sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Jessé Cavalcanti, o galante dentista

Com o título acima, escrevia Willian Vieira, colunista da Folha de São Paulo, o obituário do meu pai. Foi publicado na mesma Folha, em 18 de fevereiro. Segue:

Difícil achar um dentista mais espirituoso e sedutor em Natal do que Jessé Dantas Cavalcanti. Ele arrancava dos pacientes o medo – e em seguida, claro, os dentes –, com piadas e gracejos galantes. Mas costumava se defender do epíteto: “engraçado é palhaço. Eu sou é gracioso.”
Nasceu em Ceará-Mirim, terra de engenhos de açúcar e da família Cavalcanti. Brincava sempre que “Cavalcanti com t e ti era diferente de Cavalcanti com t e te”, pois só os primeiros eram a nata da nobreza local.
Mas sua família não era rica, ele logo ficou órfão de pai e, aos 5 anos, virou o “homem da família”, pretenso arrimo para a mãe e as quatro irmãs. Teve que se virar e serviu no Exército durante a Segunda Guerra. Mas, como assistente de veterinário, dizia que “ficara nas dunas bebendo cachaça” enquanto o combate acabava.
Estudou odontologia no Ceará e veio abrir seu consultório em Natal, onde foi dos primeiros professores da faculdade de odontologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte e fundador da Academia de Odontologia do Estado. Foi ainda chefe de gabinete da reitoria.Dizem os filhos que era um galanteador nato, que “seduzia as mulheres, de todas as idades, de todas as belezas, apenas para vê-las sorrir”. Aposentado, costumava freqüentar missas e ler – preferia a literatura de Thomas Mann. Mas uma doença rara lhe tirou a visão e com ela o antigo prazer.
Deixou quatro filhos, sete netos e a viúva Crinaura. Morreu no dia 6, de falência múltipla dos órgãos, aos 86.


A missa do primeiro ano do seu falecimento será hoje, às 16h, no Espaço Solidário de Mãe Luíza, espaço criado pelo padre Sabino Gentili para abrigar dezenas de idosos que não têm onde morar, e mais uma centena, para atividades diárias.
Sabino recusava-se usar o termo “abrigo”, que lembrava depósito, asilo.
Há anos, meu pai visitava o Espaço, fazendo jus ao seu título, e comemorando lá, às vezes seu aniversário, às vezes o Natal, ou outra festa religiosa.
De todas as muitas necessidades do Espaço Solidário, me recordo que Sabino sempre alertou para o uso intenso de fraldas geriátricas.
Assim, quem desejar pode sempre ir ao local – hoje, amanhã, depois, sempre –, na Rua Largo do Farol, sem número, e fazer um gesto de solidariedade.
*
PROSPECTIVA
121 anos, hoje, do nascimento de Joaquim Ignácio de Carvalho Filho, natural de Martins, onde encerrou a vida pública como prefeito. Foi também deputado estadual, senador, vice-presidente do Estado (no governo Juvenal Lamartine), e prefeito de Natal, durante o Estado Novo.
Em 1976, Vingt-Un Rosado reuniu seus discursos parlamentares e colaborações na imprensa – onde abordava muitos dos problemas econômicos deste Elefante sem Memória – no livro “O Rio Grande do Norte em visão prospectiva”.
Foi publicado, então, pela Zé Augusto, no tempo em que a Fundação publicava livros.
SUBMUNDO
“Ganha quem tem mais força, poder e falta de caráter.” – da blogueira Thaisa Galvão, sobre matéria veiculada pelo Sbt nacional (TV Ponta Negra local) onde Ponta Negra (a praia, não a TV, claro) era vista como o “submundo do paraíso”, e que faria supostamente parte de uma estratégia para tirar a Cidade – das Dunas e do seu Estádio Fabuloso – do páreo da Copa.
E prossegue, antecipando a provável derrota deste Arraial de Dunas do Barato: “Nunca vai sair na frente quem tiver melhor projeto, melhor estrutura, melhor cidade. É bom que a gente já se conscientize disso.”
Então.
PERDAS & GANHOS
Já está na Praia de Pipa, recarregando as baterias, o professor-doutor Marcos Bulhões, que deve deixar a Ufrn e partir, até maio, para a Usp, onde foi aprovado em concurso. Na banca só gente da pesada, a começar do presidente, Antônio Araújo (Teatro da Vertigem).
Como tudo na vida, perdem uns, ganham outros – infelizmente, desta feita, perdeu a cinqüentenária universidade deste Ryo Grande federal.
Por outro lado, na contramão, chega à Ufrn, semana que vem, a professora-performer Naira Ciotti, do curso Comunicação e Artes do Corpo, Puc-SP.
MAC GYVER
Depois de entrar pelo cano e descer ao fundo do poço, a neo-prefeita-eleita segue feito uma Indiana Jones pela Cidade das Dunas – terminaria hoje seu périplo hospitalar, iniciado ant’ontem, quando acompanhou o mutirão de cirurgias e deitou os olhos no atendimento médico.
Mas ficou tão abalada com o que viu que, ontem, teve um piripaque e foi bater no hospital – no Walfredo? pergunta o leitor incauto. Não, na Casa de Saúde São Lucas.
Espera-se, para logo, novas aventuras: talvez, como professora da rede municipal de ensino.
MEMÓRIA
O último político que saiu posando de super-homem foi Collor de Mello. Ridículo.



PROSA
“Mas, não, a morte, essa viagem sem viajante, estava a dar-nos destino.”
Mia Couto
Um rio chamado...
VERSO
“ninguém dirá:
não morras –
hoje não.”
Theo G. Alves
“instruções para...”

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