quinta-feira, 7 de maio de 2009

Santa moda

O Brazil é um país estranho. Quando o punk surgiu, pegando, obviamente, o bonde atrasado, o paulista Antonio Bivar não apenas embarcou nele, mas foi o seu mais legítimo embaixador intelectual, além da marginalidade e dentro dela.
Escreveu, aliás, livrinho fundamental para se entender o movimento – “O que é punk” – numa coleçãozinha que a Brasiliense editava lá pelos idos da década de 80 e lá vai fumaça. O nome da coleção? Primeiros passos – farinha láctea, neston, cremogema, pra muitos de nós, sobreviventes.
Escreveu também um relato autobiográfico – “Verdes vales do fim do mundo” – onde narrava suas aventuras européias no início dos setenta. A editora era a gaúcha L&PM, que, junto com a Brasiliense, deitava e rolava – procurem nos sebos a Coleção Alma Beat, com Burroughs, Ferlinghetti, Ginsberg e, off course, Kerouac (ainda não falei? Bivar co-traduziu “On the Road”, com Peninha, aka Eduardo Bueno).
Pois, Bivar me reaparece nas páginas de uma revistinha, revistona, bem interessante, a Mag! (ainda mais depois que a Bravo!, a Piauí, e congêneres, ficaram pra lá de insossas). A Mag! é uma derivação da São Paulo Fashion Week, um negócio que imagino ser daqueles vultuosos, vultuosíssimos. Não à toa, a revista, quase 300 páginas, custa salgados R$ 18,90.
O número 13 é dedicado às crenças e descrenças, ou seja, superstições e costumes, incluindo religião e tal. Dividida nas seções “Sagração”, “Revelação”, “Visão” e “Profanação”, tem ensaios fotográficos (Roberta Dabdab, sobre o coração, sagrado, ou não; e Christian Cravo, sobre vodu haitiano), ensaios-reportagem (sobre culto ao corpo, fé na sorte, cientologia, gurus etc.) e, como não poderia deixar de ser, ensaio de moda.
Bivar aparece fazendo uma listinha que Moacy Cirne não pode deixar de dar uma conferida: “As dez santas mais elegantes”. Uau. A moda chegou ao Paraíso – mas, também, não é de hoje: o papa não usa óculos Prada e sapatos Valentino?
E quais são as dez mais? Pois: 1. Santa Clara, padroeira da televisão; 2. Santa Cecília, padroeira dos músicos; 3. Santa Rita de Cássia, santa dos impossíveis; 4. Santa Bárbara, dos arquitetos e construtores; 5. Santa Marta, das cozinheiras; 6. Santa Inês, protetora da pureza e da castidade; 7. Santa Joana D’Arc, padroeira da França (e, por extensão, de Carla Bruni, acrescento eu); 8. Santa Edwiges, protetora dos pobres e endividados; 9. Santa Bakhita, padroeira do Sudão; e, por fim, 10. Santa Maria Madalena, padroeira, dizem, da mãe solteira, dos cabeleireiros, estilistas, podólogos, perfumistas, manicures e prostitutas.
Quanto às “superstições e costumes”, citadas no quinto parágrafo, para decepção dos cascudófilos e cascudianos de plantão, a matéria sobre crendices e simpatias não cita uma só vez o nosso Bruxo da Junqueyra Ayres, mas um tal “Livro das crendices”, da PubliFolha. Aí me vem de dizer, contrito no altar do bairrismo: Santa Ignorância!
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BOY SCOUT
Mesmo sendo pai de uma “scout”, o sobrescrito não se contém, e relembra a definição hilária e politicamente incorreta para os escoteiros, autor anônimo: “Um bando de meninos vestidos de idiotas comandados por um idiota vestido de menino”.
Claro que não é assim. Perdão antecipado a quem se sentir ofendido. Vou ali me ajoelhar no milho. Esqueçam e prestigiem o Dia Internacional do Escotismo, que será comemorado hoje, 18h, na Escola Doméstica. O poeta Henrique Castriciano foi escoteiro. Padre Penha, se não é o último boy scout, é o mais antigo neste Ryo Grande. E a governadora também vai se homenageada nas celebrações de hoje.
DESPLUGADO
Hoje tem Experiência Duo (ou Apyus acústico). Na Quinta Experimental do Budda Pub. Dez da noite. Oito paus a entrada.
TOCA RAUL
A clássica “Floresta marrom”, do Alcatéia Maldita, já está na rede, MySpace. Procurem. Ouçam. E, hoje, dêem um pulo no TCP, 21h. O nome do show diz algo: “Os donOtários das Capitanias Hereditárias”. Ingressos a cinco contos, apenas.
SSSS-SIM
“Meu sim”, música de Sueldo Soaress, rendeu um clipe que, claro, já está no YouTube. Procurem. Vejam. Ouçam. E comprem o CD “Trilhas”, na Livraria Universitária e na Poty Livros.
HELMUT
Oswaldo Ribeiro postou sua homenagem a Helmut no YouTube. Procurem. Vejam. Ouçam. E comprem um dos dois livros do falecido no Sebo Vermelho.
MANO, MINA
Aproveitem que Fialho parou de enviar emails-convite e dêem as caras logo mais à noite na livraria do Midway. O bonitão vai assinar “Mano Celo, o rapper natalense”. Pros mano, e pras mina, também.
MUSA
E pra quem gosta de Bossa Nova, o jornalista cearense radicado em Pernambuco Cássio Cavalcante lança hoje “Nara Leão, a musa dos trópicos”, na Poty Livros do Praia Shopping, 19h.
ALENTO
“Para nós, produtores de uma terra em que temos tantos talentos e tantos desalentos na difícil missão de produzir e mostrar essa nossa música além de nossas fronteiras, estar no Rival foi uma realidade mágica.” – Jomardo Jonas, produtor do Mada, em email a Zé Dias, marido e produtor de Khrystal.



PROSA
“Eu me interesso pela linguagem porque ela me fere ou me seduz.”
Roland Barthes
O prazer do texto
VERSO
“a carne
do papel
não sangra.”
Ada Lima
“Golpeia...”

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