sábado, 29 de agosto de 2009

Uma a mais

Cultura 280809

Me cai em mãos um livro, edição italiana, de Laura Laurenzi – “Infedeli, grandi amori e grandi tradimenti del novecento” (ou seja, “Infiéis, grandes amores e grandes traições do século 20”).

Parece fofoca, e não deixa de ser. Mas, do pouco que li, a autora é séria – no que ajuda as informações da rede mundial de computadores e etc.: jornalista com quase trinta anos de profissão, Laurenzi já escreveu outros títulos de interesse, digamos, social: “Vida de rico”, “Pecados de luxo”, “Amores e furores, as grandes paixões do século 20”, e “Grandes paixões homossexuais do século 20”.

Ou seja, uma Caras com mais profundidade e análise.

O livrinho em questão (nem tão livrinho assim: são mais de 400 páginas) é dividido em 13 almas, todas inclinadas a seguir a máxima de Santo Agostinho, “Ama et fac quod vis”, isto é, “Ama e faz o que quiseres” – quase um antepassado de Raulzito Seixas em sua “Sociedade alternativa”: “Faz o que quiseres pois é tudo da lei”. E viva a sociedade alternativa, embora de alternativa, no sentido marginal, apocalípticos e integrados sempre se igualaram no velho esporte de pular a cerca em busca de uma grama, quem sabe, mais verdinha.

As almas em questão, conturbadas ou não, são várias e distantes, além do motivo em comum de estarem na mesma antologia: Laurenzi parte do perfil de um gênio como Albert Einstein e chega ao retrato – por que não dizer? – genial de Carla Bruni: Albert e Carla, que não se conheceram, abrem e encerram o, digamos, “estudo”. Entre as pontas – e mato logo a curiosidade de vocês – outras cinco mulheres: a pintora Frida Kahlo, a atriz Marlene Dietrich, a cantora Maria Callas, a mecenas (e feia de doer) Peggy Guggenheim e Diana Spencer (sim, a Lady Di, que as princesas normalmente ousam pecar).

Dava pra escrever e comentar milhares de coisas, fatos, detalhes, disse-me-disse que o livro traz. Mas, enfim, vou me resumir ao que me chamou mais atenção, à primeira leitura: o escritor belga Georges Simenon, criador do famoso comissário Maigret, protagonista de dezenas de novelas policiais, afirmou ter amado 10 mil mulheres.

Isso mesmo: 10 mil mulheres.

Vou repetir de novo para vocês não pensarem que foi erro de digitação: 10 mil mulheres.

Como o sujeito nasceu em 1903 e morreu em 1989 – e afirmou ter começado sua “carreira” aos 13 anos – pode-se concluir, vejamos, que, em média, a cada ano, o vigor de Simenon conhecia, biblicamente, 136 mulheres.

É mole, ou quer mais?

Claro que não é mole: tudo isso aconteceu antes de inventarem a pílula azul da felicidade, masculina e feminina.

E claro que vocês querem mais, que todo mundo adora uma história picante, seus safadinhos. Então, se aboletem na cadeira que eu conto mais do que Laura Laurenzi contou sobre Simenon: quando Fellini lança seu “Casanova”, uma revista italiana coloca os dois em contato – Georges está entusiasmadíssimo com o filme: “Sabe, Fellini”, diz, “creio ter sido, em minha vida, mais Casanova que você.” Para depois explicar como chegou ao número com quatro zeros: “Desde os 13 anos e meio tive 10 mil mulheres. Não era, absolutamente, um vício. Não tinha nenhuma perversão sexual: o que eu tinha era apenas a necessidade de comunicar.”

Rapaz... se levarmos em conta que ele ainda arrumou tempo pra escrever mais de 200 livros... haja necessidade de comunicar e haja três pontinhos, até pra mim, que não gosto de usar reticências no que escrevo... ... ...

Mas o melhor é quando Simenon é questionado do absurdo da cifra – parece parar um pouco e pensar: “Dez mil. Sim, uma a mais, uma menos, talvez uma a mais.”

Não se pode negar sua humildade.

*

Federico

Tão impressionado ficou Fellini com o papo, que homenageou Simenon com o personagem Katzone (um jogo de palavras com, tapem os ouvidos, “pau-grande”) em “A cidade das mulheres” (1980).

SERGE

Essa semana um amigo – que conhece meus gostos – me manda uma boa e uma má notícia ao mesmo tempo. A boa: próximos 3 e 4 de setembro, no Sesc Pinheiros (Sampa, claro), Caetano Veloso se junta a Jane Birkin, um tal Vannier, que não conheço, e à Orquestra Imperial, para o show “Gainsbourg Imperial”, homenagem a Serge Gainsbourg (que, se não conheceu 10 mil mulheres, conheceu duas que valem por 20 mil – a própria Birkin e Brigitte Bardot).

A má notícia: os 2020 ingressos acabaram. Em apenas duas horas.

C’est la vie, mas que é uma merde, é.

O show faz parte da programação oficial do Ano da França no Brasil.

PROSA

“Ela então me contou seus pecados; primeiro, o primeiro, quando ainda era mocinha; depois o mais feio, que foi uma coisa que ela não queria.”

Rubem Braga

200 crônicas escolhidas

VERSO

“Este o nosso destino: amor sem conta, / distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas”

Drummond

“Amar”

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