terça-feira, 10 de março de 2009

Quando o céu cai sobre nossas cabeças

Ainda ontem eu citava de passagem a aldeia gaulesa de Asterix e sua turma. O único medo dos gauleses era que o céu caísse sobre suas cabeças.
Também o galinho Chicken Little, do desenho animado da Disney, provoca pânico em toda uma pequena cidade quando sai correndo dizendo que um pedaço do céu acabou de cair em sua crista.
“Nunca/ Nem que o mundo caia sobre mim/ Nem se Deus mandar/ Nem mesmo assim/ As pazes contigo eu farei” – versejava Lupicínio Rodrigues, o compositor que entre outras coisas inventou o termo dor-de-cotovelo.
Não tem lá muita diferença se é o céu ou o mundo inteiro a cair sobre nossas cabeças. Ou, por oposição, o chão, a sumir debaixo dos nossos pés.
Ou, ainda, não saber se a sensação é ter partido ou morrido, na roda viva, moenda do mundo.
Variação: estatelar a cara no chão – outro papo. Nesse caso, em outros tempos, priscas eras, o lance era mais simples – a gente caía e findava apenas com o joelho ralado. E não existia curtição maior que ralar o joelho, quando se é criança e o mundo é uma aventura sem riscos maiores que o merthiolate nas mãos da mamãe, seguido, claro, pelo sopro suave e maternal.
“Pronto, passou” – e o sorriso de mãe curava qualquer dor. Como quando balançava a rede e afungentava os pavões de cima do telhado.
Mas a metáfora do céu caindo é bem mais pungente que o chão sumindo ou dando com nossa cara. Cair o céu inteiro sobre nós é materializar o imaterializável. É emprestar peso e concretude a algo absolutamente abstrato. Fluido, etéreo. É viajar na maionese, como provavelmente estou fazendo agora, nesse papo de psicologia de botequim ou de filosofia de beira de calçada.
Cair o céu sobre a cabeça provoca, no mínimo, uma dor, imensa dor – e para certas dores e dores-de-cabeça não basta um tylenol.
O sabiam os gauleses, invencíveis com sua poção mágica, mas com um único temor: que o céu caísse sobre suas cabeças.
O sabia o galinho Chicken Little – ridicularizado pelo seu alarme, e reconhecido ao final: o céu estava realmente caindo sobre sua cidade.
O sabia ainda mais o velho Lupicínio Rodrigues. Que pedia aos moços que acreditassem nele – “Se eles julgam que há um lindo futuro/ Só o amor nesta vida conduz/ Saibam que deixam o céu por ser escuro/ E vão ao inferno à procura de luz”.
Quando o céu cai sobre as nossas cabeças ficamos assim: vagando pelas trevas, buscando, impacientes, um interruptor, um lampião, um toco de vela, um fósforo, pra acender tudo e nos alumiar o caminho incerto.
*
AEROPLANO
Às vezes não é o céu que despenca, mas algo que despenca dos céus.
Um Cessna, por exemplo.
LIXO ESPACIAL
A propósito, a Base Aérea de Natal aderiu ao ao programa de coleta seletiva da Urbana. A ver se alguns dos destroços serão recicláveis.
SHOPPING
Para os leitores que me perguntam onde comprar discos neste Arraial, em se falando em lojas físicas as opções por estas ribeyras são escassas: alguns supermercados, uma livraria (no Praia Shopping), as Lojas Americanas e a Rio Center – a mais completa em CDs “diferentes”.
GAME
“The Beatles: Rock Band” é o título de um videogame para Playstation 3, Xbox 360 e Wii. Lançamento em 9 de setembro.
TOUR
A Arituba Turismo comemora duas décadas com uma, digamos, big festa, no Centro de Convenções, estilo volta ao mundo – no cardápio e na decoração. Hoje.
DIPLOMA VIRTUAL
A Faculdade Câmara Cascudo firmou convênio com a Universidade Estácio de Sá, Guanabara, para graduar alunos em cursos à distância, através de satélite ou da internet. Informe-se pelo 0800.282.3132.
É O BICHO
Sheyla Azevedo pediu demissão do Diário. Mas continua com sua coluna aos domingos no Poti. E, claro, com seu blog – http://bichoesquisito.blogspot.com/.
No primeiro, anotou, sobre ser mulher: “Nossa âncora não submerge, flutua.”
No segundo: “Também não consigo encontrar uma metáfora que pudesse descrever o que penso sobre a vagina, sem parecer que essa metáfora findaria em pormenorizar a vagina ou transformá-la em outra coisa que não seja uma vagina e sua incrível função secundária: a de carregar o mundo nas costas.”



PROSA
“Os citadinos olham o céu por um funil.”
Mario Quintana
Da preguiça como...
VERSO
“Você sabe o que é ter um amor, meu senhor
E por ele quase morrer”
Lupicínio Rodrigues
“Nervos de aço”

Um comentário:

  1. o céu cai mesmo é no "depois encontrá-lo em um braço que nem um pedaço do seu pode ser..." ;)

    ResponderExcluir