segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Um beijo que ousa dizer seu nome

Na verdade não é apenas um, mas dois beijos gay que estão por chegar nas telas dos cinemas. E, não, não são com atores desconhecidos, do circuito independente ou do cinema “cult” europeu. Sinal dos tempos, com um representante das muitas minorias, um negro (“afro-descendente”) na Casa Branca.
O primeiro beijo, bacio, beso, kiss, acontece entre Jim Carrey (“O Máscara”) e Ewan McGregor (“Trainspotting”).
O segundo, entre Sean Penn (“Sobre meninos e lobos”) e James Franco (o filho do Duende Verde nos três “Homem-Aranha”).
“Me sinto feliz por poder contribuir com a campanha pela legalização do casamento gay”, disse Jim Carrey, durante o Sundance Festival, na semana que passou – acreditando nos efeitos do filme.
Já Sean Penn não falou muita coisa. Os clássicos tablóides inventaram que sua mulher, a atriz Robin Wrigt Penn (“A lenda de Beowulf”) tinha ficado enciumada com algumas cenas entre o marido e Franco.
Penn já foi casado com Madonna e chegou a dar entrada no divórcio com Robin no final de 2007, mas o casal anulou o processo no ano passado.
Em lugar do ator quem está falando muito é o diretor, Gus Van Sant – “Para um heterossexual como Sean, não deve ter sido fácil”, afirmou Van Sant, que, como diretor, já abordou em muitos outros filmes a temática homossex.
Carrey faz o papel de um gay apaixonado pelo personagem de Ewan McGregor, em “I love you Philip Morris”. O filme – inspirado na história real de um policial texano que se apaixona por um preso – custou a bagatela de 14 milhões de dólares e exibe, pois, um beijo entre os dois atores.
Para o ator, a cena é um exemplo de evolução: “Assim como agora temos um presidente afro-americano, é normal que eu beije um homem”, disse Carrey.
Também o personagem de Penn é real – e mais-que-famoso: Harvey Milk (1930-1978) foi o primeiro político declaradamente homossexual da história política americana. Tão real que terminou assassinado.
A crítica, inclusive, tem sublinhado a importância do filme (“Milk”, como o sobrenome do político) ao contar mais um dos muitos homicídios políticos da história americana – de Abraham Lincoln a John Kennedy, passando por Martin Luther King e Malcolm X. Disse Van Sant: “Sim, fazer política no meu país é perigoso – especialmente se se é um pioneiro: a própria ação é vista como um desafio. Milk sabia disso, e esperava que o seu sacrifício, caso fosse assassinado, servisse a qualquer coisa. Já nos dias de hoje, se conhece melhor os perigos de ser líder e reformista, e por isso as medidas de segurança são muito mais eficazes”.
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BIZARRE
Daí que, aproveitem para ver ou rever um dos melhores filmes de Van Sant, o imperdível “Garotos de programa” (1991), última aparição na telas da lenda cult River Phoenix – num triângulo amoroso com Keanu Reeves e Chiara Caselli.
LOVE
O clássico tema, aliás, retomado por estes dias pelo enfant terrible Rodrigo Levino – que, em Sampa, escreve uma peça teatral inspirada em ritos de passagem juvenis e permeada por ícones da cultura pop.
TRIANGLE
Tema triangular presente também em “Uma garota dividida em duas” (2007), de Claude Chabrol, lançado agora em DVD.
LIVROS
Entre os lançamentos literários para este janeiro, a coluna destaca “Pornografia”, do polonês Witold Gombrowicz (1904-1969), dono de um estilo original e único, elíptico e cheio de humor refinado.
Já para os inícios de fevereiro, Theo G. Alves programa seu “pequeno manual prático de coisas inúteis” para o terceiro dia do mês, no Nalva Melo Salão Café, Ribeyra.
CONTRA O RELÓGIO
A Fundação Zé Augusto se bole nestes últimos anos de Governo de Todos, provavelmente acossada pelo efeito municipal Dácio Galvão-Cesar Revorêdo: saiu um, entrou outro, mostrou serviço um, começa a mostrar serviço o outro, enquanto o prédio da Rua Jundiaí mergulhou numa solidão e ostracismos espantosos.
O presidente Crispiniano Neto, pois, se apóia numa série de novos projetos, entre eles parcerias com o DN Educação, para duas séries de fascículos: uma espécie de Atlas Cultural e outro sobre personalidades da cultura deste Ryo Grande.
E, no rastro do ano da França no Brasil (neste Zero-Nove), a reedição do livro de Antônio Bento, “Manet no Brasil”, que traz no subtítulo: “estudo comemorativo da passagem do centenário da visita do pintor ao Rio de Janeiro – 1849-1949”.
TIC-TAC
Resta saber se tempo haverá: há rumores que dão por certo o que antes parecia mero bruaá: o retorno de Dácio Galvão à gestão cultural – agora em chave estadual – para depois do carnaval. Tudo sob os augúrios e bênçãos de Dona Wilma.
EM TEMPO
Quem foi o gênio do marketing (ou do mal) que mandou, semana que passou, a neo-prefeita-eleita, literalmente, para o fundo do poço?



PROSA
“Talvez eu tenha sido escolhido para ensinar-lhe algo bem mais maravilhoso – o significado do sofrimento e toda a sua beleza.”
Oscar Wilde
De profundis
VERSO
“Expulso o noivo da cama e fico com a noiva,
Eu a aperto a noite inteira com minhas coxas e lábios.”
Walt Whitman
“Folhas de relva”

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