sábado, 11 de julho de 2009

Adivinhe quem vem para o café-da-manhã: Paulo Araújo

“O jornalista curraisnovense Paulo Araújo morou em Angola de julho a dezembro do ano passado. A convite do Ministério das Comunicações de lá, ajudou a criar o primeiro jornal de economia e finanças do país que mais cresce na África hoje.”

A apresentação acima é do próprio Paulinho Araújo, sugestão para o sobrescrito, mas indicação, também, de como o rapaz é objetivo e bem mais modesto do que a maioria dos colegas de profissão e cargos públicos e privados.

O “Pequeno dicionário angolano” que segue é uma contribuição para enriquecer os conhecimentos do leitor e lembrar que estamos muito mais próximos de Luanda, Angola, do que de Lisboa, Portugal.

Pequeno dicionário angolano

ARQUITETURA

Luanda é um prato cheio para os amantes da arquitetura dos anos 60. Mas tudo precisa de reparos. Alguns imóveis foram demolidos pra dar lugar a prédios novos, inspirados na arquitetura de gosto duvidoso de Dubai e construídos ininterruptamente dia e noite por chineses. Junte-se o trânsito caótico e as gruas da construção, que se contam às centenas, e têm-se um cenário do filme “Blade runner”. Na zona sul da cidade predomina o “Alphaville way of life”.

BELEZA

As angolanas são altas, altivas, orgulhosas da beleza natural que têm. Pernas, barriga, bunda, tudo na mais perfeita harmonia. Os homens também são muito bonitos. Vê-los em propagandas na tv, jornal e outdoors é uma verdadeira lição de vida real para os nossos publicitários, que ainda teimam em retratar um Brasil cada vez mais moreno, metáfora caricata da Suécia que não somos.

BRASILEIROS

São imensamente amados pelos angolanos, que querem ser exatamente iguais a nós. Vão para lá trabalhar principalmente em construção civil e voltam ao Brasil a cada três meses para renovar o visto e rever a família. Moram em residências coletivas, andam em grupos e, no geral, morrem de saudades de lá e de cá. Geralmente, passam por um processo de desconstrução psicológica grave ao se deparar com tanta miséria convivendo lado a lado com bens de consumo que jamais serão vendidos no Brasil.

CAPITAL

Luanda, cujo nome completo é São Paulo da Assunção de Luanda, é, foi e sempre será um cidade belíssima, mesmo mergulhada no caos da guerra civil que lhe consumiu 30 anos de vida. Nos tempos gloriosos, era chamada de “Rio de Janeiro de África” ou a Lisboa dos Trópicos”. Ela fica exatamente no mesmo paralelo de Recife. Vivem em Luanda aproximadamente 6 milhões de habitantes. No país todo, talvez 14 milhões, numa área do tamanho do estado do Pará.

CLIMA

De maio a setembro, vive-se um inverno agradabilíssimo, chamado de “cacimbo”. Por causa de uma corrente marítima vinda do mar, o céu fica cinzento durante o dia e à noite faz um frio que exige casaco. É possível fitar diretamente o sol sem desconforto no final do dia, quando ele transforma-se numa bola de fogo amarela e põe-se no mar.

COMIDA

A base da comida angolana é a mesma da brasileira. A nossa galinha cabidela foi inventada por lá. O prato mais típico é um pirão feito de milho branco, chamado “funge”, que para nós lembra mais uma massa de tapioca mole, servido com cerimônia aos sábados, acompanhado de peixe como carapau ou quizaca. Uma angolana está pronta para casar, ali por volta dos 18 anos, quando sabe fazer um bom funge.

DOENÇAS

O paludismo e a febre amarela são as mais freqüentes, mas o combate é muito eficiente. É preciso estar atento à higiene dos alimentos. Os mais radicais não bebem nada com gelo, com medo da procedência da água. Comer hortaliças cruas também não é recomendável. O vírus da aids ainda acomete 40% da população, motivado principalmente pelo hábito cultural da poligamia.

ECONOMIA

Cresceu a taxas inacreditáveis de 25% ao ano, em média, até a crise financeira do ano passado. O país é presidente da Opep desde dezembro de 2008. Petróleo (1,9 milhão de barris/dia) e diamantes (9 milhões de quilates em 2007, sendo que só 40% das reservas foram exploradas) são as duas principais indústrias de base. Mas ainda falta tudo na indústria de transformação. Resultado: tudo que consome-se, exceto pouca coisa de agricultura, é importado. É a cidade mais cara do mundo para estrangeiros de acordo com o Banco Mundial. Uma rodada de pizza bate fácil nos 100 dólares – moeda corrente além do Kwanza (a cotação é de USD 75 para cada 1 Kwz). Uma garrafa de água (R$ 2,00), custa mais do que um litro de gasolina (R$ 0,40). [continua próximo sábado] [Paulo Araújo]

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PROSA

“Houve uma época em que o jornalismo foi parcialmente do povo.”

Fausto Wolff

A imprensa livre de

VERSO

“A qualidade de verdade num homem se sustenta em meio a todas as mudanças”

Walt Whitman

“Folhas de relva”

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