quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Juan Antonio Maria Elena Barcelona

O sobrescrito não é nenhum woodyallenmaníaco, mas “Vicky Cristina Barcelona” é o menos autoral dos filmes do diretor nova-iorquino – e aqui, talvez, esteja a explicação: filmado na Espanha, entre Barcelona e Oviedo, fica difícil a identificação com um dos temas preferidos do diretor, qual seja a relação umbilical dos habitantes com sua cidade natal (umbilical e neurótica, claro).
Besteira, me dirão os cinéfilos e connaisseurs: Allen vem filmando fora da América para baratear os custos de produção e viabilizar o que sabe fazer melhor. Já tinha partido pra Londres, quando de “Match point” (2005), que trazia a loiraça Scarlett Johansson, uma das protagonistas de “Vicky Cristina Barcelona”.
Johansson é Cristina, Rebecca Hall é Vicky, e Barcelona é Barcelona – mas falta o principal molho do filme em seu título: Maria Elena, encarnada por uma Penélope Cruz com ares de Amy Winehouse, e que dá um banho de interpretação nas duas americanas (Hall, na verdade, é inglesa – as personagens é que são americanas).
A historinha é banal: duas amigas viajam para Barcelona, uma para estudar a cultura catalã, a outra pra nada fazer, a não ser buscar sua própria identidade “artística”. Logo conhecem Juan Antonio, estereótipo do latin lover no imaginário da mulher americana parida em Hollywood – e que Javier Bardem se esforça para emprestar algo a mais que o roteiro frouxo não conseguiria se o ator fosse outro.
Instala-se então o previsível triângulo amoroso, explicitado e proposto pelo sangue quente do espanhol, mas não aceito pela americana mais racional, a noivinha Vicky.
A reentrada de Maria Elena, ex de Juan Antonio, restaura o vértice amoroso, entre idas e vindas na história e nos relacionamentos (isso, sim, típico de Allen), mas fracamente costuradas pela visão de cartão-postal do país estrangeiro.
Allen parece meio perdido na direção, citando visualmente os lugares-comuns Gaudí, Miró, e a imagem de poetas camponeses reclusos em casinhas de sonho (o que aproxima o diretor perigosamente da água-com-açúcar de filmes como “Sob o sol da Toscana”, recentemente, e “Uma janela para o amor”, em décadas passadas).
Tão perdido quanto as turistas americanas, inseguras em se entregar às paixões solares que a cultura mediterrânea parece inspirar eternamente entre os súditos do império americano, Allen coloca muito pouco de si no filme – a exceção de alguns diálogos iniciais entre Vicky e Cristina.
No final, literalmente, quem se dá bem são os personagens hispânicos e seus atores – Bardem, seguro de si e recuperado da peruca-canastrona de “Onde os fracos não têm vez”; e Penélope Cruz, que dá a impressão de estar sempre improvisando e melhorando o roteiro com seus cacos.
Pra concluir, esquecendo a assinatura em letras ilegíveis de Woody Allen, vale a pena assistir.
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COICE
“Há exatamente um ano atrás, uma secretaria de uma grande empresa do RN com forte presença nacional, ligou para mim, pedindo o show de Khrystal para sua festa de congraçamento, e expliquei à mulher que Khrystal faria o show dela como tem feito pelo Brasil. Ela perguntou se não dava para Khrystal fazer uma hora de axé. Eu, educado igual a um coice de jumento, disse a ela que ligasse para Ivete, Claudia Leitte ou Bel, que elescantariam axé a noite toda. Ela desligou o telefone e acho que desistiu.” – Zé Dias, produtor cultural, marido e devoto de, adivinhem, Khrystal, em email festejando o sucesso da cantora e de Isaque Galvão na festa de encerramento dos trabalhos da OAB, em Brasília, segunda passada.
BOA MORTE
“É com pesar que a família Carlos Maia, comunica o falecimento da matriarca Fausta Carlos Maia – mãe Fausta – 108 anos, como carinhosamente era conhecida.” – Nelly Carlos Maia, em email divulgado ontem, mesmo dia do sepultamento, no cemitério público de Almino Afonso.
E completa: “Mãe Fausta nasceu no dia 19 de dezembro de 1899 e no próximo dia 19 completaria 109 anos. Era uma das mulheres mais velhas do estado. Teve oito filhos (quatro vivos), centenas de netos e dezenas de bisnetos e tataranetos, que se reuniam anualmente em sua Fazenda Oriente, para comemorar mais um ano de vida da matriarca. Filhos, netos, bisnetos e tataranetos estão consternados com a notícia, mas tranqüilos, pois ela faleceu em casa, em paz, na fazenda onde morou praticamente a vida inteira, no final da tarde desta segunda-feira.”
DONTCRAIFORMI
Sem dúvida, a presença de tantos nativos representando o Arraial de Palumbo no show bonaerense de Madonna, terminou ofuscando o brilho do Carnatal: foram as celebridades que faltaram à festa.
Bom, bom: só assim sabemos que temos um embaixador pau-ferrense na pátria do Tango (o maitre do restaurante Cabaña Las Lila – esse sim uma celebridade).
BOLLYWOOD
Hoje tem “The terrorist” aos pés da estátua de Augusto Severo, praça homônima, ribeyras do Putigy, 19h. Entre as boas recomendações, o fato de ser “o primeiro filme indiano a ser exibido no Sundance Film Festival”.



PROSA
“Mulheres amam acordar pra olhar que horas são, deve ser um convênio com Greenwich.”
Alex Nascimento
A última estação
VERSO
“Leu em restaurante de Madri:
‘Hemingway nunca comeu aqui’?”
Luís Carlos Guimarães
“Adivinhas”

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