segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Adivinhe quem vem para o café-da-manhã: Eugênio Meio-Quilo

Cultura 310709

Primeira dúvida: colocar o nome verdadeiro (Eugênio Pereira Soares) ou o apelido conhecido por todos? – Escolho a alcunha – afinal, é o próprio Eugênio quem me diz que, dos meus 6 ½ leitores fiéis, ele é o ½ . Desconsiderem os elogios e degustem, pois, o que um verdadeiro chef vos oferece:

AO MESTRE CUCA, COM CARINHO
O convite não veio através de “rilize”. Foi feito pessoalmente. Encarei como uma troca, pois todo dia tenho no seu papel de embrulhar peixe uma ótima companhia no meu café da manhã. Claro que me refiro ao dono desse canto de página que aos sábados traz sempre um convidado. O cardápio varia sempre e nem sei que prato tenho a oferecer, na dúvida entre um autêntico café seridoense ou uma refeição mais frugal.
Mas tudo na vida é uma questão de escolha, da quantidade de calorias que ingerimos ao que lemos. Por isso o jornal (e por extensão, o jornalismo) guarda sim uma grande semelhança com a culinária, como bem observou um ministro do supremo. Não sei por que tanta celeuma em torno disso. Deveríamos até agradecer a comparação. Ora, se você é o que come, da mesma forma o que lemos nos transforma, certamente.
Quem escreve, como um bom cozinheiro, tem que saber usar os ingredientes certos, inovar sem assustar o paladar do cliente, combinar a entrada, prato principal, bebida e deixar ao fim da refeição a sensação agradável e o desejo de retornar.
Mas sempre tem o risco (ah, os riscos!) de se comer gato por lebre. É na cozinha dos restaurantes e das redações onde mora o perigo. Tem muito sarapatel duvidoso sendo vendido como foie gras e também muito jabá sendo oferecido à clientela faminta de novidades a cada minuto. Aliás, uma combinação típica do nosso Rio Grande: jerimum com jabá, a peça de resistência de muitos cozinheiros/jornalistas por esse estado afora.
Mas não pensem os nobres comensais que o perigo se esconde na quantidade. O alimento estragado, assim como o texto, faz tanto mal se consumido em prato cheio ou em educadas porções de degustação. O veneno é letal tanto nas laudas fartas dos periódicos mais vendidos quanto nos 140 toques das mídias emergentes dos emergentes.
Então, cuidado com o que lêem e com o que comem no café da manhã, nos almoços franqueados e até mesmo no que te oferecem no X-tudo da esquina. Lembre-se que longe do X em questão ser uma aproximação fonética para o cheese, o queijo, em inglês, ele se refere muito mais à incógnita matemática, numa pista involuntária do desconhecido por trás de tudo aquilo que engolimos sem procurar saber o que se passa na cozinha ou qual a verdadeira intenção do cozinheiro.
Bom, mas o assunto aqui é muito mais a boa companhia que essa coluna me faz ao café da manhã, agora que larguei o mouse para me debruçar sobre as folhas toda manhãzinha, sujando os dedos de manteiga e tinta de impressão. Convenhamos, o mouse não dá o mesmo prazer e isso vai dar ainda uma sobrevida aos jornais, indiferente das previsões apocalípticas que lemos, nos próprios jornais. Outra coisa boa é que o texto impresso no jornal nos dá mais a ilusão (falsa, vá lá) de que alguém está escrevendo para nós. Diferente dos blogs e similares onde percebe-se mais claramente que cada autor está escrevendo para si próprio.
Mesmo assim visito vários, leitor compulsivo que sou. Leio, mas raramente me meto nas discussões. Na maioria das vezes por puro medo. Medo de iniciar um incidente internacional ou uma briga de proporções bíblicas e arengas dessas que fizeram a fama de alguns municípios com mortes recorrentes entre as famílias por gerações e gerações.
O exagero do parágrafo anterior é proporcional à fúria que vejo escrita cotidianamente nos “posts” daqui e de alhures. Eu mesmo já estabeleci uma relação entre escrever na internet e dirigir carros. Falta aos acadêmicos de plantão aprofundarem essa teoria. Da mesma forma como o carro desperta o instinto mais primitivo no motorista o blog também parece acordar a besta fera adormecida em cada um, com o agravante que na escrita não existe convenções para deixar claro o que é ironia ou piada e o que vemos é uma sucessão de mal entendidos que nos remete à Babel, quando, a exemplo da ONU, Deus quis que todos falassem línguas diferentes para não chegarem nunca a acordo algum.
Mas já é hora de tirar a mesa, recolher as xícaras e pratos e agradecer o convite generoso. Neste sábado terei a companhia de mim mesmo para o café da manhã. Fico feliz que ainda existam tantos outros companheiros de mesa e notícia. Aos mais descrentes desse papel de cozinheiros das palavras, peço que acreditem. Não está piorando, só tem mais opções no cardápio. E ai como sempre é ter paladar para descobrir o que cheira mal antes de engolir essa ou aquela notícia.
Então, cautela na escolha do seu cardápio noticioso. Lembre-se: o que faz um bom prato é a perícia do cozinheiro e a qualidade dos ingredientes. Da mesma forma como é preciso bons atributos (fontes sérias, inteligência e estilo) para tirar do forno um bom texto, como esses que sempre me fazem companhia no café da manhã e deixam meu dia sempre mais gostoso. Obrigado, Mário Ivo, pelo convite e pela agradável companhia matinal de sempre. [Eugênio “Meio-Quilo” Pereira Soares]

PROSA
“Não era correto, no início de uma refeição, o convidado não dar atenção à anfitriã e iniciar uma conversa a dois.”
Ian McEwan
Reparação
VERSO
“Por contemplar o céu / não estou sozinho agora.”
Gilberto Avelino
“Canto-confissão”

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