terça-feira, 4 de agosto de 2009

Eu desconfio dos cabelos longos da sua cabeça se você deixou crescer de um ano pra cá


60 anos da publicação de “1984”, o livro-cult de George Orwell, e me lembro quando comprei o meu exemplar numa banca próxima, ¼ de século atrás. Foi um dos primeiros livros vendidos em banca, fugindo do esquema clássico das livrarias. Se não me engano era uma cigarreira na lateral do Mercado de Petrópolis, Rua Trairi. Quase em frente tinha o restaurante Xique-Xique, hoje tem o Buongustaio. Ao lado tinha Zequinha, que fumava sem parar, as unhas encardidas, mas o coco era bem gelado e o caldo de cana era servido com gelo feito do próprio caldo de cana. Zequinha andou um tempo revendendo uns besouros, salvo engano, besouros indianos. Algumas pessoas eram adeptas da alimentação dos bichos, que deviam ser ingeridos vivos. Não dava nenhuma lombra, claro, apenas os famosos benefícios à saúde, que àquela época já se buscava sem a sofreguidão dos dias atuais.

Hoje, onde Zequinha empunhava o facão e abria cocos verdes, tem uma loja de roupas, femininas, me parece. Naquele tempo se dizia “butique”. Tinha uma música, que tocava sem parar, acho que de Genival Lacerda, dizia assim: “Ele tá de olho é na butique dela / Ele tá de olho é na butique dela”. Era o refrão. Uma maravilha. A butique como metáfora dos interesses – sexual e econômico. Genival Lacerda era um Gênio – um Gênioval Lacerda. Meu irmão, que gosta desses trocadilhos, tinha uma fita (se dizia, abreviando, fita K-7), e foi nossa primeira incursão por um ritmo que escapava ao rock e à maioria do que ouvíamos, à época, “da terra” – quase sempre do Nordeste Tropical: Gil, Ednardo e o Pessoal do Ceará, Elba e Zé Ramalho, Alceu (que cantava “Eu desconfio dos cabelos longos da sua cabeça se você deixou crescer de um ano pra cá”).

Pois. Se alguém souber de Genival Lacerda, me avise.

Em verdade, em verdade, isso foi antes de 1984. (Como também foi antes de 84, a Copa do Mundo da Espanha – e eu, já descrente dos 22 homens e uma bola, aproveitei o intervalo entre e o primeiro e o segundo tempo e fui até a mesma banca de revistas comprar uma Playboy, com Tássia Camargo na capa e umas garotas da Espanha como aperitivo.)

60 anos de “1984”, de George Orwell e é do que me lembro – além da contracapa cheia de citações onde se podia entreler uma arenga entre Caetano Veloso e Paulo Francis. Não tenho a menor idéia onde foi parar essa edição. Caetano tá vivo, Francis morreu. E eu já não desconfio dos cabelos longos da cabeça de ninguém. Nem mesmo dos escovados.

*

MagníficoS

Começa hoje a 5a Feira do Livro de Mossoró City e o III Terceiro Festival Literário de Natal. Incansável, Diógenes da Cunha Lima lança – hoje, na abertura deste último – mais uma biografia, desta vez sobre o ex-reitor da UFRN, Onofre Lopes. O título é mais que apropriado: “O Magnífico”. Antes de autografar, Diógenes divide mesa e debate com outros magníficos – Daladier da Cunha Lima, Ivonildo Rêgo e, exceção que confirma a regra, o médico Heriberto Bezerra, o único que não foi reitor.

Por falar em Diógenes, uma associação de amigos e colegas está se articulando para lançar sua candidatura à presidência da OAB-RN.

MagníficoS II

Mais pra tarde, o Festival bota frente a frente Fabrício Carpinejar e Pablo Capistrano, e o primeiro autografa “Terceira sede” – curiosamente, oito anos depois do seu lançamento, o que não significa necessariamente, claro, que somos atrasados.

A Feira do Livro acontece na Estação das Artes Elizeu Ventania, em Mossoró City, e o Festival Literário na Praça de Eventos do Natal Shopping de Natal.

Azuis

Quem perdeu o Natal Blues Festival do Budda Pub pode conferir alguns drops do evento no sítio www.mudernage.com.br.

Náusea

O acidente de Massa, a vitória de Cielo – por que será que essas coisas não me comovem, não me interessam, e, exagerando, claro, chegam a me provocar engulhos?

Náusea II

Adaptando a nota anterior para os limites do twitter:

Acidente de Massa, vitória de Cielo – por que será que essas coisas não me comovem, não me interessam, e, chegam a me provocar engulhos?

Náusea III

Millôr Fernandes no twitter: “Dinheiro compra até amor verdadeiro.”

O que comprova que a mensagem – ao contrário do enunciado de McLuhan – pode ser bem melhor que o meio.

PROSA

“O mito é uma fala.”

Roland Barthes

Mitologias

VERSO

“É, minha odalisca, / você já deve ter notado como sou eloqüente / com minhas mentiras.”

Enzensberger

“O naufrágio do Titanic”

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