sábado, 7 de fevereiro de 2009

Adivinhe quem vem para o café-da-manhã: Laélio Ferreira de Melo

Datando o local da escrita em “Pirambúzios-Nísia Floresta (antiga Vila de Papari), Janeiro de 2009”, Laélio Ferreira de Melo nos concede sua visão privilegiada da vida de Othoniel Menezes, seu pai, no texto que segue, prenúncio de livro que virá, em breve, a enriquecer a incipiente vida cultural deste Ryo Grande.
Por ser muito extenso – e necessário – dividimos o artigo em duas partes, a segunda, a ser publicada na próxima segunda, 9.
Aproveito, pois, o espaço que avança, para publicar aqui alguns fragmentos do “Sertão de espinho e de flor”, obra-maior do poeta Othoniel:
“Tresmalha, o gado. É preciso/ trazê-lo, de novo, ao piso/ da pastagem de criação./ No “Sombrio”, a légua-e-meia,/ é vaqueiro que enxameia./ Vai fazer-se a apartação. // Janelas e portas, sujas/ de riscos e garatujas,/ monogramas e sinais;/ a fogo, acima, outras “marcas”:/ – são “ferros” de patriarcas,/ que não prevalecem mais.// Baié traça uma, na areia./ – É de Antão das Zangareia!,/ explica Inácio Gogó./– Num tá veno o S, cortado,/ embora munto apagado?/ – Rebêra do Seridó!”
Em poucos versos, o padrão, a explicação, da tradição de marcar o gado, a ferro e fogo, com a marca do proprietário – design que muito designer formado nas hoje ditas Artes Visuais gostaria de possuir.


O PRÍNCIPE PLEBEU E EU (I)
Feliz, primoroso, o nome deste livro: “Príncipe Plebeu”.
O biografado – fidalgo erudito e probo, senhor de rimas e de bom pensar, sempre foi o cavaleiro andante do meu sonhar; o plebeu sem gleba, sem metal de valia na coçada bolsa, continua o meu ídolo, foi meu melhor amigo, meu bom camarada; aquele xaria mediano e formoso da Rua das Laranjeiras (quanta mansidão nos olhos claros!) era e seguirá sendo, sempre, o meu Príncipe e meu Pai. Othoniel Menezes (de Melo) chamava-me de “Lelinho”. Fui caçula mimado, o benjamim, um dos dois temporãos que Maria da Conceição, quase aos quarenta anos, lhe dera, um atrás do outro, nos últimos dois anos dos conturbados anos 30. Dos filhos todos, o único canguleiro fui, parido numa casinha pequenina da Rua Ferreira Chaves, na velha Ribeira de tanta guerra, a poucos passos do “Potengi amado” e do Cais da Tavares de Lira.
Claudio Galvão, na sua faina metódica de fino artífice, pesquisador meticuloso – cujo talento já nos deu, entre outras tantas obras importantes, uma definitiva história da Modinha Norte-rio-grandense –, mais uma vez honra, ilustra, provoca e revigora o hoje combalido e cinzento panorama das letras deste nosso não muito leal rincão de Ferreira Itajubá, de Jorge Fernandes, de Esmeraldo Homem de Siqueira.
Professor, biógrafo, musicólogo, trabalhador incansável, mourejando sempre ao largo das patotas dos silogeus, das igrejinhas das calçadas dos cafés, avesso aos bares enfumaçados e ao burburinho das livrarias modernosas, Cláudio, anos a fio, vem estudando a vida e a obra do meu Príncipe Poeta.
Em 1989, produto de laboriosa investigação em jornais de 1923, organizou, anotou e publicou, pela editora Clima, do saudoso Carlos Lima, “Ara de Fogo, Abysmos, Esparsos”, com apresentação do meu tio Francisco Menezes. Em 1995, ano do centenário de nascimento do autor de “Gérmen”, Cláudio prefaciou, anotou e fez publicar, numa edição fac-similar, pela editora da UFRN, na Coleção Humanas Letras, “A Cidade Perdida, Desenho Animado e Esparsos” – livro inédito, do meu acervo pessoal, herdado do Poeta. No mesmo ano, ainda pela Universidade, lançou o “Cancioneiro de Othoniel Menezes”, um excelente song book das modinhas do celebrado boêmio de “Alice”, “Viver de Amor”, “Sereia” e outras canções seresteiras das primeiras décadas do século passado.
Claúdio Augusto Pinto Galvão é, ainda, mais recentemente, responsável pelo prefácio à 2ª. Edição do “Sertão de Espinho e de Flor” e dos registros cronológicos da vida do bardo natalense, trabalhos esses que, além do referido “Cancioneiro”, foram incluídos nas “Obras Completas”, por mim selecionadas, revistas e anotadas, com a coordenação e o apoio preciosos – e assaz pacientes, digo eu, por justiça, no ensejo! – da muito proficiente e dedicada Professora Isaura Rosado.
Há mais de 30 anos, dialogo com o velho amigo sobre Othoniel Menezes. Nas quadras mais despreocupadas, boêmias, as cavaqueiras corriam invariavelmente amparadas por taças de bons vinhos chilenos, fulvos, na minha casa, no então distante e incipiente bairro da Potilândia, onde éramos vizinhos. Essas conferências semanais recebiam, uma vez ou outra, a vigilância amena e muito discreta de Maílde Pinto, a eterna musa desse meu antigo companheiro de bancos escolares no curso de Dona Beatriz Cortês, preparatório para os exames de admissão no centenário Atheneu. [Laélio Ferreira de Melo]



PROSA
“seguramente o último dos grandes poetas que tinham no zelo pela palavra uma postura de crente”
Tarcísio Gurgel
Informação da literatura...
VERSO
“Quando eu morrer, palpitará, disperso,
talvez, algum pesar, pela cidade...”
Othoniel Menezes
“Viver de amor”

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