terça-feira, 29 de setembro de 2009

Ainda o Flipa

Uma coisa ninguém pode negar: se a máxima “falem mal, mas falem de mim” é válida, o Flipa foi um sucesso.

E a presença de “celebridades”, ainda que díspares, como Danuza Leão e Lobão mais que acertada – sob esse ponto de vista, ou “estratégia”, claro.

Afinal, foi especialmente com esses dois nomes que os intelectuais – de plantão ou não – chiaram. Os motivos alegados era a pouca relevância que poderiam trazer pra uma suposta “literatura de verdade”. (Vão me perdoando o excesso de aspas, mas são necessárias, quase imperiosas, diria, aliás, disse.)

Embora eu tenha sido um crítico declarado à efetiva participação de Danuza Leão ao evento (não antes, mas como aconteceu realmente a sua breve participação) e não seja nenhum fã incondicional de Lobão (que costuma disparar verdades e besteiras na mesma proporção e intensidade), nada tenho contra a escalação dessas figuras.

Querem discutir literatura seriamente? Vão discutir nas universidades, organizem grêmios literários como os de antão, se associem às Academias de Letras – não como existem atualmente, mas lutem, se for o caso, para modificá-las.

Não se pode esperar muito mais do que isso de um festival literário à beira-mar. É festa mesmo, é oba-oba mesmo. É blá-blá mesmo. Se entre um e outro se inserem alguns nomes relevantes pra tal “literatura”, ótimo. Há de se agradar gregos e troianos, não?

Por outro lado, infelizmente, as vacas de presépio querem que todos mujam do mesmo jeitinho (acho que é assim a conjugação do verbo mugir, não?). Na Cidade Presépio é assim: ou se elogia 100% ou não se aceita nenhuma crítica. E assim vamos pastando – vírgula: vamos não; vocês podem até ir, eu não. Vou contracorrente, mesmo.

Teve leitor que elogiou o que escrevi ontem. Teve leitor que não. Me acusou de nem sei o quê. Curiosamente os elogios vieram de um nome conhecido, enquanto as críticas de um apócrifo. Como tem apócrifos por estas ribeyras!

Daí que cedo espaço a um não-apócrifo, que assina (aliás, como o sobrescrito) com nome e sobrenome: o professor-doutor João da Mata Costa, que comenta o “caso” Cíntia-Book Shop da Pipa.

Antes de ceder a palavra a João da Mata, um breve comentário: há um ano atrás eu anunciava neste espaço (coluna de 8 de agosto de 2008), nem sei se em primeira mão ou não (e a única diferença seria pro meu suposto ego) que até que enfim a Pipa teria um evento cultural, à época intitulado “Pipa Literária”. E, numa das notas, intitulada “BOOKSHOP”:

“Vale o registro que na praia nunca faltou livros nem leitores, graças aos esforços de Cíntia, proprietária da mais que famosa “Bookshop”, misto de biblioteca comunitária, locadora de livros e centro cultural – e bar que ninguém é de ferro. Merece uma estátua em praça pública. Na Pipa, claro.”

Aliás, existem outros detalhes do “caso” Cíntia-Book Shop – por enquanto deixo João da Mata Costa falar. O texto a seguir é dele:

O Book-Shop de Pipa

“Manhã de sábado-primavera a praia, Pipa. Acorda. Escritores convidados pela Flipa e acompanhantes aproveitam para caminhar em suas ruas, areias e escadas. O poeta no hotel ler para palestrar. Vejo subindo uma escada – vagarosamente - o escritor Ronaldo Correa de Brito. Assim também como um voyeur surpreendo as passadas lentas, claro - estamos na praia – envoltas numa cabeleira branca do escritor Raimundo Carrero. Da Danusa Leão só escuto ecos. A Flipa é uma festa, principalmente para os convidados e alguns jornalistas.

“O sebo pela manhã está fechado. Não tem hora certa para abrir, sou informado. Após um bom papo diverso genérico sobre livros no sebo vermelho volto ao sebo, digo book-shop internacional como é a Pipa. A Dona Cíntia está lendo no seu sofá- garçonniere-morada e oásis. Já me imagino sem nada para ler numa praia e encontro um sebo, onde posso emprestar, trocar e alugar livros. São muitos livros nos mais diferentes idiomas. Livros em Sueco, Alemão, Inglês, Japonês, Italiano e Português. Muitos ainda cobertos por uma fuligem de um fogo recente. Todos os livros foram doados, informa a simpática Cíntia. Muitos não estão à venda. Doando um livro você fica com um crédito de muitas leituras. Um oásis para uma praia – cidade que carece de cultura, para além das belas mulheres desfilando de poucas roupas em suas ruas.

“A Cíntia é a atração principal do sebo. Muito viajada nas cidades, vida e livros. Mora no sebo e não paga em muitos restaurantes. Dorme numa rede como gosto. Um livro sobre o Maranhão não está à venda. Um outro organizado pelo Correa Lago também não. Compro o Terror na Alcova do Serge Bramly, baseado no Marques de Sade. E História do Amor no Brasil da Mary Del Priore. A pipa é mesmo a praia dos amores. No teto da pequena loja dos livros adornada pelos retratos de muitos escritores, tem uma pintura mal-feita da Origem do Mundo do Courbet. Uma bela gata se enrosca nas minhas pernas. Cíntia está feliz com a nossa visita. As pessoas sentem falta em Pipa de cultura e de livros, fico sabendo ao conversar com Cíntia e com outras pessoas. Um Italiano que mora na Pipa há quatro anos gostou da nossa conversa do Sebo Vermelho e ficou. Sua filha de dez anos foi mandada embora. Aquilo não é lugar para criar filhos. Um outro Italiano faz o registro de quem tem o que dizer sobre a Pipa antiga. D. Inácio é convidado.

“Nos bares muitos menores. Pouca polícia e muita droga.

Hora de partir, diz os amigos Homero e D. Inácio. Já é estrada... É Belo o pôr-do-sol na lagoa Groairas. Pipa precisa de mais cultura e agradece ao sebo de Cíntia. Até a volta!...” [João da Mata Costa]

Prosa

“eu pobre mulher te peço com lágrimas prostrada, que não arranques tua força contra minha fraqueza porque sou mulher que não sei me defender”

Ana Miranda

Desmundo

Verso

“Não me importa o exército das odes, / Nem o jogo torneado da elegia.”

Anna Akhmátova

“Os mistérios do ofício”

Um comentário:

  1. Obrigada, Mario Ivo.
    Muito gentil todo este escrito.
    João da Mata já esta postado no meu blog.
    Muito carinhoso tudo.

    cintiabook.blogspot.com

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