quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Último ENE?

A pergunta não é de todo desprovida de senso, razão ou sentimento.
Chegamos ao terceiro Encontro Natalense de Escritores – e, sim, podemos nos orgulhar, sim, na primeira pessoa do plural: embora o Ene nem de longe tenha realmente envolvido de um modo intenso esta Capital e seus habitantes como efetivamente podia e deveria, é um evento que, hoje, mostra-se essencial, imprescindível, obrigatório. Não se pode, hoje, insisto, repito, pensar na Capital do Ryo Grande sem o seu Ene anual.
As palmas de praxe vão, claro, para quem idealizou e botou o bloco na rua – em especial o prefeito Carlos Eduardo Alves e o presidente da Funcart Dácio Galvão, além de toda uma equipe etc.
As vaias, idem – que de apupos também se constrói a tal cidadania.
Como as palmas e os tapinhas nas costas já têm mãos mais que suficientes para a entronização, vamos às segundas.
Uuuuuh, para o já citado no segundo parágrafo: o evento mobilizou uma ínfima parte da Capital. Seria querer demais que tivesse a mesma empolgação de um Carnatal? Seria, claro. Mas, que bom, querer demais. Existem saídas e demandas, por exemplo: onde estavam os alunos (e professores) da rede municipal de ensino nos anos passados? Só com sua presença poder-se-ia facilmente lotar a tenda armada no Largo da Rua Chile (esse ano, o evento se muda para a Praça Augusto Severo).
Aliás, só a existência deles justificaria um evento inteiro, pois, a eles dedicado. Ou, ao menos, uma programação específica dentro do evento maior.
Afinal, pra quem é feito o Ene? Pra meia dúzia de intelectuais da City? Ou pra turma da noite, doida pra assistir um showzinho grátis? É a mesma crítica que se faz à Brouhaha: belas edições, bons textos, mas distribuição incipiente. Pior: dificultosa. (Uma maravilha se comparada à eterna moribunda Preá – uuuuuh, pra Fundação também.)
Ou: os tais shows. Por que limitar para mil pessoas o que 10 mil poderiam assistir com maior prazer, conforto e vontade, e, com a mesma despesa dos cofres públicos? (Os números são ilustrativos, mas é o que aconteceu nas edições anteriores, e, parece, será corrigido este ano.)
A secretaria municipal de educação é apenas uma das secretarias que poderiam interagir melhor com a programação. A secretaria de turismo, por exemplo, poderia entrar com mais verbas para trazer autores mais – aspas – importantes, alguns internacionais, já que nos ufanamos de ser destino da Gringolândia – o que, óbvio, renderia dividendos e a tal publicidade grátis.
António Lobo Antunes, Zé Saramago (portugueses, com certeza), Jostein Gaarder (Noruega), Enrique Vila-Matas (Espanha), Alessandro Baricco (Itália), são alguns dos autores que poderiam ser convidados – cito de cabeça, pensando apenas nos países que mais turistas mandaram pra cá em outros carnavais.
No final, permanece a questão que intitula esta coluna. Que só a neo-prefeita-eleita poderá responder. Seria bom se ela fosse, ao menos um dia, uma tarde, quem sabe pra ouvir e ver o ex-titã Arnaldo Antunes. Aquele cujos versos de “Cultura” terminam assim: “O potrinho é o bezerro da égua/ A batalha é o começo da trégua/ Papagaio é um dragão miniatura/ Bactérias num meio é cultura”.
*
AUSÊNCIAS
Festival de ausências este ano: Zé Sarney não vem. Murilo Melo Filho parece que tá doente. Alex Nascimento nem chegou a ser convidado, pra poder, educadamente, recusar – embora seu nome tenha sido anunciado (autor “local” é assim mesmo: escala-se primeiro pra depois convidar, na certeza de que todos querem um lugar à mesa). Boatos (ou não) anunciam que Cony não vem... Como a turma responsável pela divulgação do Ene parece que estava de férias e só voltou ontem ao batente, espera-se o fim do evento pra saber quem realmente vai e foi.
ABRE ALAS
Chico Mattoso, Silvério Pessoa, Nicolas Behr e Carlos Fialho abrem as alas do Ene-zero-oito.
Mattoso foi editor da revista Ácaro e já escreveu novelas para a Globo. Pessoa venceu o prêmio TIM 2006 e é figurinha fácil em festivais europeus. Behr é da geração mimeógrafo e escreveu uns versinhos simpáticos (“ninguém me ama/ ninguém me quer// ninguém me chama/ nicolas behr”). E, por último, mas nem por isso menos importante, Fialho é um dos fundadores dos Jovens Escribas e teima em ser publicitário.
Pra ampliar os perfis dos quatro, compareçam, hoje, logo mais às quatro da tarde, ribeyras do Putigy.
ALAS
Na seqüência, mesas com Antônio Carlos Secchin, Arnaldo Antunes, Diógenes da Cunha Lima Murilo Melo Filho (?) e lançamento dos livros “Vozes e reflexões, anais do II Encontro Natalense de Escritores” (organizado por Moacy Cirne) e “Panorama da poesia norte-rio-grandense” (reedição do clássico de Rômulo Wanderley, safra 1965).
Ah! tem lançamento também de CD, no caso de Xexéu, cordelista e tal.
FECHA ALAS
Antunes, Arnaldo, e banda, detonam som na praça (Severo, Augusto), no incrível horário das 10h10 (da noite).


PROSA
“Os escritores mortos são muito melhores do que os vivos porque não escrevem mais.”
Millôr Fernandes
Millôr definitivo
VERSO
“Tem que dançar a dança que a nossa dor balança o chão da praça”
Fausto Nilo
“Chão da praça”

Nenhum comentário:

Postar um comentário