quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Ou coisa assim

Conheci domingo passado Carlos Castilho. Assim, sem vírgulas mesmo. No alpendre da casa da Redinha de Rejane e Vicente, o mar azulando às minhas costas, o Forte dos Reis Magos embranquecendo à minha direita sob nuvens plúmbeas, o tempo indeciso em chover ou fazer sol.
E a mesa farta de amigos – que não se cansam de falar mal de mim (esses são os verdadeiros, claro, os falsos são aqueles que nos elogiam) –, de quitutes, de acepipes, de álcool engarrafado e frutas frescas.
Não me perguntem quem é Carlos Castilho. Não quis saber muito mais dele, depois do currículo que inclui porres com Newton Navarro e Luís Carlos Guimarães. Entre outros. Acrescente-se um detalhe importantíssimo: Castilho anda pra lá e pra cá com um capacete encarnado de motociclista, marca Taurus. E luvas de motociclista azuis. E uma chave de moto pendurada na gola da camisa.
Não tem moto, o Castilho. Antes: detesta o veículo de duas rodas.
Mas, sai assim vestido, e quem o vê semi-borracho logo se preocupa: “Mas o senhor vai sair assim, de moto? É perigoso”. Ele finge refutar, as pessoas insistem, e ele, dando-se por vencido, sai a pé, abandonando a moto inexistente no bar.
Só larga os trajes de motociclista quando do carnaval: se veste de mórmon, com o detalhe insuperável da caneta Bic no bolso da camisa imaculada.
Tem outra mania, o Castilho: acorda a madrugada insone e se posta diante da TV para assistir as versões brazucas de Herbert Richers, dublagens de filmes americanos. Castilho desconfia que os tradutores e dubladores acentuem ainda mais o absurdo dos diálogos. Anotei dois:
“– A senhorita Ana é jovem, bonita e inteligente.
– Mas atrai encrencas como um imã...”
O outro:
“– Aceita uma bebida ou coisa assim?
– Não bebo.
– Muito bem. Seu fígado será enterrado com honras de herói.”
E lá se vai o Castilho, com a chave dependurada no pescoço, as luvas azuis cobrindo as mãos, numa delas o capacete Taurus, vermelho, balançando, balançando, a cabeça cheia de idéias e histórias para contar.
Nós, claro, imploramos: “Não, Castilho, deixa a moto, é perigoso...”
*
ANIMAÇÃO
O Leão de Ouro pelo conjunto da obra do Festival de Veneza deste ano já tem dono: John Lasseter, diretor de animações como “Toy story” e “Vida de inseto”, e produtor executivo de “Procurando Nemo” e “Ratatouille”, entre outros.
“Toy story 3” já está em fase de pré-produção, com estréia prevista para 2010.
ANIMAÇÃO II
“O corajoso ratinho Despereaux” – em cartaz nas duas redes locais – é um bom programa para os filhos e os pais dos filhos. Exótico, marginal palatável, o ratinho foge da manada, ou da ratarada: não tem medo de gente e prefere ler livros a simplesmente roê-los.
Ao contrário de algumas figuras do Arraial.
DIOR PUNK
“The life and times of Christian Dior” é o musical que Malcom McLaren está montando na Broadway.
Pra quem não lembra, McLaren foi produtor da banda punk Sex Pistols. E marido da estilista Vivienne Westwood (que há um ano veio aos Tristes Trópicos lançar umas sandálias para a Melissa).
MORTE TARDIA
“Percebi outro dia:/ Se eu morresse, ninguém diria/ ‘Que pena! Tão jovem, tão cheio de/ promessas, de profundidade inacessível!’/ Em vez disso, um encolher de ombros e olhos sem lágrimas/ vão receber minha morte tardia” – poema inédito, publicado no The New York Times, do escritor norte-americano John Updike, morto semana passada.
ARAÚJO
“Eu pensava que o romance Ojuara era um nome inédito, pioneiro, criado pelo grande escritor caicoense Nei Leandro de Castro. O romance virou filme, não foi? Pois bem, eu vinha de Juazeiro-CE e entrei em Brejo Santo, terra famosa nos anos 70/80 do século passado, e parei quando vi uma placa publicitária: Café Ojuara – O melhor da Região. Fiquei surpreso. Desci do carro 4x4, uma Safira, pedi a Chiquinho um tempo para comprar dois pacotes do café moído. Pedi dois pacotes, paguei e perguntei: ‘Amigo, há quanto tempo existe esse café por aqui?’. O cara olhou pra mim e respondeu: ‘Não sei, já perdi a conta, deve ter mais de 50 anos, senhor’. Paguei e fui embora. Brejo Santo era conhecida como terra de pistoleiros. Coisa do passado, esqueça.” – do jornalista Luiz Gonzaga Cortez, via email.
ENFANT TERRIBLE
“Me graduei combatendo a ditadura militar ainda adolescente.” – de Ailton Medeiros, esta semana em seu blog.
RETRATO
Numa cidade chamada Natal uma crise de neonatologistas.



PROSA
“A influência do cinema norte-americano sobre o abraço brasileiro é uma coisa séria.”
Mário de Andrade
O turista aprendiz
VERSO
“Veio o tempo sobre tempo
e o mapa da cidade
outros bares apontou.”
Luís Carlos Guimarães
“Memorial do tabuleiro...”

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