terça-feira, 8 de setembro de 2009

Ilha deserta

Cultura 030909


Sheyla Azevedo na batalha diária dos que têm e mantêm este diploma – que nem eu, entre os secos e os molhados, os sujos e os mal-lavados, os rotos e os esfarrapados – seja como for tornado inútil, o diploma. Enfim, me disperso: Sheyla Azevedo batalha de cá, batalha de lá, batalha aculá. De um desses pontos cardeais me manda uma declaração exclusiva de Maria Tereza Horta:

“A escrita só se completa quando o leitor existe. Agora, se me perguntassem se eu deixaria de escrever se ficasse numa ilha deserta e sequer o Sexta-Feira estivesse lá para me ler, a resposta é não!”

Horta, pra quem não lembra, é a poeta portuguesa que dividiu as homenagens com Diva Cunha na abertura do 13o Seminário Nacional e do 4o Seminário Internacional Mulher e Literatura (que acontece até amanhã no Hotel Praiamar, em meio a uma miríade de debates, mesas redondas e comunicações várias, que, não apenas valem, como exigem uma visita).

Não conheço a poesia de Horta (151 mil resultados no Google), mas pesco uns versos na rede mundial, que para isso é sua serventia – escolho, a propósito e de propósito, os mais íntimos que encontro, de um poema que, sem meias-tintas, já se revela, sem pudor, desde o título – “Masturbação”: “E todo o corpo /
é esse movimento
/ em torno
/ em volta
/ no centro desses lábios // que a febre toma
/ engrossa
/ e vai cedendo a pouco e pouco
/ nos dedos e na palma”.

Por que a escolha? Talvez porque escrever é também ato solitário. Porque escrever é também expor-se, às vezes, em maior ou menor intensidade, em maior ou menor grau de intimidade. Porque escrever é viajar, mesmo que durante breve mas infinito instante, até a solidão de uma ilha deserta – onde encontramos, às vezes sim, às vezes não, alguém tão solitário quanto nós, no exercício de um prazer igualmente solitário: o leitor.

E é quando acontece esse encontro – quando Crusoé enxerga na areia da praia pegadas semelhantes – que os papéis se confundem, e chegam a se inverter. Como nos versos iniciais do poema de Horta: “Eis o centro do corpo /
o nosso centro
/ onde os dedos escorregam devagar
/ e logo tornam onde nesse
/ centro
/ os dedos esfregam – correm
/ e voltam sem cessar // e então são os meus /
já os teus dedos // e são meus dedos
/ já a tua boca // que vai sorvendo os lábios
/ dessa boca
/ que manipulo – conduzo
/ pensando em tua boca”.

*

POEMAS

“Poemas do Brasil”, de Maria Tereza Horta, e “Resina”, de Diva Cunha, são os dois lançamentos mais que importantes de hoje. Do mês. Quem sabe do ano.

A partir das 18h. No Hotel Praiamar, Ponta Negra.

Simplicidade

Pablo Capistrano volta a atacar, lançando livro pela editora Rocco (depois de “Pequenas catástrofes”): para outubro, nesta Capital, saem 47 crônicas suas embaladas em coletânea que se auto-explica (mas não auto-ajuda) a partir do título: “Simples filosofia”.

Simples assim.

Erudita

Hoje a Escola de Música da UFRN e o Projeto Cultural Eruditus apresentam o recital de Câmara do tenor Bruno Santos, com a participação especial da pianista Igara Cabral.

O Eruditus é invenção da musicóloga e jornalista Jô Lopes e tem como objetivo incentivar e divulgar a música erudita nas muitas veredas deste Ryo Grande.

No Auditório da Escola de Música, 19h30, de grátis.

Dentes

Começa hoje o XI Congresso de Odontologia do RN – e já começa, como se diz, “bombando”: à noite rola umas “Odonto Sessions”, no Maranello Bistrô, e amanhã, sexta, a “Odontoitenta”, na Nyx (Chaplin).

Tudo muito legal e etc. – mas, com tanta banda e músico bom neste Ryo Grande, por que os shows do evento têm que ser com a baiana Márcia Freire e a banda pernambucana Nós 4?

Dentes II

Bom, restou ao potyguar Swedenberger Barbosa – que além de cirurgião-dentista é chefe de gabinete-adjunto do presidente da República – abrir o congresso com a palestra “A saúde bucal como política pública do Brasil”.

Prof

E os livros “técnicos” continuam desbancando as literatices: “No processo de construção da profissão docente”, da professora Andréa Carla Pereira Campos Cunha, tem lançamento hoje, 19h, terceiro piso do Midway, claro.

PROSA

“Arte não é mais representação. É apresentação. Como um espetáculo de cortinas fechadas, com as luzes apagadas, ao qual ninguém compareceu.”

Fábio Moon e Gabriel Bá

10 pãezinhos: crítica

VERSO

“Coloquei nossos livros juntos na estante / para que se toquem / e se amem clandestinamente / durante as madrugadas”

Iracema Macedo

“Idílio”

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