sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Plano Palumbo, me sucumbo


“Quer saber? Eu amo Petrópolis... esse clima, esse...” – blá-blá-blá, cantarola a atriz numa publicidade em exibição nas emissoras de TV, vendendo, claro, as maravilhas de um apartamento, mais um.

Nonada.

Petrópolis, escrevam, está virando um centro da cidade, com todas as mazelas do centro. Na verdade, a atual condição é parte de um mesmo processo que teve início no caótico Alecrim e que lembra a queda seqüencial das pedras de um dominó. “Alecrim é o bairro operário, / A tecer noite e dia”, cantava Palmyra Wanderley no poema homônimo (de “Roseira brava”, 1929). Os primeiros versos são bem mais bucólicos (“É verde, é todo verde como o sonho / Que faz verde minha alma.”), mas logo cedem a outros que – oito décadas atrás – anunciam o que viria a se tornar no futuro: “É o bairro da lida, da função, / É o bairro da feira domingueira, / Numa algazarra louca!”

Não custa também lembrar que, quase um século antes da estréia de Palmyra, o Alecrim ficava tão longe da Cidade Alta que escolheram ali o lugar para o primeiro cemitério público da Capital (1856).

Pois, quando o sobrescrito, hoje quarentão, conheceu o Alecrim, o bairro há muito já estava inserido na cidade e era muito mais que uma algazarra louca. Daí eu considerá-lo o epicentro simbólico do atual caos urbano. E, como testemunha ocular razoável da história, posso dizer que foi lá pela década de 90 que teve início o processo de “alecrinização” da Cidade Alta. A pá de cal foi o primeiro boom dos shopping centers, que hoje ocupam o espaço real e imaginário de inteiros bairros comerciais.

Ai de ti, giacomo

Já Petrópolis – a pedra seguinte do dominó a cair, em breve – alterna sua vocação comercial com a de prestadora de serviços e ambiente boêmio, enquanto continua prevalecendo seu aspecto mais valorizado – o de área residencial para novos ricos e blá-blá-blá.

Boa parte dessa imagem ilusória foi incentivada por Eliana Lima, salvo engano quem inventou ou ao menos repercutiu mais intensamente o termo “Plano Palumbo”, que de tão repetido não preciso mais explicar o porquê, mas que hoje é sinônimo, no bem e no mal, de um certo ser e estar “cult”.

Que é verdade, é. Ou também é. Mas que o bairro já entrou no processo de “alecrinização” – ou mínimo de “cidadealtalização” – é indiscutível. Basta dirigir pelas ruas e avenidas com nomes de presidentes ou por aquelas transversais com nomes de rios. Falta estacionamento, o trânsito fica congestionado, os acidentes crescem na proporção em que as autoridades competentes insistem em não atualizar à nova realidade a sinalização, os assaltos, furtos e até tiroteios se repetem etc. etc.

Como vão continuar derrubando casas para edificarem moradas múltiplas e vendendo o espaço como sonho de consumo, a tendência é que as coisas piorem, e muito. Pra quem já mora e pra quem sonha em morar.

O que me faz lembrar da crônica de Rubem Braga, “Ai de ti, Copacabana” (“Então quem especulará sobre o metro quadrado de teu terreno? Pois na verdade não haverá terreno algum.”) e daquele filminho do glorioso cinema nacional, safra 1968, de sonoro título “Copacapana me engana” – então: Petrópolis me engana, Plano Palumbo me sucumbo.

*

Arraial

Não foi à toa que há mais de um ano este espaço começou a chamar, não o espaço, mas o clima eufórico que ocupa ou pensa ocupar bairro e colunas sociais de “Arraial de Palumbo”.

Folk

Continua, hoje, a Semana de Expressões  Populares (a partir das 17h, na Praça Augusto Severo, Ribeyra) com o Boi-de-Reis Estrela do Oriente, o Balé da Cidade e hip hop do Carcará na Viagem.

COFFEE

Bem mais cedo, no TCP, margem direita da Fundação Zé Augusto, 8h30, acontece um café da manhã para jornalistas, artistas, agentes e produtores culturais – ou seja, os famintos de sempre (por Cultura, claro).

A idéia é informar aos malinformados ou malintencionados sobre o Plano Nacional de Cultura a fim de que, quando o senhor ministro Juca Ferreira aportar por estas ribeyras, na próxima semana, ninguém fique falando besteira.

W.O.

Os fãs da cantora Céu têm uma boa e uma má notícia: a boa é que a nova turnê vem ao Nordeste, em setembro. A má é que passa por Salvador, Recife, João Pessoa e... pula pra Fortaleza.

SANTA GASTRITE

Pense num negócio exótico: próximo domingo, 23, será servida uma paella gigante para 500 pessoas em São Gonçalo do Amarante. Inusitado também é o local do banquete: o Monumento dos Mártires de Uruaçu.

 Como se não bastasse o evento se chama 1º Encontro Gastronômico” e é prévia para um futuro “Festival Gastronômico” (em dezembro).

PROSA

“Pois sabia que não seria sempre jovem, e que o verão também não dura eternamente, nem mesmo o outono, minha alma burguesa o dizia.”

Samuel Beckett

Primeiro Amor

VERSO

Ide mais devagar, ó curso das coisas rumo ao seu fim.”

Saint-John Perse

“Marcas marinhas”

 

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