quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Porcos com asas

Cultura 110809


O bicho tava lá numa prateleira alta em meio a mil e um outros, todos mui provavelmente mais belos que ele – tinha um elefante amarelo em três tamanhos diferentes e as infinitas cores dos adornos orientais. Tinha um dragão todo prateado, as asas prontas pro vôo, o rabo em seta apontado para o alto. Tinha dezenas de gatos, ou caras de gato, no monocromatismo de cores igualmente exuberantes. Tinha, também, cavalos-marinhos – sou especialmente fã dos cavalos-marinhos (em grego, hippocampus) derna que aprendi que são eles quem providenciam a gestação dos bebezinhos cavalinhos-marinhos, nos vingando, a nós machos, mesmo à distancia do Reino Animal, da exclusividade das fêmeas humanas em parir nossos filhos e filhas.

Mas estou divagando e dando panos pras mangas de Vicente Serejo e seu vizinho da Redinha comentarem como essa coluna tantas e muitas vezes beira o absurdo e a incompreensão.

Fazer o quê? Estou dizendo justamente isso: como, em meio a tantos outros mais belos, eu fui me encantar logo pelo mais esquisito, um porco com asas. E não vou dizer que ainda por cima preto, senão me acusam de racismo – mas, sim, porque nem tinha o apelo visual de qualquer cor mais chamativo.

Foi numa loja, entreposto entre a arte, o artesanato e o turismo – vocês já devem ter percebido.

Mas o fato é que saí de lá com o porco metido numa sacola. Que danado vou fazer com um porco preto, com asas prateadas e uma auréola igualmente de prata no cocuruto logo acima do focinho de tomada? (porque na verdade não era um simples “porco-com-asas”, mas um “Pig Angel”, ou seja um porco anjo – e não confundir com um anjo porco, que é muito diferente).

Talvez porque me fez lembrar um livrinho, com esse mesmo título, “Porcos com asas”, acrescido do subtítulo, “Diário sexo-político de dois adolescentes”, editado pela Brasiliense lá pelos anos 80. Escrito por dois autores, Marco Radice e Livia Ravera, começava com uma adolescente escrevendo na primeira pessoa e numa linguagem realmente livre de tabus e preconceitos. E continuava, intercalando os capítulos, com a versão do rapaz para a mesma história – os dois se amam, fazem amor, se separam etc. etc. Ler aquilo, mesmo sabendo que era ficção (ou não), era realmente uma novidade.

Mas na verdade eu pensei de cara mesmo foi em “Pigs on the wing”, música do Pink Floy do álbum “Animals”, de 1977. Não sei se é verdade, mas dizem que foi inspirado – o LP inteiro – noutro clássico de George Orwell, “A revolução dos bichos”, onde os porcos comandavam a revolução, tomavam o poder dos homens e terminavam iguaiszinhos a eles.

Será esse o porco que me olha agora?

*

REVOLUÇÃO

Em Orwell, entre os mandamentos que os bichos revolucionários impõem a si mesmos para depois modificá-los o mais significativo é o que diz “Todos os animais são iguais mas alguns são mais que outros”.

CURRAIS

Então, vamos conferir se todos os ministros são iguais ou se alguns são mais que outros: amanhã, 13 de agosto, o ministro da Cultura vem a este Ryo Grande – na esteira da visita da ministra do PAC. Juca Ferreira tem reunião com prefeitos, secretários municipais de Cultura, artistas e quetais – o objetivo é discutir a Caravana da Cidadania Cultural, evento transnacional que parte de Currais Novos, dia 27, para se espraiar por todo esse imenso e varonil país tropical abençoado etc.

Até na reserva Raposa Serra do Sol vão dar com os costados.

CURRAIS II

Só a etapa de Currais Novos vai custar R$ 300 mil.

A ONG Micromundo, de Buca Dantas e Mathieu Duvignaud, vai filmar a caravana. A idéia é fazer um longa-metragem ao final da excursão cultural.

Qualquer coisa liguem para o IFRN: 4005.2600.

LOS HERMANOS

A banda argentina Los cocineros vai ser a atração principal do I Festival Pop Latino, que acontece dia 29 no Buddha Pub. Os nativos deste Ryo Grande serão mais que bem representados pela banda Perfume de Gardênia.

CAUSOS

“Públio José, repitamos, não tem uma formação propriamente literária. Mas não é difícil comprovar que ele se sai bem desta empreitada, justamente por associar ao ímpeto criador um notório acúmulo de experiência textual nas áreas de jornalismo e da publicidade.” – Tarcísio Gurgel, no prefácio de “Contos. Porque conto”, próximo lançamento do incansável diretor da Garra Propaganda.

Em breve.

QUE LETRA Más HERMOSA

 “Eu uso óculos escuros / pras minhas lágrimas esconder / e quando você vem para o meu lado / ai, as lágrimas começam a correr” – Jorge Mautner, sempre atual, na sua canção, “Vampiro”.

PROSA

“Ela diz: Você não pode compreender já que faz a pergunta.”

Marguerite Duras

A doença da morte

VERSO

“Ser inteiro custa caro.”

Carpinejar

“Ser inteiro...”

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