sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Sexta, 13

Vamo se ligaê, moçada! O calendário não engana: sexta, 13, é dia funesto. Não sou eu quem o diz, mas a sabedoria e superstição populares.
Daonde o troço começou? Melhor acender mais uma vela para São Cascudo, patrono e padroeiro dos colunistas sem inspiração. E a bíblia, claro, não poderia ser outra – está lá, página 760 do “Dicionário do folclore brasileiro” (Itatiaia, 1993, 7ª edição):
“Treze. Número fatídico, pressagiador de infelicidades.”
Mas, logo a seguir: “As pessoas nascidas no dia 13, por ambivalência, serão venturosas.”
É a alma humana, sempre disposta a um jeitinho.
Explicações maiores se encontram em “Superstições e costumes” (Antunes, 1958, a minha edição, com uma bela ilustração de Goeldi no frontispício – e também na sobrecapa, embora meu exemplar foi encontrado num sebo sem capa e sobrecapa, o que Mestre Bandeira, do Alto da Castanha, fez por bem prover).
“A imagem popular é que o dia 13 é o dia do contra, dia do tudo às avessas, dia do pé esquerdo”, lembra o bruxo da Junqueira Ayres, que aponta como superstição maior o hábito de se evitar 13 comensais à mesma mesa.
A origem é bíblica: na última ceia, Jesus reuniu os 12 apóstolos. O evangelho segundo Mateus (e na tradução de João Ferreira de Almeida): “E, chegada a tarde, assentou-se à mesa com os doze. E, comendo com eles, disse: Em verdade vos digo que um de vós há de trair.” Marcos: “E eles começaram a entristecer-se e a dizer-lhe um após outro: Sou eu? E outro disse: Sou eu? Mas ele, respondendo, disse-lhes: É um dos doze, que põe comigo a mão no prato.” João: “Jesus respondeu: É aquele a quem eu der o bocado molhado. E molhando o bocado, o deu a Judas Iscariotes, filho de Simão. E, após o bocado, entrou nele Satanás. Disse, pois, Jesus: O que fazes, faze-o depressa.”
Daí que leio pelo mundo virtual da blogosfera que esta semana foi um puxar e empurrar de cadeiras em torno de vastas mesas, aqui e alhures. Henrique recebeu em almoço regional. Na mesma linha, Fábio ofereceu uma buchada, não na casa de Cheiroso, mas em restaurante paraibano às margens do Lago Sul. João levantou cedinho e – imagino – serviu cuscuz, tapioca e café-com-leite pros convivas. Rosalba foi anfitriã exclusiva do antes dito sexo frágil, em ceia only for women, tudo muito rosa e pink. Enquanto os Rosados, também de Mossoró City, se dividiram entre Sandra (jantar na própria residência) e Betinho (jantar numa churrascaria curiosamente batizada de “Potência Grill”). O trio potyguar no Senado Federal, chique no último, atacou de massas italianas em restaurante sonoramente intitulado “La Focaccia” – focaccia, todo mundo sabe, é uma espécie de pão italiano semelhante à pizza. O que me faz lembrar um dito italiano, “rendere pan per focaccia”, ou seja, em sentido figurado, “rendere male per male”, ou seja – traduzindo –, pagar com a mesma moeda, ou, o mal pelo mal.
Mas isso não tem nada a ver, necessariamente, com o número 13, especialmente, à mesa. Em quase todas essas ocasiões eram muitos os convidados, todos com tempo suficiente para acordos, acordinhos e acordões.
Que, provavelmente, não resistirão aos muitos banquetes que hão de ser servidos daqui pra 2010.
*
ESTRÉIA
O Cinemark do Midway, apesar de continuar mal-tratando o público-pagante (ar condicionado desligado, poucas bilheteiras, barulho de reformas invadindo as salas), pega carona no calendário e exibe hoje “Sexta-feira 13”, cuja sinopse informa: “Grupo de pessoas quer reabrir um acampamento para crianças com deficiências. Mas eles vão encontrar pelo caminho um assassino que vai matando-os um a um.”
Terror, claro.
LA TAVOLA
Em se falando em mesa, já tem destino certo aquela famosa, comprida, da Kriterion (que – sempre bom lembrar – fecha suas portas apenas após o último volume ter sido vendido, com grandes descontos, inclusive nas raras edições).
Destino certo, mas, por pedido expresso do destinatário, solenemente não revelado.
Por temor, talvez, que os órfãos da livraria batam à porta do novo proprietário, para matar as saudades.
PEIXE GRANDE
Provavelmente o excelentíssimo presidente Lula, depois de se indispor com os tubarões da impressa, vai atacar, em terras deste Ryo Grande, peixe mais leve e saboroso: ao meio-dia de hoje visita criação de tilápias em Ceará-Mirim.
Segundo o portal do Ministério de Desenvolvimento Agrário, no assentamento potyguar os agricultores não usam mais o cartão do Bolsa-Família: a renda média das 26 famílias é de dois salários mínimos por mês.
FERRO NA BONECA
Ao contrário do anunciado ontem, aqui, o show do Iron Maiden em Recife não será 18, mas 31 de março.
COLOMBINAS
No Praia Shopping logo mais à noite tem carnaval em dose dupla: Dodora Cardoso (20h) e Lucinha Lira (22h).
TEATRO
Amanhã tem “A mar aberto”, na Casa da Ribeira, 20h.



PROSA
“O prazer da mesa não comporta arrebatamentos, nem êxtases, nem transportes, mas ganha em duração o que perde em intensidade”
Brillat-Savarin
A fisiologia do gosto
VERSO
“(Tagarela, babão, de bunda arredondada,
Peço-te, pelo menos, que não babes em minha sopa.)”
T. S. Eliot
“No Restaurante”

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