sábado, 12 de setembro de 2009

Arebaguandi

Cultura 100909


Ninguém vai sentir tanto a falta de Caminho das Índias quanto o sobrescrito.

A não ser Woden Madruga, claro, onde eu estou com a cabeça em esquecer aquele que algumas ex-alunas não esquecem em chamar, carinhosamente, de “professor”?

Pois, claro que estou com a cabeça no horário das nove, dez da noite: nas últimas semanas a novela – no senso literal e metafórico – de Glória Perez tem me feito uma companhia danada. Especialmente na semana que passou, quando mal botei os pés fora de casa entretido que estava com uma gripe que os espíritos de porco, por supuesto, queriam diagnosticar como bacurinha.

E olha que eu fui um daqueles a criticar, no início da trama, o excesso de exageros, a redundância deslavada e desmedida, as hipérboles nos cenários e nos diálogos elevadas à quinta potência e que atingiam seu clamor máximo quando um personagem interrompia uma conversa para explicar didaticamente uma expressão, um gesto, um costume, uma dança, enfim, qualquer manifestação da cultura indiana.

As vacas, por exemplo, quede as vacas sagradas da Índia? Elas apareciam tanto no começo da novela que até abusavam.

Mas, deve ter sido isso, depois de exaurirem as explicações tipo bê-com-a-bê-a-bá, atores e personagens, diretor e novelista, findaram se atendo ao essencial – e o essencial aqui, óbvio, é o nonsense de mãos dadas com o exótico, o dramalhão mexicano flertando com o dramalhão indiano, Bollywood indo pra cama com Hollywood e pulando a cerca em Jacarepaguá, e last but not least, William Shakespeare trocando emails com... com Glorinha Perez mesmo.

Uma maravilha.

Quer coisa mais doida que um bando de indianos na Lapa carioca?

Pois, em Caminho das Índias tem: os doidinhos do hospital psiquiátrico de Dr. Castanho são exímios pés-de-valsa e freqüentam a gafieira, onde se cruzam, também, as empregadas domésticas e seus patrões endinheirados, entre eles o velho Cadore, que tem um filho que resolveu sumir do mapa não entendi ainda bem por quê, envolvido que foi por uma psicopata, que tem seus passos e ações pontuados por uma tese de mestrado elaborada em tempo real por um pupilo do Dr. Castanho e que é a cara da Marina Silva depois de um banho de butique. Ufa!

Querem mais? Pois, tem ainda um guarda de trânsito corno, dois galãs que engravidaram as mulheres alheias, um monte de indianos que passam a maior parte do tempo ganhando dinheiro e dizendo “Are baba” ou “Arebaguandi”, o bigode de Gopal que antecipou Sarney e Belchior, externas gravadas em Dubai, uma carioquinha que vai morar na Índia, uma indianazinha que vai morar no Rio, a paixão proibida entre um Montecchio-intocável e uma Capuleto-de-casta-superior, e, claro, a Norminha, a gostosa de plantão embalada pelo hit “Você não vale nada mas eu gosto de você”, um bom epitáfio pra novela que termina amanhã.

Para desespero meu – e de Woden Madruga, claro.

*

lobo

A essa altura todo mundo já sabe, mas não custa repetir: dramaturga e atriz, Cláudia Magalhães lança hoje “Esquina do mundo – a hora do cão-lobo”, texto teatral. No terceiro piso do Midway Mall, a partir da hora da Ave Maria.

voodoo

Hoje tem Clube do Blues no Budda Pub, inteirinho dedicado a Jimi Hendrix – 39 anos de sua morte no próximo dia 18.

pop

Hoje, durante o dia inteiro (das 8 às 18h), tem oficina de capacitação para o edital do Prêmio Culturas Populares 2009 – realização do MinC. No Museu de Cultura Popular Djalma Maranhão, Ribeyra velha de guerra.

pai

Fábio Júnior canta e encanta o mulheril logo mais à noite no Machadinho.

Fábio Jr. – pra quem não lembra – é pai daquela víbora prenhe de um travesseiro, a Surya.

Parlamento

Os estudantes entre os 16 e os 22 anos que quiserem sugerir projetos de lei aos senhores deputados em Brasília tem até hoje para se inscrever no Parlamento Jovem.

Procurem a Subcoordenadoria de Ensino Médio (SUEM), na Secretaria de Estado da Educação e da Cultura, Centro Administrativo desta Capital.

IMORTAL

“É do ramo” – dizia Nilson Patriota quando queria valorizar alguém nos caminhos tortuosos da escrita e da Academia de Letras, que, como se sabe, nem sempre opta pelo ramo verdadeiro.

Pois, hoje, assume um daqueles de quem se pode dizer “é do ramo”: Ivan Maciel de Andrade. Não à toa, o consagrado jurista escolheu alguém como Vicente Serejo para fazer a saudação oficial e não outro, “do ramo”, digo, do outro ramo, se é que vocês me entendem.

PROSA

“Veja, na melhor sociedade, não se fala nem se pensa a respeito de certos pormenores da toalete.”

Tolstói

Anna Kariênina

VERSO

“para inventar / a chuva / é necessário / derrubar os muros / do deserto”

Theo G. Alves

“instruções para...”

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