quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

O marxismo tropical e as sementes de dunas

“O Brasil está repleto de florestas e todo tipo de plantas, flores e árvores exóticas. Mas até que o paisagista brasileiro Roberto Burle Marx viesse para domar e moldar a flora exuberante de seu país, seus conterrâneos tinham desdém por riquezas naturais que, freqüentemente de forma literal, floresciam em seus quintais.”
O texto acima foi escrito por Larry Rohter, jornalista americano, no The New York Times, semana que passou.
Rohter é aquele, então correspondente em solo verdamarelo, que escreveu que o nosso presidente Lula da Silva era chegado numa cerveja. Num uísque. Numa caninha. “Brazilian Leader's Tippling Becomes National Concern” – exagerou na edição de 9 de maio de 2004. Não importa a tradução/traição – “Hábito de bebericar do presidente vira preocupação nacional”, na tradução de uns, ou, “Gosto do dirigente brasileiro pela bebida torna-se preocupação nacional”, na traição de outros – deu uma confusão do Cão.
O americano acabou sem a renovação do seu visto e voltou pra terra que o pariu. Mas como o mundo é redondo, cruzou novamente a linha do Equador para o lançamento do seu livro, intitulado, pois, “Deu no New York Times”.
Imagino que, agora de férias, aproveitou para cobrir a pátria amada gentil.
Daí a matéria sobre exposição dedicada ao trabalho do paisagista. No Museu do Paço Imperial, Guanabara, até março deste ano, quando comemora-se o centenário do nascimento do nosso Marx, não o Karl, mas o Burle.
O que me faz sair ricocheteando os assuntos – Rohter-Cachaça-Marx – e pensar na mania que adquirimos de uns tempos pra cá de plantar grama em tudo que é rincão. O “nós”, sujeito oculto da frase anterior, somos nós mesmos, você, eu, potyguares de berço ou adoção.
Com o supersecretário Raniere Barbosa, hoje edil, o negócio atingiu as raias da perfeição aparente, em nível de administração municipal – isso nos canteiros onde circula os tais formadores de opinião. Raniere ainda botou umas luzinhas iluminando as plantas. Uma maravilha, seria, se fosse estendida a ação aos quatro pontos cardeais dentro dos limites da urbe.
ALVACENTAS
Mas, enfim, sempre me perguntei se todo esse verde rasteiro não era muito desproposital, numa cidade que se vangloria de ser a Cidade das Dunas, cantada e decantada por muita gente, a começar por Ferreira Itajubá, o primeiro a perceber que o Ryo Grande não era a França, o primeiro a enxergar a paisagem potiguar e a cantá-la em seus versos – “Natal é um vale branco entre coqueiros”, resumia em “Terra mater”, o branco referindo-se, claro, às nossas dunas.
Em 1975, Newton Navarro – o carinha que empresta seu nome àquela ponte – escrevia: “Do lado de lá, o dorso branco de praias e morros, manchas vermelho-azuis do casario irregular.”
Em 1929, Palmyra Wanderley citava as “dunas brancas que avisto ao longe” e os “montes claros, brancos demais”.
Mesma época em que Jorge Fernandes se trepava “nos morros de areia torrada de sol”.
Um século e tanto antes, em 1810, o português filho de ascendência inglesa Henry Koster viaja de Pernambuco ao Ryo Grande – de Goianinha a Natal a odisséia torna-se particularmente difícil: “As dunas mudam sempre de posição e forma. O vento violento levanta as areias em turbilhão, tornando a passagem perigosa para os viajantes. É areia muito fina, branca, e os nossos cavalos nela afundavam as pernas a cada passo.”
No mesmo século, mas lá pro seu final, em que Magdalena Antunes, fazendo a viagem ao contrário (ia estudar em Recife), comparava as dunas “alvacentas” que cercavam o Potengi com “pirâmides de sal”.
E por aí vai – quase todos, escritores e poetas, saudando as dunas (que Nei Leandro as quis vermelhas para celebrar a revolução).
Mas o que eu gosto mesmo é do bilhete de Oswaldo Lamartine, exilado no Rio de Janeiro, encaminhado a Vicente Serejo, em fevereiro de 1992: “Mande urgente semente de dunas que eu quero plantar no meu sítio.”
*
FLORES
Já há quase exatos 80 anos – em crônica de 7 de fevereiro de 1929 – Cascudo reclamava: “Natal é uma cidade sem flores.” Mas nem sempre tinha sido assim: “Lembro-me de Natal cheia de jardins. Uma quase obrigação de cultivar os palmos de terrinha que se estendiam depois do portão.”
Hoje, quede as casas? quede o portão? quede o jardim?
FACHO
É hoje, das 18h às 21h, no shopping Cidade Jardim, o lançamento do pré-carnaval do “movimento cultural” [sic] Aratu no Facho.
A festa acontece no sábado, 14 de fevereiro, em Barra de Tabatinga, e espera reunir 50 mil almas. O inferno na Terra, enfim.
LATINO
É hoje, também, que o extinto Salsa Bar (que recebeu até o metrossexual David Beckham) inaugura sua programação de caipifrutas e música latina para dançar, sempre às quartas, no Budda Pub, Ponta Negra.
VAPOR BARATO
“As pessoas apodrecendo nas ante-salas dos hospitais, a saúde em frangalhos e o Carnaval não pode estar a todo vapor” – de Cesar Revorêdo, no portal Nominuto.
Mas, vem cá: e quando foi diferente?



PROSA
“O tempo é regresso.”
Newton Navarro
Do outro lado do rio...
VERSO
“Existe além da sombra
o ter sido sombra”
Sanderson Negreiros
“As conversações”

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