terça-feira, 7 de julho de 2009

Meu amor

A ex-senadora Heloísa Helena nas páginas da Veja desta semana:

“A podridão é generalizada, meu amor. Na política, só quem é bandido não fica estressado nem à beira de um ataque de nervos, como eu.”

A afirmação é resposta a pergunta anterior, “O que é pior: a Câmara de Maceió ou o Senado?”.

Podre um, podre a outra, são todos podres, pois, um Reino da Dinamarca em cada município, o mar de lama espraiando suas margens nem sempre plácidas pelas Câmaras Municipais espalhadas, em igual medida, pelos quatro cantos deste País Varonil e Gigante Pela Própria Natureza, e pelo Senado Federal, único, indivisível, epicentro e Aleph deste povo que se jacta ser o melhor em quase tudo, inclusive em sacanagem e jeito diminutivo.

O Aleph, vocês sabem, é aquele objeto mágico, escondido num porão da Rua Garay, em Buenos Aires, e que contém todos os lugares do universo em seus dois ou três centímetros de diâmetro. Uma esfera fulgurante e furta-cor.

O Senado Federal é o Aleph do Brazil. E dos brazileiros. No bem, no mal, no pior.

O Aleph original está no conto homônimo de Jorge Luis Borges, que começa com o narrador observando a mudança da publicidade em um painel na Praça Constitución, alterada para um novo anúncio de cigarros.

Se no Brazil fosse, os cigarros poderiam ser aqueles Vila Rica, cantados e decantados pelo jogador de futebol Gérson, que se jactava e falava em nome da tribo: “Você também quer levar vantagem em tudo, certo?”

Certo, neném, certo, meu bem, certo, meu amor.

Pois não é bem de podres, bandidagem, estresse, e nervos sob ataque que quero aqui falar – mas desse jeitinho amável que os brasilianos exercitam diariamente, como se nada fosse: “Meu amor, sua reclamação será anotada e estaremos providenciando seu pedido”, canta a mocinha do call center. “Meu amor, não posso fazer nada, volte amanhã”, diz a outra mocinha da recepção burocrática. Até uma ex-senadora da república falando à imprensa: “Meu amor, meu benzinho, isso aqui tá uma merda, mas fazer o quê?”

Um país de apaixonados, pois. Podremente apaixonados.

*

PIB

Olha que estado democrático e pleno de arroubos de cidadania este Ryo Grande: 4.800 pessoas foram às ruas de São José de Campestre para manifestarem seu apoio a um dos candidatos à eleição do próximo dia 26 – já que o prefeito foi cassado. O município tem 11.744 habitantes, segundo o IBGE – que informa também o PIB per capita: R$ 2.819. Ou 1.424 dólares.

Com certeza os campestrenses foram às ruas ansiosos em votar e elevar seu PIB através do voto no final do mês.

FONDUE

Monte das Gameleiras é uma beleza só: encravada pertinho do céu, 2.394 almas (hoje passo o dia no sítio do IBGE), PIB de R$ 3.754, clima serrano e tal. Pois, a partir da próxima sexta, começa o “5o Arraiá da Galega”. Que galega é essa? Sei não, mas o evento conta com festival da cachaça e uma ruma de shows (aí incluídos os artistas Louro Santos, Vitor Santos e Arnaldo Farias, e as bandas Forrozão Tá na Cara e Moleca Dengosa). Pra harmonizar com a programação e os sonoros nomes das bandas, rola também provas de quadriciclo e mountain bike e um rodízio de – adivinhem? – fondue.

Que se pronuncia assim, fazendo biquinho: fon-dí.

CASADOURO

O sobrescrito não sabe onde estava com a cabeça quando perdeu, sábado último, o evento “Casar bem”, promovido por uma loja da City. Teve dicas de maquiagem (especial para as noivinhas), apresentação de três opções de vestidos para cada tipo de festa, mostra dos tipos de alianças mais usadas, sugestões para as caixetas (?) para a mesa de doces, e os indispensáveis convites, “ideais para cada perfil de noivos”.

(Ah! Me lembrei: eu tava tomando cachaça, sem direito a fondue.)

TECHNO GIRL

A vereadora Julinha Arruda está melhor do que os tuiteiros de plantão: colocou em seu sítio na rede mundial de computadores a ferramenta do Google maps – clicando no mapa deste Arraial o cidadão confere os requerimentos da moça para cada bairro.

Se ela entrar no twitter, prometo acompanhar.

TROCO

“Uma vez reclamaram porque ele artesanou um soldado batendo num bêbado, aí ele não teve dúvida e moldou o bêbado batendo no soldado.” – do professor-doutor João da Mata Costa, falando sobre Mestre Vitalino, cujo centenário do nascimento acontece dia 10.

PROSA

“Se houvesse um dique separando Brasília do resto do país e alguém fizesse um buraco acabaríamos todos sujos de merda e sangue.”

Fausto Wolff

A imprensa livre de

VERSO

“Se me quiser de novo me procure sob a sola de suas botas.”

Walt Whitman

“Folhas de relva”

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