domingo, 21 de junho de 2009

Adivinhe quem vem para o café-da-manhã: Luiz Gonzaga Cortez

[200609 sábado]

O jornalista e pesquisador Luiz Gonzaga Cortez poderia ser a pessoa indicada para comentar o fim da exigência de diploma de jornalista – seu pai, Manoel Genésio, era comerciante, e, integralista, mandava notícias do interior para o jornal (católico e, à época, ligado ao integralismo) A Ordem, anos 30. O próprio Cortez, formado pela UFRN em 79, numa turma de apenas quatro diplomados, enveredou para um jornalismo especializado em temas, coisa que não se ensinava nem se aprendia no curso: suas reportagens costumavam provocar polêmicas e, em 1985, publicou uma série de matérias sobre o “O comunismo e as lutas políticas no Rio Grande do Norte”, sendo autor de muitos livros, entre os quais “Cientistas e pesquisadores norte-rio-grandenses”, safra 1983, única obra, até hoje, sobre o tema.
Como agora jornalista e cozinheiro é tudo a mesma coisa, o mestre-cuca Cortez serve a vocês, neste café-da-manhã, uma saborosa Cangica – com gê, mesmo: revista natalense encontrada na velha casa da família, na Rua Felipe Camarão, 453, Cidade Alta.


PARA AS FESTAS JUNINAS
A revista “A Cangica” (com g mesmo), que circulou em Natal nos anos 30, editada por Francisco Tibyro, não tem páginas numeradas nem o nome da tipografia que imprimiu o número 06, junho de 1931, que eu tenho em mãos como preciosa relíquia documental das festas sãojoanescas do passado. Creio que existam outros exemplares na Biblioteca do Instituto Histórico e Geográfico do RN, em sebos e colecionadores. Além de não registrar nenhuma menção ao folclorista Luís da Câmara Cascudo, nesta edição (não conheço as anteriores), a página que seria a dois das 48 páginas, caso estivessem numeradas, traz uma revelação importante para mim. Um simples anúncio de bar é uma prova inconteste de que a expressão “lunch”, que originou o nosso “lanche”, já era usual em 1931, em Natal. Portanto, muitos anos antes da chegada dos americanos em Natal, durante a Segunda Guerra (1942-1946). Então, é conversa fiada que lanche “pegou” em Natal por causa dos americanos. O simplório anúncio do “Aéro-Bar”, de Vicente Romano, tinha o seguinte texto:
“O mais completo e hygienico serviço de bar. Sorvetes, cremes, refrescos, frios, leite, qualhada, lunches, chocolates, café, bolos, bebidas geladas, etc. Activo serviço de garçons. Avenida Tavares de Lyra – Ribeira.”
Para os padrões modernos, “A Cangica” recebia bom respaldo privado, principalmente de farmácias, armazéns, bares, restaurantes, importadores de veículos e máquinas de Natal e Macaíba, e estrangeiros. Sim, há uma publicidade da “Companhia Générale Aeropostale – C.G.A. – Serviço Postal Aéreo – Europa – Africa – Sul America”, que funcionava na Avenida Tavares de Lyra, 34, e que anunciava “correio para todas as partes do mundo”, na sexta-feira para o sul e no sábado para a Europa.
Naqueles tempos as mulheres não usavam bolsas, mas carteiras, conforme anúncio de página inteira da firma A. Mesquita & Cia, na Praça Augusto Severo, que tinha a loja Natal Modelo com “a mais alta novidade em chapéos para homens, senhoras e creanças”. Além de anúncios dos bares como a Cova da Onça, de Leite & Cia. dentre outros, há outros de O Bazar Carioca, de Pedro Affonso, Carlos Elihimas & Companhia, Agencia Internacional, Fábrica de Cigarros Vigilante etc. Seria cansativo registrar todos os anúncios dos comerciantes da Ribeira e Cidade Alta. Publicidade oficial não há, assim como nenhum registro de atividade política. Só São João. Crônicas, sonetos, poemas, contos e pequenas histórias, algumas simplórias.
O poeta Jayme Wanderley é um dos que ocupam mais espaços na revista e autor do editorial “O calor das fogueiras”, do qual transcrevo um trecho sobre os folguedos sãojoanescos daqueles tempos, mantendo a grafia da época:
“As morenas timoratas, aquellas cujos olhos luminosos de esperanças rodeiam as mezas das advinhações caseiras; aquelas que procuram um prato tradicional de cangica, não a cabeça ensangüentada de um amoroso e romântico apaixonado, mas que cubiçam e cuidam encontrar a aliança que foi jogada no tacho fervente do doce gostoso, para saber o bom ou mau prenuncio, que lhes pode advir do casamento, as travessas, as inquietas, as deliciosas raparigas que fazem o sonho promissor depois dos jejuns, de sortilégios e rezas suspeitas, para ver se logram ou não a conquista do amor por que anseiam; as que brincam á margem das fogueiras crepitadoras, que alteiam a chamma entre improvisados jardins nos terreiros das vivendas em festas e se casam e se baptisam e se tomam de afinidades familiares, entre o alarido da creançada, o estalejar da lenha verde ardendo e a toada monótona dos violeiros adestrados, que rebatem e repinicam o hexacordio melodioso, de cujo bojo sonoro se desprende o rytmo suggestivo das CAPELLINHAS DE MELÃO e da scenas bizarras dos PASTORIS, todas essas bonecas anonymas, sereias de exquesitas seduções, imbuídas de superstições e de crendices, se illudem para enganar a alma que precisa de illusões”.
Ufa! [Luiz Gonzaga Cortez]



PROSA
“De novo. Não mais. Escuro amor, escuro ardor. Não mais. Escuridade.”
James Joyce
Giacomo Joyce
VERSO
“Não será necessário deixar a cama. / Só a aurora entrará nesse quarto vago.”
Cesare Pavese
“O paraíso sobre...”

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