sexta-feira, 5 de junho de 2009

Toda nudez será castigada

Ao citar ontem uma das mui famosas máximas de Nelson Rodrigues (“No Estádio Mário Filho, ex-Maracanã, vaia-se até minuto de silêncio, e, como dizia o outro, vaia-se até mulher nua”) me veio em mente como a frase ficou, hoje, datada.
Continua genial, claro, pelo uso simbólico do absurdo extrapolado à quinta potência – mas, notem bem o ano em que foi enunciada: 1970. Quarenta anos no ano que vem.
Ora, mas que essa! Quarenta anos atrás a nudez da mulher era uma novidade sem tamanho. Assunto restrito a quatro paredes, onde acontecia tudo aquilo que normalmente envolve uma senhorinha, ainda mais nua: paixões, ciúmes, adultérios, sexo, enfim.
Época em que as mulheres não saíam nuas por aí. Ao menos facilmente. Nem seminuas. Nem com melancias, mamões, morangos e outras saladas de frutas à guisa de carne. Crua. Fresca.
Daí os maiores e melhores aplausos, equação que Rodrigues magistralmente inverte.
Pois não foi em 1970 – pra ser exato em outubro, 22, pleno meio-dia – que Leila Diniz vestiu (sim, vestiu) um biquíni prateado e saiu desfilando pela Avenida Rio Branco, centro e coração da Guanabara?
A história é contada na biografia assinada por Joaquim Ferreira dos Santos, lançada ano passado.
Leila era jurada no popular programa de TV de Flávio Cavalcanti e tinha feito uma aposta com um colega. No ar. Valor: três mil cruzeiros. O preço de uma coragem.
Só a revolucionária Leila para topar aquela parada. Pois, topou e desfilou na avenida. Com plumas, segundo o biógrafo, “para aplacar um pouco a nudez”. O povo, claro, gostou. Quem não gostou foi o ministro da Justiça que usou a performance como um dos argumentos para pedir a prisão da atriz.
É claro, muito claro, que os tempos eram outros, “ditabrandos” pra usar o neologismo da Folha de Sampa, mas, quarenta anos depois, perdeu-se a graça da nudez escondida, sugerida ou discretamente anunciada.
E a frase de Nelson Rodrigues há muito perdeu o sentido: de tão banais, mulheres gratuitamente nuas merecem mesmo ser vaiadas. No Maracanã ou em qualquer lugar.
*
HOT HOT HOT
Uau, uau, uau. Se depender de uma loja de lingeries, o Dia dos Namorados vai ser tudo menos macabro como naquele famoso filme: na próxima terça, 9, rolam duas sessões (16h e 19h) intituladas “Love Session”.
O que é? Bueno, além do tradicional desfile, tem palestra sobre sedução a cargo de Shahar Danyny – que com esse nome é claro que é professora de danças orientais.
Os cromossomos X e Y nem animem: vai ser no mezanino do Alamanda Mall, mas, para convidadas. Com “a”.
KUNG FU FIGHTING
Palestra que provavelmente o ator David Carradine não assistiu – senão não teria morrido, dizem, num joguinho erótico, com a corda no pescoço e nos genitais. Ontem, na Tailândia.
GALETO
O brasileiro “A mulher invisível” já estreou nos cinemas. No Cinemark e no Moviecom. Nos dois, a mulher que não existe (enquanto imaginada por Selton Mello) é a mesma: Luana Piovani.
É impossível ao sobrescrito citar Luana sem lembrar o publicitário Leandro Mendes: ele era atendimento quando eu era redator e La Piovani fazia um VT para a Galeteria do Chiquinho.
Tempos da Dumbo e lá vai fumaça.
COLEIRA
Domingo é dia de exposição no Praia Shopping – de cães, e cadelas, pois não.
Promovida pelo Kennel Club deste Ryo Grande, a exposição é também concurso, quase uma espécie de Copa do Mundo da cachorrada – não a toa concorrem melhores-amigos-do-homem até da Argentina.
Das 8h às 18h. De grátis.
ARRAIÁ
Amanhã tem “Arraiá do Pote”, com a cantora mineira Irah Caldeira e o sanfoneiro Zé Hilton – um dos melhores deste Ryo Grande e além fronteiras. Informações: 3081.3163.
RECICLAR
Hoje acontece o 2º Dia Temático do Projeto Amigos da Escola 2009, em torno ao tema da semana – Educação Ambiental, claro.
Acontece na Escola Potiguassu, em Igapó, com palestras e um monte de oficinas – tem de tapetes feitos com saco plástico, de lacre de latinhas com crochê, de garrafas peti e de fuxico.
E ainda rola um desfile de roupas de material reciclado.
MISÉRIA
Hoje tem uma ruma de coisas no Espaço Cultural Francisco das Chagas Bezerra de Araújo: são exposições de artesanato, rodas de capoeira, shows de hip hop, caminhada, palestras, atendimento jurídico e psicológico etc. Tudo de grátis, claro.
Rola ainda o indefectível café-da-manhã, que, como se sabe, o povo quer o circo mas também o pão.
Pra quem não sabe Francisco das Chagas Bezerra de Araújo era o popular Chico Miséria, produtor cultural no tempo em que a Capital tinha um poeta em cada esquina e poucos produtores culturais – equação invertida nos dias correntes.



PROSA
“Comendo ela encontrava o jeito de se alongar na cadeira e colocar à vista do velho as pernas elegantemente vestidas.”
Italo Svevo
Argo e seu dono
VERSO
“efêmero é o amor sem corpo.”
Napoleão de Paiva
“amor veneris”

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