para os ladrões nada levarem. (Empreendedores: uma empresa de cerca elétrica é um grande investimento na praia, empresa de vigilância particular, também.)

Sobre o caso “assalto à Fundação”, Abimael Silva (com stand armado no local) não pestanejou: “Se botarem alguém da Fundação cuidando de um cágado (atenção para a proparoxítona), pode ficar certo: vão roubar o cágado.”

O exemplo animal não foi à toa: Abimael revela que a região é pródiga em quelônios. E o faz com conhecimento de causa: o sebista viveu ali, em Tibau do Sul, entre os anos 60 e 70. Criança, fazia o percurso, beira-mar, Tibau-Pipa – nu em pêlo.

Com essa notícia eu me despeço e até o ano que vem, com mais um abaixo-assinado deste sobrescrito.

Prosa

“Ora, hei, hei, não é melhor morrer a ferro que viver com tantas cautelas?”

Ana Miranda

Desmundo

Verso

“Que outros me louvem – seu louvor é cinzas. / Que me reproves – teu rancor, alvíssaras.”

Anna Akhmátova

“Dístico”

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