quinta-feira, 30 de julho de 2009

Bandidos e mocinhos


Eu gostaria de passar todo o tempo aqui reafirmando o quanto é bom o último filme de Johnny Depp. De como Marion Cotillard está bonita e encantadora com aqueles olhos de ressaca como uma Capitu gringa, meio francesa, meio americana, meio índia. De como o som das rajadas de metralhadoras são um efeito à parte no último filme de Michael Mann, quase poesias, sonoras, visuais, secas, contidas em sua multiplicação infinita muito além do mero ra-tá-tá. De como não lembro o que danado o tal diretor dirigiu antes. De como me fez recordar, de longe, muito longe, o casal Bonnie & Clyde, Warren Beatty & Faye Dunaway, e “Raindrops keep fallin’ on my head” – que na verdade é de “Butch Cassidy & Sundance Kid”. De como lembrei – com nostalgia mas sem saudade – de alguns filmes de Scorsese, e de “Era uma vez na América” (e de alguma cena ou clima de “Estrada da perdição”). De como o filme deve evocar inconscientemente o pequeno projeto de macho que fomos alguma dia brincando de polícia e ladrão. De como tem uma adrenalina, às vezes besta, às vezes fácil, às vezes sim, às vezes não, mas, realmente, eficaz. De como nos faz encostar no fundo da poltrona e descruzar as pernas só quando elas começam a ficar dormentes.

Mas. Nada.

Não consigo esquecer que a tal da cadeia Cinemark continua destratando seus clientes, de como os funcionários parecem e aparecem cada vez menos, de como – na exibição de terça passada, noite – isolaram metade do cinema com aquelas faixas de plástico de cena de crime americano, porque decidiram lavar metade das poltronas, ou dedetizar metade das poltronas, mas como, provavelmente, na sessão anterior romperam as fitas a gente só percebe que tem algo errado quando senta numa delas e sente aquela coisa ainda úmida e inda fica na dúvida se não é que é mesmo veneno pra rato, mas termina ficando sentado no mesmo lugar porque dá preguiça levantar e não é que sejamos ou haveremos de ser assim tão sensíveis a ponto de sair do cinema com uma gripe H1N1 por conta da umidade na bunda e nas costas – e depois, vai que seguimos o exemplo desses filmes americanos tipo “Erin Brockovich” e processamos o Cinemark e faturamos uma grana em cima deles e, acima de tudo, em cima desse modo de tratar mal o cliente pagante.

Como também não poderia esquecer do casalzinho na fileira de trás que passou o filme inteiro a conversar, tudo bem, falavam em voz baixa, mas será que essa gente não consegue fechar a boca nem em filme de ação? Pqp. E você sabem bem o que significa pqp, não carece escrever por extenso, basta repetir, uma, duas, três vezes, pqp, pqp, pqp. Eles não arrulharam nem nada, vocês sabem, só os pombos e os casais extremamente apaixonados arrulham e se confundem nesses eflúvios de amor, mas, enfim, talvez para combater a timidez do primeiro encontro, sentiram a necessidade e se sentiram no direito de conversar, pra quebrar o gelo. O que me fez pensar que o negócio todo vai de mal a pior: se as novas gerações não conseguem assistir caladas cenas de tiroteio como se faz para assistir na telona qualquer filme mais, digamos, “cabeça”?

*

EM TEMPO

Os bandidos do título acima, claro, são a rede internacional de tráfico de pipocas.

O mocinho – ah, o mocinho devia fechar o bico e beijar a mocinha, putz: afinal, não é pra isso, também, que se vai ao cinema?

BOMBRIL

Os fãs, as fãs, os adictos, os tuiteiros, enfim, enviam mensagens procurando provar por a mais b que a rede social é que nem a palha de aço.

Uma das tantas utilidades, por exemplo, é difundir ainda mais o próprio sítio – como faz o (francês) Mille-Poètes.com – me informa leitora francófona.

Não sei onde leram que o sobrescrito é contra o twitter – sou contra apenas um jornalismo feito em 140 tapinhas nas costas ou piscadas de olho.

Tiririca

Já leitor papajerimunófono acha incrível uma casa como o Teatro Alberto Maranhão acolher um espetáculo de Tiririca – que define como “nitrato de pó de merda”.

Incrível, mesmo, é, passados mais de cem anos de sua inauguração continuarmos com um único – praticamente – teatro na City, essa Londres-Miami-Dubai Nordestina.

SURSUM CORDA

Está doente do peito? Doente do coração? Se o lance for fisiológico, solução haverá: vai até sábado o 19o Congresso Norte/Nordeste de Cardiologia. No Centro de Convenções da Via Costeira.

Já se o troço bater, além de no peito, também nas idéias – como na letra de Sergio Sampaio – aí, meu bem, é rezar.

COLORS

A pizzaria Calígula, Ribeyra, recebe hoje e até o dia 14 de agosto a exposição “Cores em movimento”, da artista Evelyn Gumiel.

PROSA

“Os poetas. Mas o que os poetas sabiam a respeito da sobrevivência?”

Ian McEwan

Reparação

VERSO

“Fundo é o amor, / se o amor persiste.”

Gilberto Avelino

“Noturno X”

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