sábado, 21 de março de 2009

Adivinhe quem vem para o café-da-manhã: Leno Azevedo

Gileno Osório Wanderley de Azevedo, o Leno Azevedo, ou simplesmente Leno, pouco a pouco está se livrando da insustentável leveza de ser sempre associado à sua cara-metade musical – a cantora Lilian – parceria que lhe rendeu, afinal, o ingresso na História Musical Brasileira.
Seja como Gileno ou como Leno, o músico é verbete no “Arquivo do Rock Brasileiro” (www.arquivodorock.com.br), no “ABZ do rock brasileiro” (de Marcelo Dolabela), na “Enciclopédia da Música Brasileira”, e, como não podia ser diferente, no “Dicionário da Música do Rio Grande do Norte”, de Leide Câmara.
Leno também contabiliza ao menos dez aparições nesta coluna, a primeira em maio do ano passado, quando o sobrescrito comentava seu clássico e cultuado LP, já em carreira solo e longe da Jovem Guarda, “Vida e obra de Johnny McCartney” (1970). O LP foi lançado recentemente por um selo americano e continua recebendo elogios consagradores. Sem ou com exageros, o nosso “Paêbiru”.
Sobre consagrações ou não, é o que também versa o texto do nosso convidado de hoje, que, em outra ocasião aparecia neste espaço proclamando para quem quisesse ouvir:
“Os artistas daqui só não vivem bem de arte porque insistem em ser rivais em vez de se unirem em uma proposta comum.”


MORANDO NOVAMENTE EM MINHA CIDADE NATAL
Morando novamente em minha cidade natal desde 2007, deu para observar certas coisas que talvez passem despercebidas a quem já está acostumado à rotina sócio-cultural da terra. Uma delas é a falta de um maior mercado interno para os conterrâneos profissionais da música, assunto, aliás, lucidamente abordado aqui neste jornal pelo Laurence Bittencourt Leite.
Talvez se trate de uma forma inconsciente de baixa auto-estima coletiva no que se refere à valorização do artista potiguar (sem essa história de “artista local”, expressão limitante), proporcional ao deslumbramento na admiração por coisas de fora, muitas vezes de menor valor artístico. Apenas a Universitária FM toca artistas potiguares, escalados pelo interesse musical de um programador que, apesar de viver há anos em Natal, nasceu em... Pernambuco (!).
Em outras palavras: daqui, nenhum. Até mesmo outra FM que tocava artistas potiguares parou de tocar por “ordem da direção”. Essa, nem Freud explica! Eventuais intenções de se fazer um programa musical na TV promovendo nossos artistas e o próprio Rio Grande do Norte para os potiguares sempre esbarram em descrédito e preconceito inculto. E não podemos contar apenas com a sorte de termos um artista sensível como Cesar Revorêdo na Funcarte. (Ou como vocês acham que a música baiana, só para citar um exemplo, se tornou tão conhecida senão primeiro dando visibilidade aos seus artistas lá mesmo?)
Enquanto isso, artistas gaúchos, cearenses, pernambucanos, mineiros, cariocas, paraenses, goianos, e lá vai fumaça, sobrevivem dignamente – mesmo que com esforço e suor – em seus próprios estados, graças à exposição na mídia local, que acaba atraindo a atenção do resto do país. A partir dali o que vier é lucro. Como disse o já citado jornalista Laurence Bittencourt, os Beatles já eram fenômeno de popularidade na pequena Liverpool antes de conquistarem Londres e depois o mundo. E por quê? Porque nos anos 60 os “liverpoolienses” já tinham uma auto-estima musical sem se sentirem inferiores aos artistas americanos. E acabaram conquistando os States com a famosa “invasão britânica”.
Talentos diversos à parte, tenho ouvido tanta gente talentosa por aqui (como ouvi nos anos 70 e 80, e tive a oportunidade de levá-los para gravadoras do “sul-maravilha”) que seria uma injustiça citar nomes e esquecer outros, novos ou nem tanto, com trabalho autoral próprio e dos mais variados gêneros. (Ao contrário do que disse o ex-diretor da Funcarte: “No Rio Grande do Norte não temos grandes intérpretes”. E digo: “Por que no te callas?” (copyright by Rei Don Juan da Espanha, em resposta ao bufão Hugo Chavez).
E o distinto público potiguar, não vai se tocar? Que tal uma autocrítica? Vamos apenas descansar no berço esplendido das dunas, mãe e sol, ou vamos exportar nossa música?
(Se isso fosse tão impossível, este que vos escreve agora não teria lançado um CD há poucos dias nos Estados Unidos e Europa.)
Muitos artistas potiguares já têm seus fãs e merecem mais exposição nas rádios e TVs do estado, sem favores e sem jabás. Pois a imprensa escrita bem que dá uma força, espontaneamente. Quem sabe poderemos reverter a famosa e ainda atual frase do genial Mestre Câmara Cascudo, que dizia que “Natal não consagra ninguém”? Ele iria gostar dessa reversão! Até para que não tenhamos que achar que é mais fácil a agulha entrar no c... do camelo (não do Marcelo, é claro!) do que o artista potiguar entrar no reino dos céus dos super-astros. Amém! [Leno Azevedo]



PROSA
“Musa, canta os poetas e escritores de todos os tempos, idades e temperamentos.
Câmara Cascudo
História da cidade do Natal
VERSO
“E tudo é sombra quando
a volta não é o que já foi”
Carlos de Souza
“Cachorro magro”

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