sábado, 4 de julho de 2009

Adivinhe quem vem para o café-da-manhã: Márcio Nazianzeno

Não existe muita dificuldade na figura de Márcio Nazianzeno a não ser o interlocutor lembrar e pronunciar corretamente o seu sobrenome. No mais, é figura afável e até discreta levando em consideração a profissão que exerce: publicitário – reino dos histriônicos por natureza ou vocação. Como todo redator – ou vice-versa – mantém um blog (confiram em http://queridobunker.wordpress.com), onde finda cada postagem com um clássico e simpático “abraço fraterno”.

Márcio N. (vamos facilitar) foi também sócio da Limbo, uma das muitas coisas boas que a cidade do já teve, já teve, pois.

Do liseu como estado de espírito

[Liseu – subst. fem. sing – na pindaíba]

É mais rico um homem que vai ao bauru e pede uma fatia extra de queijo por 50 centavos do que o outro que reclamou o preço do cafezinho na última viagem para a Europa.

O liseu é um estado de espírito, e a riqueza também.

Somente uma coisa, cidadão classe-média, define em qual lado da linha da miséria você está: sua forma de encarar as coisas. Você pode ser um otimista, onde a riqueza aparece mesmo na pobreza, ou um pessimista que torna o mais rico dos homens um pobretão - e aqui mora o perigo.

Não há nada mais genuinamente pobre do que reclamar, e, quando de barriga cheia, os ponteiros do detector de liseu se põem a rodar.

Encontrei um amigo que sempre gostou de reclamar. Reclamava na escola, seguiu resmungando na adolescência. Casou no civil, reclamou durante o casamento e agora se queixa dos honorários do advogado de divórcio.

Alguns fatores certamente agem em favor do liseu.

Acho que um deles é o casamento.

Lembro-me da máxima: “casou-se, reiou-se” – lida na camisa do cidadão flagrado outro dia na Praia dos Artistas. Sim, aquele homem podia ter a alma empertigada pelo liseu, mas soube juntar suas moedas para deixar uma mensagem ao mundo.

Eu gostaria de deixar também o meu recado:

DISTINÇÕES ENTRE LISO EM ESPÍRITO E O RICO EM INTENÇÃO

O liso em espírito reclama do aumento do pão.

O rico em espírito entra em dieta e deixa o pão.

O liso em espírito compra um carro em 60x e instala um tanque com gás natural.

O rico em espírito compra um Audi A3 e instala 3 loiras e 1 morena nos assentos.

O liso em espírito deixa o carro em casa pra economizar no combustível.

O rico em espírito deixa o carro em casa, mas por consciência ambiental.

O liso em espírito tem mulher, filhos, contas e a ração do cachorro.

O rico em espírito também, mas evita tocar nesse assunto em público.

O liso em espírito reclama.

O rico em espírito reflete.

O liso em espírito sempre pede embrulho para viagem no restaurante caro.

O rico em espírito vai ao boteco do bairro e oferece por conta uma rodada de cachaça.

E por aí vai, sempre na banguela.

Tenho um bom exemplo de cidadão liso em espírito, desembargador, com salário de mais de 20 mil por mês.

Ele adora assistir filmes. Mas o DVD é sempre pirata [ainda assim, se não conseguir baixar pela internet]. Cinema, só vale mesmo na promoção das quartas-feiras. Leva a pipoca de casa, e pede à moça do balcão pra ceder a manteiga. Nas férias só viaja para lugares onde tem um amigo para oferecer hospedagem. Isso, aliás, não é problema nenhum. Porque o pobre em espírito é tão chato, mas tão chato, que nunca viaja nem muito menos tem amigos.

Há o caso do pobre em espírito e também em corpo. Pois saiba que nunca desgraça é pouca que não possa ficar pior: o liso em corpo e espírito pode vir a se tornar um novo-rico em espírito. Nesses casos prestação e dívida são assuntos recorrentes em seu universo, cujo alegria é um crediário nas Casas Bahia ou, se você morar no Nordeste, nas lojas Insinuante. O novo rico em espírito tem uma televisão de plasma pesando no crediário.

Um fator determinante é que o liso em espírito não sabe o valor das coisas.

Gosta de camarão, mas para poupar prefere comprar carne, por mais que camarão em Natal custe metade do preço. O rico em espírito é um pouco diferente. escolhe a comida pelo lado direito do cardápio – “eu não como preço”, por mais que para isso seja necessário virar o livro de cabeça pra baixo.

Um minuto.

Sinto o cheiro de caviar vindo de algum lugar. Ou seria merda?

Um rico em espírito sabe a hora de se retirar.

Abraço fraterno, [Márcio N.]

PROSA

“Quando o mundo, no início do século XX, se refazia, Natal se fazia.”

Flávia Assaf

Perigo Iminente

VERSO

“O sol é um só. Por toda parte caminha. / Não o darei a ninguém. Ele é coisa minha.”

Marina Tsvetáieva

“O sol é um só...”

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