segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Adivinhe quem vem para o café-da-manhã: Rodrigo Levino

[Cultura 140209 sábado]

Dizem que Rodrigo Levino está no melhor trabalho do mundo: a redação da revista Playboy, em Sampa. O primeiro lugar, claro, entendido como o melhor posto, embora inserido no segundo, bastante controverso, a tal Paulicéia Desvairada.
Pelo msn, lá vou chafurdar a vida do rapaz, que me conta do dia-a-dia: “Trabalho na Playboy, edito, escrevo reportagens, resenho livros. Moro próximo ao Largo de Pinheiros, todos os dias ouço forrozão Saia Rodada enquanto vou pra Editora Abril, a pé, menos de cem metros.”
O apartamento de Levino é no primeiro andar de um prédio da década de 70, o piso ainda de taco – o que revela como o rapaz é antenado nas questões da modernidade até mesmo antes de nascer (em Patu, Ryo Grande, 1982).
Também antenadíssimo é o entorno onde vive: mesmo que no Largo de Pinheiros – um dos bairros mais antigos de Sampa, e que andou perdendo prestígio e glamour para a tal cantada e decantada Vila Madalena –, o jornalista tem uma vizinhança exótica (segundo a escolha de sua descrição): uma loja de macumba (“morro de medo de um exu gigante que tem lá”), o Drakes (“restaurante fino do consulado britânico”), o Comida de Casa (“só com comida nordestina – prefiro”).
Eis, pois, alguns dados que a coluna gentilmente cede para um futuro biógrafo que deseje saber da vida do patuense, e, a seguir, algumas visões do aprendiz de playboy em seu primeiro ano paulicéico:


NOTAS DA CIDADE CINZA, POR RODRIGO LEVINO
SECSO
“Erva para potência sexsual (sic) e ixtreiss (sic)”, anuncia a vendinha na Cardeal Arcoverde, próximo ao Largo de Pinheiros. O dono, seu Antonio, paraibano de Picuí, oferece aos clientes um leque variado de curas, que vai desde “difrúcio” e “crista baixa”, passando por “cobra mole” e “fraquejamento nos ossos”.
COBRA
Poupei-me de saber do que se trata o mal de “cobra mole”, tendo em vista a eloqüência do enunciado.
BATATA
Do Largo de Pinheiros, que nasce no entroncamento das avenidas Pedroso de Morais com a Brigadeiro Faria Lima, pouco se sabe. O popular alcunhou “da Batata”, e assim é conhecido: Largo da Batata.
PARAÍBA
A etimologia é falha nesse aspecto. Há quem diga que o nome faz jus à forma do nariz (ou seria da cabeça?) dos milhares de nordestinos que moram e/ou trabalham nas imediações. Cabeça de batata, nariz de batata. Achatada, meio disforme, vá lá. Há ainda os que alegam que ali funcionaram no passado vários armazéns onde se comercializava o tubérculo.
FOR ALL
Arroz vermelho, feijão de corda, buchada com e sem sangue, panelada, cachaça, rapadura, fumo em rolo e que tais. De tudo há no largo, entre casas de candomblé, velas e carrancas, cabarés, botecos, igrejas, papelarias e lojas de tecido. É como se, para o bem e para o mal, o bairro do Alecrim materializasse-se milagrosamente a três centenas de metros da Marginal Pinheiros, São Paulo. Por mal, entenda-se, o volume estridente, quando não desesperador, que as lojas aplicam aos aparelhos de som onde tocam bandas de forró eletrônico. Como se vê, uma epidemia nacional.
VIDA DE SOLTEIRO
Seu Totó é taxista. Nascido em Tangará, casado com Dona Rita, de Serrinha dos Pintos. Há trint’anos faz ponto em Pinheiros, pertinho do largo. “De lá a única saudade que tenho é de quando ia daqui solteiro. Só faltava afinar e cair, digo... o negócio, sabe?”. Fecho o jornal que leio no banco de trás e, perplexo, sequer consigo comentar o fato.
BAIÃO
Não muito distante do ponto de taxi o Seu Totó, no Bar do Biu, também na Cardeal Arcoverde, a placa anuncia “O melhor baião de dois do mundo”. Pergunto: melhor que o do finado Pedro Catombo, nas beiradas do Beco da Lama? Não há quem responda.
BAGAGEM
Portanto, ainda não houve ocasião para saudade. Tenho o melhor do lugar de onde vim, todos os dias: o caos do Alecrim, feijão de corda com buchada e, caso se faça necessário, erva para curar até mal de “cobra mole”.



PROSA
“Enquanto fazemos de jacas pantufas, a consciência perde o rumo junto com o suor que encharca o corpo.”
Rodrigo Levino
Dias estranhos
VERSO
“Nós, tenebrosos vagabundos de São Paulo, te ofertamos um turíbulo para uma bacanal em espuma e fúria.”
Roberto Piva
“Ode a Fernando Pessoa”

Nenhum comentário:

Postar um comentário