quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

O armário

Vou lá no velho Antônio Houaiss, sinônimo de dicionário como uma vez foi o Aurélio (Buarque de Holanda): não demoro e encontro logo o que procuro, página 290, finalzinho da primeira coluna, verbete “armário”. A seguir das definições encontra-se a expressão “sair do armário” – “informalmente”, explica o dicionarista e sua equipe, significa “assumir a própria homossexualidade”.
A origem, desconheço, nem o dicionário explica. No armário ficaria melhor escondido o famoso pé-de-lã, ou seja, o amante, classicamente heterossexual. A propósito, o Houaiss não fala em pé-de-lã – tem pé-de-chumbo e outros pés-de, mas nada do pé-de-lã, que se auto-explica enquanto termo pelo andar macio e silencioso característico dos que exercitam a traição alheia.
Voltando pro armário – não eu, mas a crônica – vou pensando cá com meus botões em quantos armários ainda persistem com suas portas fechadas por estas ribeyras do Putigy. Especialmente no terreiro da política. Ora, ora, ora, o assunto é delicado, sei – e não exatamente pelo termo associado àqueles que amam o mesmo sexo: fulano de tal é muito delicado, diz-se, quase a meia-voz. E súbito o pai fica preocupadíssimo, especialmente se o filho for varão e, invés da bola, anda com a boneca debaixo do braço.
(Já para as fêmeas acontece o contrário: invés da delicadeza, a grosseria, o andar másculo estereotipado.)
Delicado porque as almas, puras ou pias, logo apressam-se em dizer: Que é que tem a ver? Não se legisla ou se governa ou se administra com o sexo.
Isso, claro, quando a carapuça lhes serve. Quando não, é um tal de falatório sobre atributos preconceituosamente pejorativos, que não está no gibi, como antes se dizia, quando havia ainda gibis.
Pois, certo, certo, que não interessa à política (e à quase nada) as opções preferenciais e sexuais de ninguém.
Mas o fato, fato é, que andei observando um político em destaque semana que passou. Um desses de quem se fala coisas impublicáveis – ou eram dois? E logo me lembrei que durante a última campanha o marketing de um dos candidatos optou por um, digamos, ataque cruzado: em vez de se criticar abertamente a opção sexual do adversário, enfatizou-se o aspecto que, no imaginário popular, lhe emprestaria um tom de normalidade, em detrimento do outro, ausente – aquele de ter filhos.
Tenho filhos, o outro não. Posso, o outro não. Sou normal, o outro não.
Mas, os tempos mudam, e com eles mudam as pessoas. Hoje já há aqueles que não necessitam escancarar nenhuma porta e sair aos brados proclamando sua saída. Afinal, o armário existe apenas para quem, por falta de coragem própria ou temor, insiste em nele se esconder. Nenhum problema – feio mesmo é, de dentro do próprio armário falar do armário alheio.
*
TABU
Noves fora o tabu vigente, a tal opinião pública reage, vez por outra, na contramão do esperado: Dona Marta Suplicy relaxou e não gozou eleitoralmente ao questionar seu opositor: “É casado? Tem filhos?”.
(Notem como damos nomes aos bois quando o pasto é longínquo.)
TABU II
No caso de Kassab o tiro de Marta saiu pela culatra – se é que não estou sendo politicamente incorreto.
BATISMO
Bem que a neo-prefeita-eleita quis – mas o primeiro bebê potyguar de 2009 nasceu varão.
Assim sendo, não pôde receber o nome mágico: Micarla.
Hiarlisson David, o nome do boy.
BOM PARTO
Mas, para sorte da neo-prefeita-eleita, Hiarlisson não viu a luz da nova maternidade “de Carlos Eduardo”, Zona Norte desta Capital: nasceu, aos primeiros 18 minutos de 2009, na de Felipe Camarão, Zona Oeste.
MULHER
Em se falando de mulher, filhos e tal, amanhã tem mais um evento cultural na City: “Mulher, Natureza e Flor”, título da exposição da Galeria de Artes do Espaço Orla Cultural, no Shopping Orla Sul, chama ainda mais atenção pela presença de uma das três artistas – a senhora Miriam de Sousa.
Que vem a ser a mãe da neo-prefeita-eleita. E que se inspirou nas três filhas (Micarla, Rosy e Priscila) para pintar 11 telas.
NATUREZA
Pego carona no release, pra não dizer que estou mentindo ou que mal falei de flores: “Os vários estágios da expressão feminina são abordados nas telas de Miriam de Souza que reproduz em seus trabalhos, a beleza feminina, utilizando muitas cores, brilho, verniz prateado e dourado, além de cristais, para retratar a mulher grávida; mulher mãe; mulher borboleta; a caminhada da mulher em busca dos seus objetivos, metas e sonhos; mulher na lua; mulher sensual, etc.”
FLOR
A coletiva – que além de Dona Miriam conta com a participação das irmãs Miriam Rocha e Lúcia Rocha (que se inspiraram em rosas e na natureza), abre amanhã às 19h, e vai até o fim do mês.



PROSA
“Só o que é superior e superiormente concebido pode alimentar o amor, mas qualquer coisa alimentará o ódio.”
Oscar Wilde
De profundis
VERSO
“A sua mente enfermou-se de lascívia.
Os beijos na boca lhe ficaram.”
Kaváfis
“No 25º ano...”

Nenhum comentário:

Postar um comentário