sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Da (in)utilidade (in)conveniente da barriga

Às vezes, muito raramente, me vem de fazer o que agora estou fazendo: apalpar minha barriga. Nossa senhora mãe do céu! Se a protuberância abdominal é sinal de prosperidade, estou rico e não sabia.
Barriga é um troço pra lá de esquisito. Devia ser como amígdala ou alguma dessas coisas que todos temos, mas que são pra lá de inúteis. Dentes de siso, também. O baço – ou me engano? Não, não, não é o baço: é o apêndice.
Enfim. Noutra metáfora, desta vez gramatical, o trema, agora declaradamente inútil. Alguém me perguntou, dia desses, se eu usava trema. Eu achei que usava, respondi na bucha: “Sim, claro.” Desconfio que estava mentindo: faz tempo que não escrevo textos longos usando caneta e papel. Vai tudo pro computador mesmo – e como o bicho já vem com um corretor ortográfico o trema se impõe e sobrepõe (principalmente sobre o “u”) sem pedir licença. Experimente digitar, por exemplo, “qüinqüênio”, sem acentuar nenhuma letra – de repente, como torradas numa torradeira, saltam dois tremas sobre os “us” mais um chapeuzinho sobre o “e”.
Enfim. (E essa mania de escrever “enfim”?) Enfim. Insisto. Mas eu falava de barriga, não qualquer barriga, mas da minha barriga. Coisinha chata é barriga. Principalmente quando evidente. Seja em homem, seja em mulher, embora pros primeiros aparentemente seja mais aceitável. Daí tantas mulheres sonhando com uma lipo.
Acho que depois dos vinte, a minha barriga deu o ar de sua desgraça e nunca mais sumiu. Enxerida, inconveniente, sempre querendo aparecer. Não é tão grande, nem tão próspera, por isso, nunca de verdade me incomodou (embora me incomode a falta de prosperidade). Aliás, houve um tempo em que sumiu. Sumiu mesmo, escafedeu-se. Deu até lugar praquelas marcas na altura da bacia, coisa que a gente só vê em surfista ou modelo fotográfico. Eu, lógico, fiquei todo animado. Guardo uma foto – só não sei onde – onde apareço de sunga, mais esbelto que um nadador profissional. Ou seja: minha barriga sarada não chega nem a ser um retrato na parede.
Dizem que os tais abdominais – um dos exercícios mais antigos que se tem notícia – nada resolvem. O lance é fechar a boca e tirar a bunda da cadeira. Cerveja, então, é palavra tabu. Feijoada? Vixi. Nem dá tempo de catucar um grãozinho preto entre os dentes e o abdômen já inflou feito balão de São João.
Mas, no final das contas, é simpática a tal da barriga. E nem de todo inútil: estou chegando ao fim da página, cumprindo com minha cota diária pra esta coluna, numa viagem em torno dela. E em torno, claro, do umbigo, que ainda faltam umas cinco ou seis linhas pra cruzar a linha de chegada e completar o resto com umas notinhas e duas citações, uma para o “Prosa” outra para o “Verso”.
Então, falemos do umbigo.
Troço esquisito, o umbigo. Barroquinha que serve apenas pra acumular sujeira e cutucar com o dedo. Tem uma modelo internacional que recentemente descobriu-se ser desprovida do umbigo. Tem sinônimo pra umbigo? Deve ter. Mas estou chegando lá, última linha, vamos deixar pra outro dia, quando, novamente, me vir, sem assunto, apalpando a barriga.
*
LINFA
Agora é oficial: os planos de saúde são obrigados a proporcionar a seus clientes o tratamento de drenagem linfática, desde que haja indicação terapêutica ou recomendação médica.
A decisão partiu do Tribunal Regional Federal de Sampa – mas, atenção: quando os motivos forem meramente estéticos a conta é da responsabilidade do paciente.
PÉ NA BOLA
O jornal italiano La Repubblica está com uma enquete em sua página na rede: “Em conseqüência da não-extradição de Cesare Battisti pelo governo brasileiro, os ministros La Russa e Meloni [Defesa e Juventude, respectivamente] propõem que a seleção italiana de futebol não jogue a partida Itália-Brasil programada para o 10 de fevereiro em Londres. Na sua opinião a) É justo não jogar contra o Brasil; b) Itália e Brasil devem jogar normalmente; c) Não sabe.
Até a tarde de ontem mais de 17 mil italianos tinham votado – 58% deles queriam o jogo, 41% não.
RAIOS
Amanhã a festa no Circo da Folia promete ir até o sol raiar: Exaltasamba e Cavaleiros do Forró encerram a temporada de verão Zero-Nove. Amém.
DA HORA
É em torno do relógio do Sesc os dois ensaios-gerais da Banda Antigos Carnavais, antes da saída oficial, dia 6 de fevereiro.
O primeiro deles hoje, 19h, com a participação do Maestro Rezende, ex-integrante da Banda de Ipanema e Cordão do Bola Preta.
Os jornalistas Leonardo Sodré e Elizabeth Venturini são o padrinho e a madrinha da banda.
ANIMAÇÃO DO FUXICO
Já as três madrinhas do tradicional bloco carnavalesco As Kengas serão escolhidas durante festa-feijoada, próximo domingo (1º de fevereiro) no estacionamento em frente ao Bardallos.
Com atrações musicais dos grupos Perfume de Gardênia e Nova Sensação e da cantora Khrystal.
O tema deste ano é “As Kengas no fuxico”.
Fashion, pois.



PROSA
“Deitado na palha, nu como vim ao mundo, eu conheci a paz”
Raduan Nassar
Lavoura arcaica
VERSO
“o zíper me desenvolve
um medo intenso às estrelas”
Diva Cunha
“golas me põem...”

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