quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Mania de ar condicionado


Vou começar falando mal, mas prometo a seguir falar bem – que o evento merece. Que evento? Oras, o I Festival Literário da Pipa, ou “FLIPA”, que já traz em seu título os algarismos romanos que prometem seqüências sem fim etc. Se isso (das seqüencias) é bom, se é ruim? A conferir.

Mas meu desagrado não tem nada a ver exatamente com autores nem livros – vai pela velha mania nativa de organizar tudo em tendas e instalar nelas aparelhos de ar condicionado.

Eu nunca gostei muito de ar condicionado. Gosto ainda menos derna que vi um documentário na TV sobre Nova Iorque, onde um estudioso comentava que os famosos arranha-céus tinham sido projetados com uma excelente circulação de ar – “mas aí veio a mania de ar-condicionado que fu... com esta cidade”.

Omiti o verbo aí em cima, claro, mas para bom entender uma sílaba basta. E é claro que não fui exatamente isso que o tal estudioso falou – mas que foi por aí, foi.

Então, voltando pra Pipa (ou Flipa), lá pras tantas reza o release oficial: “Uma estrutura climatizada, com capacidade para 300 pessoas sentadas, será montada especialmente para o encontro, que vai priorizar a discussão sobre a literatura no Brasil: formas de linguagens, temáticas, narrativas, criação e teorias literárias.”

A discussão tá ótima, mas, vem cá, quando os arquitetos e decoradores vão inventar algo para aproveitar melhor os nossos famosos ventos atlânticos? Um festival na beira da praia, em pleno século 21, não deveria ser mais ecológico? Um evento realizado numa praia cujo atrativo está em suas belezas naturais não deveria ser mais integrado à natureza?

Besteira, me dirão muitos. Pode ser, pode ser. Mas alguma coisa deve significar o fato que a capital deste Ryo Grande seja administrada pelo Partido Verde, que mui provavelmente também deve lançar uma forte candidata nas próximas eleições presidenciais.

Ah! E a parte em que eu deveria falar bem? Pois. Qualquer evento que una livros a leitores – velhos, novos, pretensos, supostos etc. – só pode de ser bom.

Podia ser melhor, claro, mas tem Abimael Silva, Carlão de Souza, Daniel Piza, Danuza Leão, Diva Cunha, Dorian Gray Caldas, Marize Castro, Moacy Cirne, Nei Leandro (de Castro), Ronaldo Correia de Brito, Sanderson Negreiros, Tácito Costa, Woden Madruga. E outros.

Tá bom, né? Só espero que não faça muito frio.

*

Verde

O ingresso é uma merreca, não tem mesa vip, nem premium, nem gold, nem platinum, nada disso, apenas o cenário verde do Parque das Dunas: próximo domingo, o Som da Mata se recompõe excepcionalmente com o show do grupo BZ4, que vem da Itália, mas não à toa nem acaso – é o grupo do potyguar Lola – a.k.a. Luiz Lima – mais Claudio Carboni, Marco Cattarossi e Ricardo da Silva.

Levem um trocado a mais para comprar o novo CD da BZ4, “Cem saudades”.

Seguidores

“O que passa de uma pessoa para outra, o ‘boca a boca’, segundo pesquisas, costuma ser de 5 a 10 vezes mais eficaz do que qualquer outra forma de marketing.” – do publicitário Alexandre Peralta, no sítio do Clube de Criação de Sampa, semana passada, falando sobre o poder do twitter. E complementa: “Ter os outros falando sobre você tem sempre muito mais força do que você falar de você. A melhor mídia que você pode ter hoje em dia são as pessoas.”

Blues

Hoje tem John Primer (from Chicago, USA) no Oi Blues by Night. Mais um argentino: Adrian Flores. Mais um nativo: The Blue Mountain. No Budda, ingressos a R$ 25.

Merde

“A minha prosa, até que ela vai bem, obrigado, porém a dos outros está montando a merda, isto é, a prosa-fácil no cenário de escritores ‘multimídia’ (que porra vem a ser isso?) aparecendo como piolhos de Bienal, entrevistados da TV e convidados de Flips, Flops e Flups. Literatura, atualmente, é Mercado, no mundo inteiro – e o Brasil vai atrás, o Unibanco por trás da Flip, as Companhias das Letras (e outras), se possível transformando tudo em sopa de letrinhas para neófitos de Parati. Se isso é para ti, isso não é para mim. Fui.” – Fernando Monteiro, sem papas na língua, explicando a Tácito Costa por que voltou para a poesia, depois dos últimos romances – “Eu vi uma foto de Anna Akhmátova” tem lançamento, hoje, em Natal, no Midway, 19h. Todos lá.

PROSA

“A centopéia tem muitos inimigos; a beleza fantástica de suas patas incontáveis, em lugar de atrair a simpatia dos animais, é, quem sabe, para eles apenas o poderoso estimulante de uma ciumenta irritação.”

Lautréamont

Cantos de Maldoror

VERSO

“De resto, a sabedoria nunca perderá a soberana obrigação / de sentar-se em confortável assento ao nosso lado”

Márcio de Lima Dantas

“O corpo existe...”

Um comentário:

  1. Excelente, Mário seu falar sobre a mania-feia - em tempos de PVs, e PCs (politicamente corretos)... Ora bolas, uma bela e ampla tenda, com vistas e aberturas para o entorno, a aldeia, a brisa e o mar, mais, a presença morosa de ventos atlânticos, porque se ar-condicionar numa urbanidade pequeno-grande-burguesa? Tendas fechadas em plena Pipa? É duro até de imaginar! No mais, bom mesmo ter por este Ryo Grande cópias de eventos que enriquecem e aproximam, escritos, escritores, leitores... Sempre bom!

    [c.m] www.escriturasangradas.blogspot.com

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