quarta-feira, 18 de março de 2009

Alegrias e tristezas das cidades

Sexta-feira passada não foi apenas uma sexta qualquer. Não foi apenas uma sexta, 13. Não foi, tão pouco e tão somente, véspera do Dia da Poesia, com suas desmedidas comemorações.
Sexta-feira passada foi também aniversário de Moacy Cirne. Que se mandou para a sua Caicó, comemorar como se deve. No início da semana ele já anunciava (à jornalista Sheyla Azevedo, ao poetelétrico Carito, ao sobrescrito, enfim), que tinha esse desejo. Proclamado numa mesa da Confeitaria Atheneu surrealisticamente coalhada de latinhas refrigerantes, poema concreto do absurdo.
Ainda mais porque antevia chuva. E a sua Caicó sob chuva era uma atração ainda mais irresistível para esse sertanejo carioca.
Daí que, no domingo passado, ainda na antiga Vila Nova do Príncipe, já deitava no seu blog, o Balaio Porreta, a emoção do reencontro. E a tristeza do reencontro. Alegria, tristeza e reencontro que valem para qualquer um que ame sua cidade. Não é preciso nem partir, nem voltar – embora para os exilados mais ou menos temporários os olhos alcancem lonjuras além do hábito de quem fica e acostuma-se ao ritmo vertiginoso ou não das transformações urbanas.
Troque o nome de Caicó pelo da sua cidade que o texto de Moacy é universal. Pois:

“Caicó sempre emociona. Reencontrá-la sob um céu cinza-chumbo-alumbramento prenunciando a chuva (que viria à noite), alegria maior do sertanejo, não é para qualquer (sobre)vivente. Sim, é verdade, ainda sou capaz de ver a Caicó de hoje com os olhos da criança – e do adolescente – que fui nos anos 50. Suas pedras, seus serrotes, seu casario, suas águas, suas ruas, seus becos, seus mistérios, suas alumbrações. E suas mulheres. E seus doidos. E suas cercas de pedras. E seu seridoísmo. Ainda existirá a Caicó do meu tempo? Cadê o Cinema Pax? Acabaram com ele. Cadê a Praça Dr. José Augusto. Acabaram com ela. Cadê a Festa dos Negros do Rosário? Ao que consta, sumiu do mapa. E curto é o caminho que vai da alegria à tristeza.
“A destruição do nosso espaço visual urbano não começou hoje, é preciso reconhecer. O poder público em Caicó (assim como a sua elite econômica) é criminosamente insensível em se tratando do patrimônio histórico-arquitetônico da cidade. Nos anos 80 do século passado, permitiu a destruição do belo casarão que, na Praça da Liberdade, abrigara, no final do século XIX, a redação d'O Povo, primeiro jornal republicano do Estado. E agora, para completar, está reformando de maneira absurda o Mercado Público, inaugurado em 1918, desfigurando quase por completo a sua tradicional fachada. Assim como está desfigurando a Praça Dr. José Augusto, que de praça não tem mais nada. Em nome de um discutível ‘progresso’, já há vários espigões que enfeiam a nossa Queicuó. Será que, mais cedo ou mais tarde, o poder público ousará destruir a Praça da Matriz? Ou o coreto da Praça da Liberdade?
“Pobre Caicó! E pobre da cidade que não preza (e não conhece) sua própria história. É o caso de se perguntar: cadê a “caicocidade” de sua gente?”

*
VAMPIRE
Depois de derrotar George Bush Jr., o black Barack Obama enfrenta páreo mais duro: a escritora Sthephanie Meyer (“Crepúsculo”, sobre vampiros adolescentes) concorre com o presidente afroamericano na categoria melhor autor de 2008 no British Book Awards.
RECORD
Os potyguares que estrearam Las Vegas como destino chic este ano, tirem o cavalinho da chuva: o eterno ex-beatle Paul McCartney inaugura uma casa de espetáculos num cassino local, em abril. Mas os ingressos já se esgotaram. Gastaram mais ou menos o tempo de ler esta nota: sete segundos.
DOWN
Que Lauro Jardim que nada! Enquanto o jornalista da seção Radar da revista Veja criticou a senadora Rosalba (por ter pedido um voto de aplauso à Rede Globo), a The Economist publicou um artigo elogiando as novelas da emissora como influência positiva na vida nacional.
Para a revista inglesa, entre os efeitos das novelas estão a diminuição no número de filhos e o aumento no número mulheres que buscam o divórcio – que, por tabela, e segundo estatísticas, resultariam em menos casos de violência doméstica.
Além do exemplo prático de ascensão social.
A Rosa Mossoroense justificou ao blog de Thaisa Galvão seu voto de louvor: através da novela “Páginas da vida”, a Globo ajudou a combater a discriminação aos portadores de síndrome de Down.
LIQUIDIFICADOR & CALOTE
Dois adendos aos Dias da Poesia versão Zero-Nove: destaque para Michele Régis (Os Poetas Elétricos) incorporando uma versão de “Simpathy for the devil” (Stones) numa mistura pra lá de original – no corpo e voz da mocinha baixaram Freddie Mercury, Amy Winehouse e Frank Zappa. (E olha que eu tava na segunda cerveja.)
O outro adendo é que o poeta Falves Silva está pê da vida: ainda não recebeu a grana de um seminário do projeto “Acervo em movimento”. Quem deve, não nega e paga quando puder é o Cedoc – Centro de Documentação Cultural Eloy de Souza. Ou seja: Fundação Zé Augusto.




PROSA
“Isto – quem é que não sabe? – é o Progresso. Mas que desolação, que confusão! Quando é que viveremos numa cidade pronta?”
Mario Quintana
Da preguiça como...
VERSO
“argamassa mutante
que institui a construção do agora.”
Paulo de Tarso Correia de Melo
“Prefácio lírico...”

2 comentários:

  1. Obrigado, meu caro, pelo texto, que inclui a minha pequena crônica sobre Caicó. Valeu!
    E um grande abraço.

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  2. obrigado a você, moacy, e os clássicos muitos anos de vida!

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