sábado, 12 de setembro de 2009

Mil palavras


Cultura 110909


Que hoje é 11 de setembro, não precisa nem dizer. Se o leitor não foi bombardeado por informações, notícias, notas, matérias, retrospectivas etc. desde ontem, é porque com certeza terá sido abordado hoje, ou vai ser, ao abrir o jornal, ao ligar a TV, ao sintonizar o rádio, ao abrir a caixa de emails, ao navegar pela net.

Ao acordar, enfim.

Talvez eu nem comentasse sobre o famoso e famigerado e inesquecível 11/09 se não tivesse dado de cara com a foto que ilustra esta coluna, somente alguns meses atrás, salvo engano numa edição da revista Fotografe Melhor.

Do que eu me lembro, o autor, o fotógrafo alemão Thomas Hoepker estava dirigindo seu carro quando a cena chamou sua atenção – eis a sua descrição no sítio da agência Magnum, de fotografia: “EUA, Brooklyn, Nova Iorque. 11 de setembro de 2001. Jovens relaxam durante a pausa para o almoço enquanto enorme espiral de fumaça se eleva nos céus de Manhattan após o ataque ao World Trade Center.”

A foto fala por si mesma, e o que diz ocupa bem mais que o espaço de mil palavras. Hoepker sabia muito bem o que tinha capturado através das lentes de sua câmera – tanto, que escondeu a foto do grande público durante três anos. E quando foi mostrada, as polêmicas foram férteis, intensas e radicais. Muitos acharam que foi uma montagem. Outros, que houve uma clara intenção do fotógrafo em explorar a situação, ironizando o modo como os jovens americanos se importam com o que acontece de terrível não apenas no mundo, mas em sua própria casa.

Na verdade, é a velha lenda ou lugar-comum: o cara certo, na hora certa. Hoepker viu a cena, sentiu que o lance dava samba, parou o carro, enquadrou, disparou o obturador e fez a foto (há quem diga “fez-se a foto”).

Noves fora as mil palavras, arrisco a chover no encharcado chamando atenção para algumas coisas: 1. A foto vai muito além da data histórica, e muito além da faixa etária dos retratados. 2. Tem a ver não apenas com a indiferença que somos capazes de demonstrar, mesmo diante das maiores atrocidades. 3. Tem a ver, também, com a capacidade de nos distanciarmos, no tempo e no espaço, mesmo quando o horror acontece na nossa vizinhança, em tempo real. 4. Sobre a questão do tempo, me parece o ponto-chave: tão acostumados estamos em viver um mundo cada vez mais rápido, com banda-larga, celulares, twitters e pei e bufe etc. e tal, que terminamos deixando pra lá, pra trás, pro esquecimento, pra indiferença, o que mal acabamos de viver.

*

lisbon

Começou ontem e vai até o dia 16 a exposição “Culturas & Afetos”, com 150 fotografias de Carlos Morais dos Santos, português de nascimento, dividido entre Lisboa e Natal.

Aos 74 anos, Dos Santos é bem-vivido: segundo o release é “contista, cronista, ensaísta, poeta (Cônsul em Lisboa do movimento internacional ‘Poetas del Mundo’) e escritor com mais de doze obras editadas.”

No Hostel Lua Cheia, diariamente, das 14h às 22h.

bresson

Marcelo Buainain – que vive neste Ryo Grande, entre Nísia Floresta e Natal, desde 2002 – participa de uma mostra paralela em homenagem a Henri Cartier-Bresson, ao lado de Cristiano Mascaro, Carlos Moreira, Juan Esteves, Tuca Vieira, Flávio Damm e Orlando Azevedo – todos fotógrafos assumidamente influenciados pelo genial francês.

No SESC – de Sampa, claro.

jf

João Maria Alves anuncia mais um número do seu Jornal da Fotografia, o terceiro.

O lançamento é hoje, às 19h, durante a abertura da exposição do fotógrafo Marcelo Andrade no Solar Bela Vista.

O Jornal da Fotografia pode ser encontrado na livraria do Midway, na banca de revistas do Nordestão de Lagoa Nova e na banca do França, em frente ao Midway Mall, na Bernardo Vieira.

paris

A expo de Marcelo Andrade tem o título de “Um dia na Cidade-Luz: são 17 imagens da Île-de-France acompanhadas do texto-legenda da poeta Fernanda Rangel.

sátiro

Antonio Ronaldo lança hoje seu CD, “Sátiro”, no TCP da Fundação Zé Augusto. A entrada é grátis, mas façam a delicadeza de comprar o disquinho – custa só R$ 10, e inclui as boas participações de Cida Lobo, Manassés Campos e Geraldinho Carvalho (sem falar nas fotos de Giovanni Sérgio, o rei dos teclados, digo, “o mago das lentes potyguares”).

PROSA

“Veja, na melhor sociedade, não se fala nem se pensa a respeito de certos pormenores da toalete.”

Tolstói

Anna Kariênina

VERSO

“um homem em chamas / não acorda a cidade / como / uma bomba / ou / um relógio”

Theo G. Alves

“um homem em chamas”

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