segunda-feira, 9 de março de 2009

Águas e aniversários de março

O mês de março não é tão somente de águas assuntando no céu, às vezes blue, às vezes plúmbeo, mas sempre ameaçando cair sobre nossas cabeças, como naquela aldeia gaulesa.
Em março nascia por este Ryo Grande, além do clássico “um bocado de gente”, algumas figuras importantes para a nossa história cultural.
Não começo nem por Eloy de Souza (que nasceu em Recife) – mas bem poderia começar pois é impossível não citar o belo início de suas “Memórias”: “Nasci a 4 de março de 1873 no velho sobrado de azulejos, situado entre a Tamarineira e Mangabeira de Baixo, estação da Estrada de Ferro suburbana do Recife, que então terminava no Monteiro, ramo do Arraial.”
Quem mais hoje em dia nasce num sobrado de azulejos?
Amanhã Othoniel Menezes completaria 114 anos. Se não tivesse morrido na Guanabara, final dos anos 60. Autor de “Gérmen”, aos 23 anos, seguido por “Jardim tropical”, cinco anos depois, o “príncipe dos poetas norte-rio-grandenses” era também violinista e amante das serenatas.
Amanhã, nas repartições deste Ryo Grande, na Assembléia, na Câmara, na Fundação Zé Augusto, na Capitania, a turma aboletada no Poder Público deveria, não fazer um minuto de silêncio, mas botar pra tocar – no stereo, no três em um, no toca-fitas do carro, no iPod, no celular, enfim, quem sabe até assoviar – a “Serenata do pescador”.
Já disseram que os versos não são grande coisa, mas, sejamos românticos: uma canção que começa com “Praieira dos meus amores/ Encanto do meu olhar”, tangidos pela melodia nostálgica de Eduardo Medeiros, tem o sabor inigualável da maresia que o vento derramava sobre esta Cidade em dias de antanho.
Depois de amanhã, anotem, é o aniversário de Sebastião Fernandes, o irmão menos famoso e elogiado de Jorge. Nasceu – dou uma espiada em sua “Poesia inédita”, organizada por Cláudio Galvão – na Rua Santo Antônio, onde era o Hotel Jaraguá.
Agora, dou uma escapulida de vez no tema: o Hotel Jaraguá fechou. Faz um tempo. No lugar das portas e janelas, tijolos e cimento, naquele artifício de sepultar a céu aberto as casas e edifícios. Lá de cima do Jaraguá, tinha-se uma das mais belas vistas desta Cidade. O sobrescrito costumava ir lá, sempre que aparecia uma alma estrangeira. A cerveja era apenas razoável, a comida idem, mas a vista, a vista – “encanto do meu olhar”.
Voltando de carreira pros aniversários do mês: dia 12, Peregrino Júnior; Adauto da Câmara no dia 14; Henrique Castriciano, 15; e Seabra de Melo, 17. Parabéns para todos eles.
*
JOANA D’ARC
“CPI da fogueira” é o apelido que o movimento feminista deu a uma possível CPI a ser instalada no Congresso Nacional. Segundo as companheiras, esta comissão “significará uma perseguição às mulheres que abortam, as organizações que lutam pelos direitos sexuais e reprodutivos e às feministas por defenderem o direito de decidir”.
No Natal Shopping termina hoje a exposição sobre o tema polêmico do aborto.
PIPOCA
A moçada mais antenada, descolada e etc. já correu para assistir “Watchmen”. O trailer é bom. O filme, tenho minhas incertezas. Aliás, hoje em dia os razoáveis minutos que antecedem o filme principal quase sempre são preenchidos por trailers pra lá de exuberantes, superiores, até, à obra completa.
POP CORN
Já o arrasa-quarteirão “Quem quer ser um milionário?” atrai os adoradores do deus Oscar.
LION
Leno recebeu uma encomenda especial dos EUA: alguns exemplares do seu CD “Vida e obra de Johnny McCartney”, lançado recentemente por um selo americano, o Lion, de Chicago, especialista em obras roquenrroll fora do clássico eixo USA-UK.
A crítica Americana comparou o álbum a bandas como Sly & The Family Stone, os Beatles na fase pós-1967, Cream e Steppenwolf, resumindo: “One of the most singular records of the 1970's rock era in Brazil”.
Produzido por Raul Seixas, em 1970, o disco é um clássico. Lenda. Cult. Objeto de desejo de fãs e fanáticos.
A edição gringa vem muito bem cuidada, com um livreto de 24 páginas com fotos e letras das músicas.
VENENO
No paralelo quem viu por aí em alguma loja da City o relançamento do (hoje) também clássico disco de Ritchie, “Vôo do coração”?
Pra quem não lembra, um dos muitos hits era “Menina veneno”. Que começava assim, num clima de suspense sensual: “Meia-noite no meu quarto/ Ela vai subir/ Ouço passos na escada/ Vejo a porta abrir/ Um abajur cor de carne/ Um lençol azul/ Cortinas de seda/ O seu corpo nu”.
E o refrão, pegajoso de bom: “Menina veneno/ O mundo é pequeno demais pra nós dois/ Em toda cama que eu durmo/ Só dá você, só dá você,/ Só dá você, (yeah, yeah, yeah)”.
Kitsch, claro – mas o tempo perdido e reencontrado melhora tudo, até as lembranças.
“Vôo do coração” está sendo relançado numa edição especial, caprichada, comemorativa dos 25 anos.
No sítio internáutico do cantor, o CD autografado está sendo vendido por R$ 20, incluindo o frete.



PROSA
“Erguendo-se do silêncio da sua memória, as recordações mais remotas saltam-lhe, tristes, diante dos olhos apagados.”
Peregrino Júnior
Carimbó
VERSO
“– Uns morrem depois de mortos,
– Outros antes de morrer.”
Sebastião Fernandes
“Alma de toda a gente”

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