quinta-feira, 12 de março de 2009

Em busca do disco perdido

A notícia do relançamento do primeiro disco de Ritchie, retransmitida por aqui, refrescou as memórias de Kolberg Freire. Quase como as madeleines no nariz de Proust. O leitor assíduo começa relembrando a arte do famoso LP, pra seguir viagem em busca do tempo perdido e reencontrado:
“Na contracapa duas fotos em pé, em pose de delegacia de polícia, pronto para o devido fichamento, envergando uma jaqueta cafonérrima, vermelha, de gosto duvidoso. Mas duvidoso não é o som. Diversos hits que embalaram uma época em que ir a Ponta Negra era quase uma viagem. Aliás, era lá, em Ponta Negra, na mais badalada de todas as boates de Natal dos anos 80 – a Apple – que a musiquinha de Ritchie tocava enquanto nós fazíamos nossas viagens particulares. Era som carimbado nas sextas e sábados à noite. Também tocava nas domingueiras (para não chamar matinê) do Clube Set ou da Royal Salute. Me lembro que frequentei esses points. Liso, é verdade, mas estava lá. A grana bastava para, talvez, umas duas vodcas Kovac com Sukita. Era a época de uma propaganda que dizia assim: “– Vamos kovaquiar?”
Kolberg conta que freqüentava as boates “para ver e sentir o cheiro de Giovanna Baby das belas adolescentes de então”.
Vai saber se existe ainda o Giovanna Baby, um dos perfumes da moda. (O sobrescrito lembra particularmente do Free – do Boticário – e, bem mais antiga, a English Lavander Atkinson.)
Deixando os odores de lado, vamos às oiças – segundo Kolberg:
“O disco era legal. Começava com ‘No olhar’, meio dançante (sabe-se lá o que ele quis dizer com ‘Teu olhar vai brilhar na luz do néon/ Teu olhar vai negar a luz negra do não’). Então vem ‘A vida tem dessas coisas’ (‘Perdi a hora mas encontrei você aqui’), seguida da canção título, que é um lamento choroso, e de ‘Casanova’ (um hino ao Dia Internacional da Mulher). A música 5 é o grande hit dos anos 80 – ‘Menina Veneno’ –, enquanto ‘Preço do prazer’ tem uma letra que é uma pérola. Logo segue ‘Pelo interfone’ (‘Não quero te prender/ Mas não posso te perder/ Esse é um dilema/ que nem o cinema pode resolver’). Segue com a inexpressiva ‘A carta’, e ‘Parabéns a você’ – que poderia ter sido tema de ‘O curioso caso de Benjamin Button’ (‘Parabéns a você/ Hoje é seu aniversário/ Vamos festejar ao contrário/ Contar de trás para frente/ Seu centenário/ As estrelas do planetário [!]/ As corcovas do dromedário [?])’. Encerrando com ‘Tudo o que eu quero’, uma baladinha básico-romântica.”
E conclui, relembrado que há 25 anos ainda podíamos nos dar ao luxo de esquecer o que era responsabilidade.
Enquanto eu, um quarto de século depois, fico remoendo como é que foi que todos esses anos passaram tão rápidos.
*
FLEX
Dando uma espiada no menu Transparência do Portal da Câmara dos Deputados é possível comparar quanto cada deputado federal gastou com despesas que podem ser ressarcidas pela tal “verba indenizatória” (até um limite de R$ 15 mil mensais – quem gastar menos, fica com crédito pro mês seguinte, num prazo de seis meses).
Entre os deputados deste Ryo Grande – pra ficar no quesito “combustíveis e lubrificantes – tipo de equipamento: veículos automotores” – chama atenção que, enquanto a maioria gastou entre R$ 3,5 mil e R$ 4,5 mil, dois deputados fugiram da média, ao menos no mês de fevereiro: João Maia, com R$ 2.903,42 e Rogério Marinho, que deve usar uma moto de baixíssima cilindrada, pois resolveu seu problema com apenas R$ 80.
SEGREDOS
A posse da nova diretoria do Conacan – Conselho de Moradores da Candelária – amanhã promete surpresas. O Ministério Público foi convidado. Para investigar por que uma TV comunitária, montada no prédio do conselho, continua lacrada a sete chaves. E para entender melhor os detalhes que envolvem um terreno ao lado, também de propriedade do Conacan, que teria sido arrendado por 15 anos a um deputado federal.
MUITO ALÉM DO JARDIM
“Essa história de sexo oral, guardar sêmen, gravidez pós sei lá o quê, processos etc., isso é o que entendemos como subterfúgios que as mulheres, ao longo dos séculos, desenvolveram e de alguma forma resistiram e ainda resistem ao patriarcado.” – de uma leitora que prefere não se identificar, sobre a nota de ontem que comentava o caso da americana que guardou o sêmen do amante após terem feito sexo oral.
E completa: “O poder que nós feministas falamos e queremos não é este poder negociado com o sexo, com a pensão, com o ciúme, com o controle e dependência emocional, os tais micro-poderes de âmbito doméstico – o poder que queremos ultrapassa as paredes da cozinha, da cama.”
LIFE
A Sociedade dos Poetas Vivos e Afins realiza oficina poética hoje, às 8h e às 14h, no auditório da Capitania, metade da ladeira da Junqueyra Ayres.
Devem ensinar a difícil arte de sobreviver através dos versos.
PÊ-EFE
Quem pensava em forrar a barriga hoje, durante o lançamento do Prêmio Cosern Literatura de Cordel, trate de arrumar uma quentinha: foi adiado, “em virtude das greves nas redes estadual e municipal de educação”.



PROSA
“A magia das palavras num poeta deve ser tão sutil que a gente esqueça que ele está usando palavras.”
Mario Quintana
Da preguiça como...
VERSO
“É que hoje cheirei de manhãzinha
A flor vermelha do teu coração”
Palmyra Wanderley
“Que cheiro bom!”

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