sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Juvenal, Bertha e a burra-de-sela


Domingo, se vivo estivesse, Juvenal Lamartine completaria 135 anos. Como ainda é quase impossível para os milagres de deus ou da ciência tal longevidade – a não ser para personagens literalmente bíblicos – o mais correto é dizer que este ano comemora-se 135 anos do nascimento de Juvenal Lamartine.

Comemora-se também é modo de dizer que nestas ribeyras sem fim, sem eira nem beira na cumeeira da memória, comemora-se muito pouco ou quase nada, a não ser o sucesso nas pesquisas e urnas eleitorais e uma ou outra festa do jet.

Mas voltando a Juvenal Lamartine de Faria (Serra Negra, 1874), foi um dos governantes deste Ryo Grande – mandato curto, dois anos e nove meses, deposto que foi pela Revolução de 30. Controvérsias à parte, fico com a frase de Nilo Pereira sobre o político: “Antecipador de novos tempos, homem público com trinta anos de adiantamento da época em que viveu”.

Lamartine era defensor ferrenho do direito ao voto das mulheres e um grande incentivador da aviação civil. Quando Mário de Andrade flanou por esta Capital, pôde presenciar alguns fatos históricos que tiveram a marca ou a influência do homem público Juvenal Lamartine – entre outros, a inauguração do Aero-Clube de Natal, e a eleição da primeira prefeita do Brasil (Alzira Soriano, de Lajes).

No recém-lançado “O Magnífico”, Diógenes da Cunha Lima pergunta a Onofre Lopes sobre os supostos amores de Lamartine com a feminista Bertha Lutz – Onofre sai pela tangente, mas afirma, com convicção: “Se não com Bertha Lutz, mas com muitas e muitas outras, né?” Ao que o biógrafo acrescenta: “Senhoras da Sociedade!”

Pois, pois. Exilado em Paris, só retornou em 1933, e perdeu a eleição ao Senado. Passou então a colaborar intensamente com as folhas locais (naquele tempo não havia ainda o twitter, e o cabra político tinha que se esfalfar além dos 140 toques). Escrevia não apenas sobre política e economia, mas também sobre os costumes sertanejos, o que lhe rendeu uma série de artigos intitulada “Velhos costumes do meu Sertão” – que o filho Oswaldo Lamartine ajudou a revisar e reescrever.

“Meu pai, do exílio, escrevia pedindo notícias do inverno e até da Melada – a sua burra-de-sela”, confidenciou, uma vez, relembrando o amor deste sertanejo pelas coisas, pelas histórias, pelas tradições de um sertão a cada dia mais inexistente, senão nas memórias, nos livros.

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velhos costumes

“Velhos costumes do meu Sertão” pode ser ainda encontrado em edição do Sebo Vermelho, editado em 96 em parceria com a Fundação Zé Augusto – dá licença repetir a cantilena:

– No tempo em que a Fundação Zé Augusto publicava livros.

Costume, claro, que a atual faz questão de esquecer.

Suíno

Em tempos de gripe suína nada melhor que festejar como se deve: amanhã acontece a sexta edição do “Porco no Rolete”, churrasco regado a cerveja, cana, caipirinha e o escambau, incluindo o – verdadeiro ou fake – “forró pé-de-serra” (na dúvida, as aspas são necessárias).

No Forró do Pote, Vale do Pium, a partir das 13 horas. Custa 40 contos.

Pop

A professora (doutora) Idelette Muzart-Fonseca dos Santos deixa por uns dias sua cátedra na Université Paris Ouest Nanterre La Défense e aporta para o I Colóquio Internacional Vozes – de 16 a 20 de agosto, na UFRN.

Doutora pela Sorbonne com tese sobre Ariano Suassuna e o Movimento Armorial, atualmente orienta a tese da jornalista potyguar Márcia Pinheiro, “Cultura popular nordestina: cantorias – entre instrumentalização e resistência”, cujo ponto de partida foi o estudo de caso da caravana dos poetas populares pela reforma agrária, em 1987.

Em paralelo, acontece o II Encontro de Pós-graduação em Artes Cênicas.

CULT

A Associação Companhia Terramar, a Companhia Teatral Arte Viva, o Espaço Cultural Casa da Ribeira, a Fundação Félix Rodrigues e a Galeria Zoon de Fotografia foram os premiados deste e neste Ryo Grande entre os 66 Pontos de Cultura habilitados no Prêmio Asas, do Ministério da Cultura.

Liberdade

Amanhã tem lançamento do segundo livro de Flor Atirupa, “O menino Sorriso e a bicicleta Liberdade”. No festival literário da Siciliano, Natal Shopping Center.

PROSA

“Só os poetas crêem que o sentido das palavras é apenas uma forma com a qual os realistas que eles são jamais poderiam contentar-se.”

Roland Barthes

Mitologias

VERSO

“Mas voltemos ao fim: / Naquela época nós ainda acreditávamos nisso”

Enzensberger

“O naufrágio do Titanic”

Um comentário:

  1. Estou aqui por uma razão, pedir para você deixar no meu blog uma mensagem contra a VIOLÊNCIA no TRÂNSITO, no post " JUSTIÇA".

    Sei que o irresponsável e os seus advogados procuram no Google notícias que tenham o nome do autor do crime, essa seria uma maneira de comunicarmos com ele e mostrarmos o nosso repúdio.A violência no trânsito mata mais do que as guerras.
    Estou lutando duas vezes, uma contra o poder econômico do criminoso e outra contra o desrespeito as nossas leis.
    Conto com a tua colaboração.
    Gemária Sampaio

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